Bispo de Angra é o novo cidadão honorário da Cidade Património
“Sinto-me um cidadão de Angra” disse esta noite D. António de Sousa Braga durante a sessão de homenagem , em que recebeu o título de Cidadão Honorário e a Chave de Honra da Cidade, o mais alto galardão do município, numa cerimónia que decorreu esta terça feira, no dia em que se celebra o aniversário da Diocese, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
“Angra é Angra porque a Diocese existe e D. António de Sousa Braga teve aqui ao longo de 20 anos, um papel determinante da aproximação da igreja à cidade e aos angrenses”, disse o Presidente da Autarquia Álamo de Meneses.
“A diocese e a cidade são irmãs indissociáveis. A cidade de Angra foi elevada a cidade para que nela fosse criada a diocese e foi esta que lhe deu a proeminência que teve ao longo da história”, salientou ainda o presidente da autarquia.
Álamo de Meneses destacou o contributo da igreja para a criação de uma ideia de região, salientando que “a diocese foi a primeira estrutura de abrangência arquipelágica, sendo uma antevisão do que é hoje o arquipélago enquanto região”.
A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo aprovou no passado dia 17 de setembro, atribuir as mais altas distinções ao prelado diocesano destacando “o importante papel de ligação e de valorização da relação” entre as duas realidades, estabelecido por D. António de Sousa Braga.
“D. António soube dar à diocese um rosto humano e fê-lo de forma eficaz e amigável. De facto, todos os açorianos sentem uma proximidade muito grande com o seu Bispo, independentemente da posição que têm em relação à Igreja”, disse o autarca.
“Foi dos cidadãos que mais nos honrou e por isso fizemos este reconhecimento”, precisou ainda não se cansando, ao longo da sua intervenção, de frisar que a história de Angra está associada à da Diocese e tudo o que ambas fizeram está “profundamente relacionado”.
“Angra é o que é porque é uma cidade episcopal”, lembrou ainda Álamo de Meneses.
Numa cerimónia emotiva, que coincidiu também com uma exposição alusiva à história da diocese, no dia em que celebra os 481 anos da sua criação pela Bula Aequum Reputamos, promulgada pelo Papa Paulo III, D. António de Sousa Braga agradeceu a distinção lembrando que “se sente já de há muito um cidadão de Angra”
“É uma honra ser declarado cidadão honorário da cidade de Angra… significa que nestes quase 20 anos de serviço episcopal não fui um estranho mas estive inserido na comunidade como um cidadão. Sinto muita honra em ter sido um cidadão e de ter sido declarado cidadão. E quero continuar a ser”, disse o prelado.
Recordando o ritual da ordenação episcopal, D. António destacou o apelo “ao episcopado como serviço e não como uma honra”; o bispo “mais do que presidir tem obrigação de servir”; e deve “exortar os fieis a colaborarem, sempre de bom grado e com disponibilidade para os ouvir e sem fadiga cuidar também daqueles que ainda não estão no redil do Senhor”.
“Tudo na vida é graça e temos de estar disponíveis como Nosso Senhor a quem Deus deu tanto e Ele aceitou e fez frutificar tudo” disse ainda D. António de Sousa Braga lembrando que “é por este caminho do acolhimento, da gratuitidade de Deus, que se constrói a Igreja e a pomos ao serviço da humanidade”.
De resto, o Bispo de Angra, como tem sido recorrente nas suas intervenções públicas, voltou a assentar o seu magistério episcopal no “serviço” e, para isso, voltou a socorrer-se do Evangelho para lembrar que
“O Filho do Homem veio ao mundo não para ser servido mas para servir”.
À sessão não faltaram o Representante da Republica; elementos do Governo Regional e da Assembleia Legislativa; da Assembleia Municipal de Angra e também do concelho da Praia da Vitória, bem como membros do clero e do laicado.
A sessão solene contou com uma conferência, proferida por José Eduardo Franco, investigador da Universidade de Lisboa, sobre a Igreja, as ordens religiosas e as ilhas.
“O que estamos aqui a celebrar é no fundo 600 anos de história” e este território foi um dos que integrou um novo mundo que se estava a formar no tempo dos descobrimentos e que antecipou os tempos de hoje , marcados pela globalização e Portugal foi “o pai da primeira aldeia global”, disse o historiador.
Citou António Vieira, para salientar que “Portugal construiu uma cultura gnosiológica dando a conhecer o mundo ao mundo”; falou da relação entre Portugal e a Igreja, que “passou por 4 grandes fases, sendo a primeira um casamento com comunhão total de bens”; da importância da igreja e das ordens religiosas como estabilizadoras da paz, da estruturação do território, e da identidade cultural, espiritual e política do país; da expansão marítima que permitiu a criação da tal aldeia global, abrindo o mundo ao mundo; da importância do cristianismo na sustentação do projeto expansionista português e da secularização que está a emergir, trazendo para a praça pública a discussão religiosa.
Falou, ainda, da valorização do homem, da sua cultura e do seu conhecimento e da necessidade de se criar uma identidade multi cultural e racial, como resistência a um modo de ser ou de estar que possa conduzir a regimes totalitários. Por outro lado, referiu que “deve promover-se a sociedade da informação global e criar competências avançadas para que se possa lidar diariamente com a tecno-informação que nos rodeia, cultivar o acolhimento e a mobilidade; formar os jovens numa solidariedade globalizada e sensibilizar para a transcendência pensando o ser humano para além de um ser rasteiro e rastejante”.
Terminou a conferência homenageando D. António de Sousa Braga, que foi seu superior hierárquico no Seminário, de quem guarda uma “referência fundamental” porque ensinou a lidar com a globalização e a promover “uma sociedade de rosto humano, aberta ao diálogo e atenta aos sinais do mundo”.
“Com a sua maneira de ser discreta, sem falar muito, desenvolveu uma educação no Seminário assente na liberdade para a responsabilidade”.
Aliás “desenvolveu uma forma de gestão inédita num Seminário e até mesmo no quadro do episcopado português” referiu o professor lembrando que D. António de Sousa Braga “governava desenvolvendo a arte de perguntar, com questões que nos deixavam perplexos”. No entanto “com o seu exemplo foi capaz de deixar uma marca extraordinária”, concluiu.
Esta sessão solene culminou o dia da Diocese, depois do prelado ter celebrado de manhã na Sé uma Eucaristia de ação de graças.