Crianças cumprem a tradição do «Pão por Deus»

Tradição que remonta ao sismo de 1755, que devastou Lisboa, está a ser recuperada

O Pão por Deus nos Açores, que se assinala na próxima terça feira, dia 1 de novembro (dia que volta a ser feriado), é uma “tradição muito viva”, impulsionada pelas escolas católicas e que está a ser recuperada como uma tradição cultural pelas escolas do ensino público regional, sobretudo as do ensino básico.

No Colégio de Santa Clara, em Angra do Heroísmo, por exemplo, as crianças dos 4 e 5 anos vão sair da escola para pedir Pão por Deus.

“Vão deslocar-se aos serviços dos pais e é aí que fazem o pedido” disse a diretora do Colégio, Ir. Helena Godinho, ao Sítio Igreja Açores sublinhando que o Colégio estimula “muito” estas tradições.

Todas as crianças da instituição de ensino foram convidadas a fazer “sacas” tradicionais, embora cada vez mais “se utilizem produtos reciclados até para sensibilizar para o ambiente”. Este ano as sacas feitas neste colégio são maioritariamente inspiradas no tema do Plano anual de atividades que é “Vida saudável, Coração feliz”.

Os enfeites que decoram as sacas têm este tema e este ano em vez de bombons, haverá uma troca de maçãs, precisou ainda a responsável pelo colégio terceirense.

Em São Miguel, no Colégio de São Francisco Xavier, as crianças de todas as idades vão ajudar na confeção de biscoito, bolinhos e do próprio bolo que tem o nome do dia e depois “vão partilhar o que fizeram” disse ao Sítio Igreja Açores a diretora, Irmã Domingas Lisboa. Além disso os alunos mais velhos vão ouvir uma pequena palestra sobre a importância , o significado e os valores desta iniciativa do Pão por Deus, sublinhando a importância do dia de finados e dia de todos-os-santos, que “está longe de ser o dia das bruxas” referiu ainda a religiosa de São José de Cluny.

 

A tradição do Pão Por Deus remonta a 1756, um ano depois do sismo que devastou Lisboa. A pobreza que atingia a capital agravou-se com a destruição provocada pelo abalo de terra e um ano depois os lisboetas saíram à rua para pedirem Pão por Deus para “matar” a fome.

Nas décadas de 60 e 70, por imposição da ditadura do Estado Novo, o Pão Por Deus só podia ser pedido por crianças, menores de 10 anos e, apenas, até ao meio dia.

Pão, frutos secos e agora guloseimas é o que costuma ser pedido pelos mais novos que, inclusivamente, se arranjam com sacos bem decorados para irem para a rua pedir.

No Pão Por Deus, uma tradição católica, as crianças pedem e se por acaso nada lhes é oferecido não ripostam com qualquer travessura; é, juntamente com as romarias aos cemitérios, um dos hábitos do primeiro de novembro, dia em que a Igreja Católica celebra Todos Os Santos.

 

 

 

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