D.Armando Esteves Domingues espera que a Páscoa desperte “um amor mais criativo”, com “novas formas” de apoio e proteção aos mais frágeis

 

Foto: Igreja Açores/HS

“A Palavra de Cristo é a única capaz de ir aos lugares de morte para dar vida nova e definitiva”- bispo de Angra, na Missa de Páscoa

O bispo de Angra apelou este domingo de Páscoa ao despertar de “um amor mais criativo” que proporcione  um novo recomeço a quem ainda não conseguiu vencer as trevas.

“Desejo que esta Páscoa nos traga um amor mais criativo. Ser um povo novo nascido da Páscoa, significa procurar formas novas que complementem as responsabilidades de governos e instituições na proteção dos mais frágeis” afirmou D. Armando Esteves Domingues na Missa de Páscoa, esta manhã na Sé de Angra, confiando este desafio sobretudo aos “jovens mais preparados para a novidade e criatividade”.

“Pensai e programai a alegria dos outros, dizei-lhes que Cristo está vivo e é a nossa mais bela esperança. Cristo está vivo! Ide dizer que é por isso que nos queremos bem, que nos amamos como Ele nos amou. Ide construir comunidades de esperança por todo o lado!” afirmou.

“Nós, Igreja, ressurgimos em Cristo para dar fruto! A Palavra de Cristo é a única Palavra capaz de ir aos lugares de morte para dar vida nova e definitiva” afirmou ainda, pedindo aos cristãos açorianos para fazer como Jesus procurando as periferias existenciais.

“ `Coragem, começa de novo´! Com esta mensagem de amor poderosa e revolucionária, não podemos deixar que haja irmãos sonâmbulos a passear sem rumo nas nossas praças e ruas, que haja jovens que precisem de drogas para simular a alegria de viver, que haja homens e mulheres vítimas de agressão e exploração sexual, laboral ou outra qualquer”, afirmou lembrando as mulheres de Gaza e de Israel, da Ucrânia e da Rússia, de Moçambique e do Iémen, da Síria e do Afeganistão e muitas outras que choram a perda de filhos e de esposos, “na absurda carnificina deste século”.

“Para muitos, Cristo continua morto, porque o trancam eles próprios no sepulcro do egoísmo e não o deixam sair e invadir as suas casas de família, os seus lugares de trabalho, as suas vidas. Para muitos está morto, ao não se deixarem tocar pela Sua Misericórdia, palpável no Sacramento da Confissão e na Eucaristia” constatou ainda referindo-se a todos os cristãos que permanecem nas trevas ou resistem a ver a luz que é Cristo e que a Páscoa apresenta. São “ homens e mulheres da Igreja, bloqueados e incapazes de ver a luz nova de Cristo nestes tempos de mudanças que já aconteceram”.

“Muitos vivem confundidos com a radicalização de opiniões, refugiando-se em modos tradicionais de fazer e, porque pouco abertos ao Espírito, perdem a alegria do amor às pessoas concretas e a vontade de gerar laços novos de fraternidade e unidade. Os protagonistas do anúncio da novidade pascal somos todos. As primeiras foram as mulheres” sublinhou.

A este propósito recordou que  “o  Cristianismo não é apenas uma Cultura ou memória, é uma pessoa viva, Jesus Cristo” e por isso, “cada igreja, grande ou pequena, seja este sepulcro aberto e visitável, onde permanecem os sinais da Sua Morte e Ressurreição, contemplados no crucifixo, celebrados na Eucaristia e adorados no Sacrário”.

“Que em cada igreja se veja o sinal do sagrado que é também o presbítero e pároco, qual testemunha sempre visível e pronto a distribuir as graças divinas que santificam o crente e dão vida a todos” disse ainda.

E, prosseguiu: “O medo dos roubos nas igrejas não pode ser mais forte que a necessidade do encontro, tu a tu com Jesus, numa visita livre e não programada. Precisamos ver as Igrejas abertas sinal do acolhimento constante a todos” afirmou.

“O povo açoriano, forjado nas tragédias, alterna a necessidade de ser ajudado com a capacidade de ajudar. Hoje eu e amanhã tu! A Páscoa convida a isso” disse, por outro lado, recordando que só uma comunidade paroquial conseguiu ter a criatividade de reunir o valor necessário para um dos projectos a beneficiar com a Renúncia Quaresmal diocesana.

“Basta que líderes nas comunidades e instituições tenham criatividade generosa, a coloquem ao serviço de todos e contagiem os mais instalados a assumirem o olhar de Jesus que amava a todos e não abandonava a ovelha perdida”, disse ainda.

“Mergulhados nesta luz nova, peço ao nosso Bom Deus e em nome desta Assembleia Santa que leve esta alegria pascal a todos os doentes de cada ilha e freguesia deste nosso Arquipélago e a cada lugar da diáspora açoriana; peço que entre em cada habitação pobre e sem condições, na vida de cada irmão preso, de cada irmão sem abrigo, sem família, sem amigos e sem amor e aí deixe o que mais necessitam e pedem”, afirmou na homilia quase em jeito de Mensagem de Páscoa, depois de uma Semana Santa em que a partir dos olhares de Jesus, procurou balizar a vida cristã apelando a verdadeiros “lavadores de pés” que, “de avental ou bandeira brancas” possam levar esperança e vida nova a todas as comunidades.

“Peço que brilhe intensamente em todas as famílias e nas instituições de saúde, de caridade e de ensino, em todos os profissionais de serviço público, em todos os nossos governantes, em todos os párocos e empenhados nas comunidades paroquiais ou diocesanas. Peço que chegue longe, a todos os nossos irmãos espalhados pelo mundo e que nos acompanham pelas televisões, rádios ou meios digitais. Todos somos poucos para levar a maior notícia da história aos lugares e irmãos mais esquecidos do globo”, concluiu.

Durante a celebração houve um batismo de um menino. Este ano, ao contrário do que tem acontecido não houve batismo de adultos na noite da Vigília pascal, embora estejam alguns catecúmenos em preparação na Sé.

 

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