Os jovens portugueses que vão participar em novembro no encontro ‘Economia de Francisco’, promovido pelo Papa, organizaram hoje um debate sobre o tema “Humanizar em tempos de pandemia”, destacando a necessidade de criar uma “nova realidade” no pós-confinamento.
Juan Ambrósio, teólogo e professor na Universidade Católica Portuguesa (UCP), um dos conferencistas convidados, sublinhou na sua intervenção que o objetivo do encontro marcado para Assis é promover uma “mudança paradigma” para superar a “Economia que mata”, denunciada por Francisco, e criar uma Economia ao “serviço de”, que tenha como prioridade “o cuidado do outro, o cuidado do mundo”.
A encíclica ‘Laudato Si’, lançada há cinco anos, desafia a um regresso à “simplicidade” e à sobriedade.
Segundo Juan Ambrósio, o tempo de confinação permitiu fazer a experiência de “poder viver com menos” e chegar a “novos estilos de vida”, mais centrados no essencial.
“Esta situação de pandemia mostra-nos que somos responsáveis uns pelos outros”, afirmam.
A conferência “Economia de Francisco Talks”, em formato digital, assinalou o 5.º aniversário da ‘Laudato Si’, e contou com a participação de Isabel Jonet, economista e presidente dos Bancos Alimentares Contra a Fome.
A convidada propôs uma Economia de “respeito” pela natureza, pelo futuro, e com quem se cruza na vida de cada um.
“As nossas opções, as nossas escolhas têm reflexo sobre a vida dos outros”, sustentou.
Isabel Jonet deu conta de “relatos terríveis” de pessoas que ficaram “totalmente desamparadas”, neste momento de crise, avançando que mais de 1200 voluntários se colocaram ao serviço da Rede de Emergência Alimentar
“Este período interpelou-nos muito”, por promover o contacto com “muitas famílias que nunca tinham estado numa situação de pobreza”, acrescentou.
A responsável do Banco Alimentar entende que “a única forma de lutar contra pobreza é gerar riqueza, na verdadeira aceção da palavra”.
Isabel Jonet convida a colocar-se no lugar do outro, sem ignorar o sofrimento alheio.
“Há um grande risco de desumanização de sociedade”, adverte.
Sofia Mexia Alves – uma das 50 jovens de Portugal que irá a Assis – psicóloga e com diversas experiências no desenvolvimento e gestão de projetos de intervenção social, falou de pessoas que se encontram em situação de “maior fragilidade”, do ponto de vista da saúde mental.
“Sente-se muito a pressão para voltar a uma normalidade que é uma normalidade muito insegura”, apontou.
A convidada sublinhou que a crise “abre janelas de reflexão” e leva a questionar “o que verdadeiramente importa”.
Nesse sentido, algumas pessoas estão a “experimentar coisas novas”, apesar de serem uma minoria, e estão a viver melhor.
Sofia Mexia Alves disse que é necessário multiplicar gestos para “humanizar” e procurando conhecer as necessidades de cada comunidade, para “estar ao serviço”.
“Viver em simplicidade também implica fazermo-nos presentes”, alterando “hábitos e rotinas que são nocivos”, observou.
O debate foi moderado por Laurinda Alves, jornalista, que sublinhou a necessidade de implementar uma lógica de “todos por todos”.
A ‘Economia de Francisco’ é um evento internacional promovido pelo Papa Francisco que vai contar, em novembro, com a presença de centenas de jovens empreendedores, investigadores e ativistas para repensar o presente modelo económico.
(Com Ecclesia)