Cristãos devem contribuir para a criação de um novo tecido social “mais inclusivo e menos individualista”

Bispo Coadjutor de Angra fez reflexão sobre os desafios da solidão numa conferência promovida pelo Lions Club da Lagoa

É necessário  que as opções sócio politicas ajudem a criar um “novo tecido social”, assente em “novas relações de proximidade” capazes de fomentar uma cultura mais inclusiva, disse esta sexta feira, o Bispo Coadjutor de Angra durante uma conferência que proferiu sobre os Desafios da Solidão, promovida pelos Lions da Lagoa.

“Há novos dinamismos a implementar nesta cultura para que ela exprima melhor os laços de solidariedade, seja mais inclusiva e se paute por uma prioridade aos que mais necessitam” disse D. João Lavrador recuperando, de resto, essa ideia defendida por São João Paulo II de que é necessário que os cristãos contribuíam ativamente para a construção da civilização do amor.

Depois de percorrer o conceito de solidão e de felicidade, a partir de vários exemplos retirados de textos bíblicos, o prelado lembrou que a solidão é positiva ou negativa, tal como o silêncio, “segundo a posição que a pessoa tiver perante eles”. E concretizou.

“São necessários para alcançar a sabedoria autêntica, são meios que levam ao encontro de cada pessoa ao encontro consigo mesma, com Deus e com os outros”, disse.

 

“É na livre decisão e na vontade pessoal de pretender alcançar o bem que estes meios oferecem que a solidão é imprescindível para que o ser humano percorra os caminhos da compreensão do seu próprio mistério que não se decifra sem se abrir ao mistério de Deus”, adiantou ainda.

No entanto,  existe uma espécie de solidão, que resulta de uma cultura materialista e economicista que urge combater a todo o custo, alerta D. João Lavrador.

“É curiosa a nossa cultura que, marcada pelo materialismo e pelo economicismo, não só desprezou a solidão que levaria até à sabedoria- daí a cultura do ruido, da distracção e a fuga à interioridade-; mas também aumentou a quantidade de pessoas que sofrem com a solidão, sem terem alguém que as acompanhe e lhes ofereça o rosto de dignidade que só a relação interpessoal poderá oferecer”, sublinhou o Bispo Coadjutor de Angra.

Para o prelado, estas duas visões da solidão caminham em conjunto e estão dependentes uma da outra. O problema acrescenta, citando o Papa Francisco, é que o individualismo tomou conta da vida,  “perdeu-se a relação familiar e desfizeram-se os laços de vizinhança e de proximidade. A pessoa é um desconhecido na mesma cidade, no mesmo prédio ou na mesma rua”. Essa é “a fatura” do “individualismo pós moderno e globalizado”, conclui.

“Numa era de comunicações tão rápidas como as que se podem utilizar actualmente, nunca o ser humano se sentiu tão só. As redes sociais comunicam mas não aproximam” acrescenta D. João Lavrador concluindo que a solidão “ atinge todas as camadas etárias e sociais”, envolvendo crianças, adolescentes, jovens, adultos que não convivem e idosos sozinhos.

“O mundo de violência, de intransigência e de ódio, ou pelo menos de indiferença perante a sorte do outro, gera a solidão”, refere o Bispo Coadjutor lembrando que ao contrário do que nos diz o livro do Genesis, “o homem e a mulher não são vistos como verdadeiramente irmãos, mas pelo contrário, como concorrentes que é necessário eliminar. Também por este caminho criamos solidão”. Tal como quando contribuímos para agravar o fosso entre ricos e pobres, favorecidos e desfavorecidos, precisa o prelado, enumerando várias situações que concorrem para uma ideia de solidão “que importa anular”.

Durante a conferência, que pode ser lida na íntegra em www.diocesedeangra.pt, D. João Lavrador apresenta alguns dos desafios que se colocam aos cristãos para que minimizem a solidão e contribuam de facto para a criação de uma sociedade diferente, o que passa por uma “coerência entre o agir e o pensar que envolve o aperfeiçoamento moral”.

“ A caridade e a justiça bem ordenadas começam por nós próprios; não se pode amar o próximo sem nos amarmos a nós próprios” refere o Bispo Coadjutor destacando a importância da fraternidade como o passo que deve ser dado pelos cristãos, num combate efetivo à solidão e ao isolamento.

A reflexão de D. João Lavrador começou por estar centrada numa dimensão mais teológica da solidão como “meio para alcançar um melhor bem, isto é, a sabedoria verdadeira que se revela em Deus”.

Falou do Livro do Génesis para salientar como Deus queria que o homem estivesse acompanhado- “Não é bom que o homem esteja só”-; lembrou o Êxodo, no Antigo Testamento, como forma de encontrar Deus ou a Experiência de Elias, ou ainda a solidão dos discípulos que deixaram tudo para seguir o Mestre.

Referiu, ainda a experiência mística dos Padres do deserto para sublinhar que “a história da Igreja não se compreende sem recorrermos à vida de solidão e procura do silêncio”.

D.João lavrador foi o orador de uma conferência promovido pelo Lions Club da Lagoa, que se realizou na passada sexta feira, que reuniu perto de uma centena de pessoas.

 

 

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