A presença das Clarissas nas dioceses de Angra e Funchal, nos séculos XVI e XVII, foi analisada esta sexta-feira no Congresso que assinala os 500 anos da Diocese do Funchal
A Ordem de Santa Clara foi a única que conseguiu abrir institutos religiosos femininos nas dioceses de Angra e do Funchal entre os séculos XV e XIX, revelou, esta sexta-feira, a docente e investigadora da Universidade dos Açores, Margarida Lalanda, durante os trabalhos do Congresso Internacional do Funchal, que assinala os 500 anos da Diocese Madeirense.
No entanto, apenas uma das casas invoca Santa Clara; dez são de invocação a Nossa Senhora e os restantes são dedicados a Jesus, Santo André, São joão Baptista, São João Evangelista, São Sebastião e São Gonçalo. Mas, todos eles têm como característica estruturante a oração e a vida contemplativa em clausura, com juramento individual de três votos solenes: pobreza, obediência e castidade, conforme a regra da ordem.
Para Margarida Lalanda, o facto dos frades franciscanos estarem disseminados pelas ilhas, desde o inicio do povoamento, condicionou a abertura de institutos femininos, com o mesmo carisma.
Margarida Lalanda, que é também investigadora do Centro de História de Além Mar, sublinhou, no seu trabalho “As Clarissas nas Dioceses de Angra e do Funchal nos séculos XVI e XVII” a singularidade de todas as casas abertas – à excepção de uma em Vila Franca, nos Açores- terem sido construídas em meio urbano.
Para a investigadora este facto revela “a importância e a necessidade” destas comunidades femininas “se inserirem em meios onde vivem famílias com mais prestígio, poder e riqueza”, ficando o espaço rural reservado ao cultivo de bens “que integram os dotes das freiras”.
O primeiro mosteiro surge na Diocese do Funchal, na ilha da Madeira, refere Margarida Lalanda, “no próprio século em que se inicia o povoamento”, seguindo-se dez nos Açores, “em todas as décadas entre 1512 e 1567, pois daí em diante só há fundações no começo do século XVII e apenas nos Açores”, apesar da proliferação de mosteiros durante o século XVI por toda a Europa ocidental.
De resto, desde a fundação do Mosteiro de Santa Clara, no Funchal, o número de religiosas não parou de aumentar “quer por vocação pessoal quer por opção familiar” , mas “nunca se abriu outra casa” antes de 1660, conclui Margarida Lalanda.
As questões financeiras, a concentração de poder por parte de algumas famílias, o desejo de se manter o contato e a proximidade entre familiares e a relação entre o clero e as próprias famílias abastadas condicionaram a construção de novas casas.
Nos Açores, pelo contrário o número de casas multiplicou-se e estavam dividas entre as que se destinavam à elite local- Conventos de Santo Andre (Vila Franca do Campo, São Gonçalo de Amarante em Angra, Santo André em Ponta Delgada ou Nossa Senhora da Guia, na Horta- e os destinados “a donzelas pobres e honradas”, como os conventos de Jesus, na Ribeira Grande ou da Esperança, em Ponta Delgada.
De acordo com a investigação, o modo de subsistência destas casas também variava: umas viviam dos dotes e dos bens dados pelas famílias; outras viviam da caridade.
Margarida Lalanda participou esta sexta feira no Congresso Internacional do Funchal – “Diocese do Funchal – a Primeira Diocese Global”, que decorre no auditório do Casino da Madeira até amanhã.
Este congresso cientifico, que junta todas as dioceses as dioceses atlânticas, encerra as comemorações dos 500 anos da criação da Diocese do Funchal.
No domingo, D. António Carrilho, Bispo do Funchal, preside à “missa de ação de graças e de clausura do Congresso” na Sé da capital madeirense, cantada em latim por João Gil e Luís Represas.