Professor da Universidade Católica do Porto foi um dos oradores das Jornadas de Teologia dos Açores que terminaram este sábado
A laicização das sociedades modernas tem conduzido a uma progressiva confusão entre as balizas da ordem moral e as da ordem jurídica, com prejuízo para a primeira, disse este sábado em Angra do Heroísmo o professor Jorge Cunha, durante a sua intervenção nas Jornadas de Teologia promovidas pelo Seminário Episcopal de Angra.
“Quando uma coisa é legal temos dificuldade em dizer que não é moral” e a “sociedade fomenta esta leitura” sem que a igreja consiga por vezes contrapor argumentos válidos, acrescentou o teólogo lembrando dois temas candentes no atual debate público: o aborto e a eutanásia.
“Há uma clara diferença entre a legalização e a despenalização” de um determinado comportamento ou ação, disse o professor Jorge Cunha.
“Legalizar significa que se deixa de fazer um juízo moral em relação a um determinado comportamento; a despenalização é diferente pois pressupõe a dispensa de uma pena concreta sem se abdicar do juízo moral” referiu o moralista para quem os cristãos devem insurgir-se sempre “contra leis iniquas que obriguem a comportamentos imorais”.
Pelo contrário, “Uma lei que despenaliza não obriga ninguém a nada: não obriga as mulheres a abortarem ou a quem não pode usar símbolos religiosos no espaço público a cometer apostasia”, exemplificou.
O professor de Teologia Moral refere, por outro lado, que é necessário evangelizar a moral cristã, “o que pode ser feito em três momentos”: explicando que além de direitos também há deveres; que esses deveres impõem-se na relação com os outros, e que as pessoas têm de regressar a Deus.
“É possível propor uma ética que tenha por base a advertência sobre a vida boa com os outros e para os outros de acordo com critérios de justiça”, referiu o professor universitário lembrando que “ Deus dá-nos a possibilidade de viver com Cristo a sua ressurreição e essa ressurreição não é apenas o acesso a um noticia mas a uma vida”.
“A bondade não é uma ideia; é uma vida que Deus reparte connosco e que devemos dar a experimentar às pessoas e aí sim podemos utilizar uma moral”, disse ainda.
Para Jorge Cunha este é o grande desafio da igreja que é promover uma “moral do consolo”, da “exortação do perdão e da reconciliação”.
“A igreja não precisa de confessar as pessoas mas de as reconciliar”, precisou lembrando que o processo penitencial é importante, não para o julgamento mas para “a promoção de um processo de perdão, de reconciliação, de saneamento da nossa vida”, concluiu.
Jorge Teixeira da Cunha é Sacerdote e Teólogo da diocese do Porto. Nasceu a 7 de Janeiro de 1958 e foi ordenado a 10 de Julho de 1983. Doutorado em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma é professor dos cursos de Teologia Moral na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, antigo Reitor do Seminário Maior do Porto e Cónego da diocese do Porto, Diretor Adjunto da Faculdade de Teologia do Porto, Assistente da Comissão Diocesana de Justiça e Paz, autor de livros e artigos na área da Bioética.
(Com Nuno Pacheco de Sousa e André Furtado)