Bispo quer servir Diocese de Setúbal, “ao encontro das pessoas”, após ser escolhido pelo Papa como membro do Colégio Cardinalício
D. Américo Aguiar, novo bispo de Setúbal, vai tornar-se este sábado o sétimo cardeal português do século XXI e o quarto a ser criado no atual pontificado.
“Se o Papa me chama, se me elege, significa que quer que eu dê colaboração nestas circunstâncias, que são as minhas circunstâncias, e disso não me dispensarei de fazer, com limitações, mas também com aquilo que pode ser a diversidade da presença de mais velhos e mais novos, com mais experiência”, disse o futuro cardeal, falando hoje, aos jornalistas, na Sala de Imprensa da Santa Sé.
O responsável – que aos 49 anos de idade será o segundo membro mais jovem do Colégio Cardinalício – junta-se a D. José Saraiva Martins, D. Manuel Monteiro de Castro, D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça no Colégio Cardinalício; D. José Policarpo, falecido em 2014, foi criado cardeal em 2011.
“O Papa pode ter pensado ou pode ter refletido naquilo que foi a preparação da Jornada e a Jornada Mundial da Juventude propriamente dita”, indicou D. Américo Aguiar.
Como cardeal eleitor, o responsável vai viver, no futuro, a “experiência única” do Conclave, para a eleição de um novo Papa.
“Eu acho que nos temos de entregar totalmente à oração para que o Espírito Santo nos inspire e que façamos, no tempo que for, daqui a muitos, muitos anos, as escolhas certas para a Igreja e para o tempo que estivermos a viver nessas circunstâncias”, sustentou.
A nomeação cardinalícia do presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 foi anunciada a 9 de julho; a 21 de setembro, o Papa nomeou o então auxiliar de Lisboa como bispo de Setúbal.
“Se o Papa entendeu que eu devia fazer parte do Colégio Cardinalício, farei parte naquilo que são os problemas, as dificuldades, os projetos, os caminhos, as reflexões, a oração”, referiu.
Entre os desafios identificados, destaca-se a assembleia sinodal, cuja primeira sessão se inicia a 4 de outubro, que D. Américo Aguiar vai acompanhar “no terreno”, a partir da realidade da Diocese de Setúbal, para concretizar “os sonhos de Deus”.
Na entrevista às Agência Ecclesia e Lusa, D. Américo reconhece que se entrega “na totalidade” a estas novas missões
D. Américo Aguiar afirmou que o primeiro sentimento que teve ao ser escolhido para cardeal pelo Papa “foi de medo”, de que “ainda está a recuperar”, e prometeu “entrega na totalidade” ao novo desafio.
Em entrevista conjunta à Agência ECCLESIA e à Agência LUSA, o coordenador-geral da organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) disse que a escolha de Francisco para integrar o Colégio Cardinalício é “um gesto de homenagem aos jovens”, nomeadamente os jovens portugueses envolvidos na preparação da jornada e “à juventude como um todo”.
“Acredito que isso tenha tido peso na decisão inesperada do Papa Francisco para aquele anúncio, que me surpreendeu e surpreendeu a todos”.
O novo cardeal português disse que não teve a “ousadia” de perguntar ao Papa as razões da sua escolha para cardeal, valorizando a proximidade e sintonia com as prioridades do atual pontificado.
“O facto de ter tido, seis, oito, 10, 12, audiências privadas com o Papa ao longo destes quatro anos, levou a que ele me mirasse, tirasse as medidas e decidisse o que decidiu”, sublinhou
D. Américo Aguiar valorizou projetos de diálogo e de conhecimento do diferente no ambiente da Igreja Católica, afirmando que essa atitude corresponde ao seu ADN, mostrando-se surpreendido com as manifestações de intolerância por quem tem opiniões distintas, “na era da liberdade de expressão”.
“Dentro de casa, há reações que não são justificáveis: é importante educarmo-nos mutuamente, sermos pedagógicos para nos respeitarmos e nos amarmos”, sustentou, ao ser questionado sobre manifestações de alguns setores da Igreja Católica contra afirmações que fez durante a preparação da Jornada Mundial da Juventude, nomeadamente que não queria “converter os jovens a Cristo ou à Igreja”.
“A nossa obrigação é a evangelização, é anunciar a Boa Nova, Cristo Vivo. As conversões, é Cristo que opera no coração de cada um. Não sou eu que realizo a conversão no Manuel, António ou a Maria… É Deus que o faz! As conversões acontecem ao nível do coração de cada um. A minha obrigação, a minha missão, a minha vocação é anunciar, é a evangelização. E a evangelização não choca com este caminho que queremos fazer de fraternidade universal”.
D. Américo Aguiar, natural de Leça do Balio, tem 49 anos e foi escolhido pelo Papa Francisco para cardeal no dia 9 de julho; coordenador-geral da JMJ Lisboa 2023, o até agora bispo auxiliar de Lisboa foi nomeado bispo de Setúbal na última semana, a 21 de setembro.
O primeiro sentimento que tive foi de medo, de incapacidade”, disse D. Américo Aguiar, acrescentando que, quando tem um desafio, entrega-se “na totalidade a esse desafio”, tendo sido encorajado por outros cardeais de Portugal, Espanha e Brasil, que são cada vez menos “príncipes da Igreja” para serem conselheiros do Papa.
“Nas suas últimas nomeações, o Papa tem reforçado muito isso: não é poder, não é fausto, não é nada disso; são aqueles que ele chama mais proximamente para junto de si, sem ser até geográfico, para o governo da Igreja, para ter mais perto as sensibilidades, seja da idade, seja da geografia e de tantas outras circunstâncias”, sublinhou na entrevista.
O consistório convocado pelo Papa Francisco para o dia 30 de setembro vai criar 21 novos cardeais, três deles com mais de 80 anos (não eleitores).
Um cardeal em Setúbal
O responsável assumiu a intenção de se encontrar com os responsáveis da diocese sadina, após quase dois anos de sede vacante, para “ouvir, ouvir e ouvir”, ir ao terreno e “estar com as pessoas”, com um novo interesse que “mexe as entranhas”.
“Ouvir os testemunhos, acolher os sorrisos, acolher as lágrimas, acolher as raivas, acolher os sentimentos mais diversos, quer dos cristãos católicos, quer de todos os homens e mulheres de boa vontade que vou encontrar naquele território, para fazer caminho com eles”, precisou.
O novo bispo sadino assumiu que segue com maior preocupação, neste momento, as atividades económicas e industriais da Península de Setúbal, citando como exemplo a situação na Autoeuropa, além das “realidades sociais de habitação, os problemas laborais, a presença militar naquele território, a beleza e a proteção do ambiente”.
“Tenho aqui muitas frentes de que gosto, pelas que tenho particular sensibilidade. Antes de achar o que quer que seja, gostaria, nos primeiros tempos, de ir ao encontro das pessoas e tentar conhecer estas diversas realidades, porque a realidade de Setúbal é policromática”, adiantou.
(Com Ecclesia e Vatican News)