Desafios da caminhada sinodal marcam a homilia da abertura do ano pastoral, a última a que presidirá nos Açores
O 39º bispo de Angra, agora nomeado bispo de Viana do Castelo, presidiu pela última vez à abertura do ano pastoral nos Açores e sublinhou o “duplo desafio” que os diocesanos têm pela frente, num ano em que se cruzam a caminhada sinodal diocesana e a primeira fase de trabalhos do Sínodo convocado por Roma.
“Perante este desafio diocesano e agora também do Papa Francisco, não poderemos deixar de nos interrogar” afirma o administrador diocesano na homilia da missa a que presidiu este domingo na Sé de Angra.
“É um ano pastoral que apesar da mudança de pastor diocesano, se apresenta muito rico e pleno de desafios. Assim nós saibamos corresponder-lhes”, afirmou ao destacar que o momento é “um convite à purificação permanente dos nossos critérios e objetivos”.
“Imersos no meio do mundo, somos chamados a testemunhar perante a cultura em que vivemos a renovação pessoal e comunitária que nos vem da nossa imersão no mistério Pascal de Jesus de Nazaré”, afirmou.
“Nesta celebração com a qual damos inicio ao novo ano pastoral que a nível da nossa diocese sente o duplo desafio: primeiro a dar continuidade à caminhada sinodal que já nos acompanha e dinamiza há três anos; o segundo, a introduzir e corresponder ao apelo do Papa Francisco em inserirmos nesta mesma caminhada sinodal o dinamismo universal que se quer para toda a Igreja ao apresentar o próximo sínodo dos Bispos que versará sobre «sinodalidade na Igreja: comunhão, participação e missão»”.
Durante a homilia, D. João Lavrador recorreu por diversas vezes a citações do papa Francisco, na abertura da primeira fase do Sínodo em Roma, no passado sábado, dia 4 de outubro.
O prelado desafiou os cristãos diocesanos a “participar ativamente” neste caminho agora proposto pelo Papa, no sentido da edificação de uma “igreja de rosto sinodal”.
“Urge caminhar em conjunto” disse, apelando a “todos os baptizados” para que “participem ativamente na vida e na missão da comunidade cristã. Ninguém pode ficar de fora”. E deixa um itinerário que passa pela “escuta”, pelo “discernimento”, pelo “diálogo” e pelo “encontro”.
“Escuta de Deus, escuta de todos os membros da comunidade e mesmo a escuta dos que estão fora da Igreja mas interessados na construção do Reino de Deus” refere.
“A sinodalidade deve provocar, à luz do Espirito Santo, um verdadeiro processo de discernimento, a verdadeira crise que conduz à ousadia de caminhos novos, a questionar, a reconsiderar, talvez a cometer erros mas sobretudo a aprender com eles, e, a ter esperança apesar das dificuldades”, esclareceu.
O prelado lembrou as palavras do Papa Francisco sobre o excesso de clericalismo que a Igreja por vezes ainda vive para sublinhar que se trata de uma “perversão”.
“Somos uma Igreja peregrina na qual os pastores caminham com o povo. Como afirma o Santo Padre, ora à frente, ora no meio, ora atrás”, afirmou.
“Igreja em caminhada sinodal, com rosto de Povo de Deus, cujos membros são dignos pela sua condição de baptizados e cada um participante a seu modo da missão da Igreja, é também uma comunidade que dá espaço ao diálogo sobre as suas misérias, das suas dificuldades e que acolhe preferencialmente os mais excluídos e marginalizados da sociedade”, frisou.
“Ao longo deste ano pastoral, convocando todos os baptizados e mesmo pessoas de boa vontade, iremos continuar a caminhada sinodal reflectindo sobre a Igreja missionária e Igreja pobre com os pobres; incluiremos a reflexão que nos chega de preparação para o Sinodo dos Bispos de 2023; integraremos os jovens que preparam as Jornadas mundiais de Lisboa/2023” disse ainda.
Aliás, D. João lavrador deixou mesmo um repto para os mais novos: “Dirijo-me a vós jovens! Preparai bem as Jornadas Mundiais de Lisboa/2023, abraçai todos os jovens da vossa convivência para lhes manifestar na alegria o amor de Jesus de Nazaré e implicai-vos na renovação das vossas comunidades cristãs. Vós não sois só o futuro da Igreja mas sim já o seu presente!”.
E, concluiu: “A caminhada sinodal exige a vossa participação activa na vida e na missão da Igreja”.
As dioceses portuguesas vão assinalar, a partir deste domingo, a fase inicial de consulta e mobilização das comunidades católicas no processo sinodal convocado pelo Papa, que decorre até 2023.
A auscultação das Igrejas locais é uma etapa inédita, desenhada pelo Papa Francisco, que pediu a cada bispo que replicasse a celebração de abertura que decorreu no Vaticano, a 9 e 10 de outubro, com uma cerimónia diocesana.
A Santa Sé pediu ainda que cada diocese tenha “uma pessoa ou uma equipa de contacto para liderar a fase local de escuta”.
O processo terminará em 2023.
A celebração deste domingo foi animada pelo Grupo de Jovens da Ribeirinha e pelo Seminário Episcopal de Angra.