Na liturgia da palavra esta Sexta-feira Santa, o bispo de Angra pediu “maior doação” aos outros
O bispo de Angra aproveitou a liturgia desta sexta feira Santa para desafiar os açorianos a contemplarem “mais a sério” o rosto misericordioso de Jesus mas sem ficarem presos à cruz, porque a “morte não é o fim mas tão só a transformação para uma vida plena e total na ressurreição”.
Na celebração da Paixão e Morte de Jesus Cristo, esta tarde na Sé de Angra, D. João Lavrador sublinhou que este desafio é ainda “mais exigente” neste ano Santo da Misericórdia, atendendo às circunstâncias do mundo.
“Neste ano dedicado a aprofundar a misericórdia de Deus para connosco, temos de contemplar mais a sério o rosto misericordioso de Jesus Cristo que tem uma das suas manifestações mais evidentes na sua morte” disse o prelado.
“Ele morre por amor, é a doação total de Si mesmo e neste rosto desfigurado pelo sofrimento vislumbramos o rosto misericordioso do Pai”, precisou.
O bispo de Angra, sem referir direta e explicitamente a insegurança generalizada provocada pelos mais recentes acontecimentos na Bélgica, deixou no entanto uma palavra de alerta para todos aqueles que “são vítimas da nossa sociedade”.
“As imagens entram-nos todos os dias pela nossa casa vindas de cenários de guerra, de terrorismo e muitos outros atentados à vida, de vastas zonas de fome, da exploração do ser humano; mas encontramo-las muito perto de nós, na nossa rua, na nossa vizinhança, provavelmente até na nossa família. A exclusão social, cultural, económica e religiosa, desfiguram a dignidade do ser humano” afirmou o prelado diocesano que preside pela primeira vez a todas as celebrações do Tríduo Pascal em Angra.
E deixou um segundo desafio: “tenhamos a coragem de nos colocarmos junto à cruz de Cristo mas levemos connosco não só a necessidade de salvação em nós próprios, mas façamo-nos acompanhar por esta decisão firme de tudo fazer para nos colocarmos ao serviço dos mais excluídos e desfigurados do nosso mundo”.
“Este é o lugar próprio para nos projectarmos na vida nova que brota da entrega de Jesus Cristo” afirma.
“A morte de Cristo só adquire o seu pleno significado à luz da ressurreição. Por isso, quando contemplamos a Cristo morto, exige-se em nós a expectativa de quem confia na Sua Palavra que afirma que ao terceiro dia ressuscitará” destacou.
O prelado acentuou a dimensão do amor e da misericórdia “ doados em abundância” a partir do sofrimento, da paixão e da morte de Jesus Cristo.
“O seu sofrimento e a sua morte abrem para a humanidade uma vida nova pela sua ressurreição”, disse o bispo de Angra que reafirmou que sem “esta presença redentora na vida dos homens”, o ser humano “vítima do pecado continuaria sem esperança da sua libertação”.
A Sexta-feira Santa, que evoca hoje a morte de Jesus, é um dia de jejum para os fiéis católicos, que não celebram a Missa, mas uma cerimónia com a apresentação e adoração da cruz.
Este é um dia alitúrgico, no qual os fiéis podem comungar na celebração que decorre durante a tarde, perto da hora em que se acredita que Jesus terá morrido, nas igrejas desnudadas desde a noite anterior.