Bispo de Angra presidiu à Paixão de Cristo na Sé, novamente de bancos vazios
Se Jesus morreu para que nascesse uma nova humanidade também os cristãos devem aproveitar este momento de pandemia para devolver a boa nova do Evangelho ao mundo, defendeu, na sua homilia, esta tarde o bispo de Angra na celebração da Paixão de Cristo, uma das celebrações mais marcantes do Tríduo Pascal.
“Os analistas dizem que depois desta epidemia o mundo, a sociedade e a economia já não serão os mesmos. Eu acrescentarei que também as comunidades cristãs já não voltarão a ser as mesmas; serão mais evangélicas se lhe oferecermos o Evangelho de Jesus Cristo” afirmou D. João Lavrador.
O prelado que presidiu à celebração da Paixão, num dos momentos mais atípicos da Igreja e do mundo, lembrou que o “silêncio que este dia impõe e que a situação social actual exige” , os cristãos devem seguir o exemplo de Jesus que “se entregou a Si mesmo, solidarizando-se connosco até ao limite da Sua morte” e executar “o clamor do nosso mundo onde o gemido de tantos mortos pela epidemia, pela fome, pela guerra, pelo desespero, pela violência, pelo ódio e pela exclusão, clamam por redenção e salvação, o mesmo que é dizer exigem dignidade, justiça, verdade e amor”.
“Celebramos este mistério da morte de Jesus de Nazaré num contexto de sofrimento e de perplexidade, num mundo dilacerado por uma epidemia devastadora. Que nós, batizados e homens de boa vontade, nos aproximemos mais de Cristo que carrega com as nossas dores e nos ensina o caminho da entrega no amor”, disse ainda.
“A morte de Cristo é um grito pela vida, mas uma vida que seja autêntica” sublinhou D. João Lavrador ao lamentar que hoje ainda continuemos confrontados “por uma cultura que continua a gerar a morte de tantos seres indefesos e débeis, uma sociedade que no seu egoísmo e no jogo dos interesses ideológicos e de poder, mata todos os que não têm aparência do modelo que se forjou para se ser cidadão”.
“É com esta cultura e com esta sociedade que Jesus de Nazaré continua hoje a desfigurar-se e a identificar-se com todos os que parecem não ter figura humana tal a sua humilhação” disse ao lembrar os desafios que impendem sobre os cristãos.
“Pertence à Comunidade Cristã, Corpo de Cristo, aproximar-se das chagas dos nossos contemporâneos e oferecer-lhes o óleo da consolação e da alegria”, disse ainda desafiando os cristãos a “acolher” o sofrimento dos irmãos, a “partilhar” com eles gesto “libertadores, de ternura, de misericórdia e de amor”.
“Hoje o dia é do silêncio e da escuta, da contemplação e da interiorização. Daqui terá de surgir um homem novo, configurado a Cristo, participante na comunidade e na missão da Igreja no mundo, com novos critérios, novos valores, com uma compreensão do ser humano que só a Sabedoria de Deus pode oferecer e com a força da missão transformadora do mundo que a fé alicerçada na experiência de comunhão em Cristo dinamiza”, concluiu.
A celebração de Sexta-feira Santa, que evoca a morte de Jesus, foi celebrada sem assembleia presente mas transmitida pelos meios de comunicação social e digital e, este ano, teve uma intenção especial de oração: “No dia em que se celebra a Paixão e Morte redentora de Jesus Cristo na cruz, o qual, como cordeiro imolado, tomou sobre si os nossos sofrimentos e o pecado do mundo, a Igreja eleva súplicas a Deus Pai omnipotente por toda a humanidade, de modo especial, por aqueles que sofrem”, refere o decreto publicado pela Santa Sé.
A Congregação para o Culto Divino propôs uma intenção para acrescentar à Oração Universal da celebração da Paixão do Senhor, “fazendo chegar a Deus Pai as súplicas daqueles que O invocam na sua tribulação e assim todos possam sentir, apesar das suas adversidades, a alegria da Sua misericórdia”.
“Oremos por todos os que sofrem as consequências da atual pandemia; para que Deus nosso Senhor, conceda a cura aos enfermos, força aos que trabalham na saúde, conforto às famílias e a salvação a todas as vítimas mortais”, lê-se no decreto.
A Igreja Católica evoca a morte de Jesus, num dia de jejum para os fiéis, que não celebram a Missa, mas uma cerimónia com a apresentação e adoração da cruz.
A celebração da paixão decorreu às 15h00, hora em que se acredita que Jesus terá morrido, nas igrejas desnudadas desde a noite anterior.
Ao entrarem, em silêncio, os presidentes da celebração prostraram-se, bem como os demais ministros, em sinal da morte de Cristo.
A parte inicial da celebração, a Liturgia da Palavra, tem um dos elementos mais antigos da Sexta-feira Santa, a grande oração universal, tradicionalmente com dez intenções – este ano, 11 – que procuram abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade.
A adoração à cruz e os vários momentos de oração apresentam-se como momentos de penitência e de pedido de perdão.
Durante a celebração da Paixão do Senhor há o rito da adoração, mas este ano omite-se o beijo devocional da Cruz, por razões de saúde pública, nos países onde estão suspensas as celebrações comunitárias.
O sacerdote que preside à celebração está paramentado com a cor vermelha, que a liturgia católica associa aos mártires.
Este ano, em Portugal, foram suspensas as procissões do enterro do Senhor e a celebração pública da Via-Sacra, que reproduz os momentos da prisão, julgamento e execução de Jesus, os quais inspiram recriações da Paixão, as Procissões do Encontro e do Senhor Morto.
O Sábado Santo também é um dia alitúrgico, isto é, sem celebração da Eucaristia ou de outros sacramentos, e marcado pelo silêncio.
(Com Ecclesia)