Por Renato Moura
Assistimos a fenómenos políticos, sociais e económicos, de tal forma exóticos, que há poucos anos erámos incapazes de suspeitar.
Chega à presidência dos EUA uma figura tão polémica e imprevisível como Trump, ou a Presidente do Brasil um controverso e imponderável Bolsonaro. Uma prestigiada democracia, que é a do Reino Unido, permite a ascensão a primeiro-ministro de um inacreditável Boris Johnson e o arrastamento do impasse sobre o Brexit. Há ditadores que se perpetuam e regimes, sem fim à vista, que oprimem povos.
Outrora acusámos a América Latina pela corrupção, mas hoje ela grassa no mundo! Nem a Europa, nem tão pouco Portugal – seja no centro ou nas periferias – se podem orgulhar de não albergarem, à espera de julgamentos que tardam, ou sequer de indiciação, presumíveis criminosos. Muitos são, ou foram políticos.
Mas aqueles que são detentores de poder também prevaricam, se não vivem com paixão o serviço, se não são solidários com aqueles que padecem, se não fazem tudo quanto devem e podem para concretizar as legítimas esperanças. Também violam o compromisso e a lei se não têm plena dedicação às causas que lhe são confiadas, se não são competentes e trabalhadores.
O Pontífice Francisco, em finais de 2017, na abertura de um encontro de políticos católicos, falava da necessidade de «reabilitar a dignidade da política» e estranhava “como não observar o descrédito popular no qual caíram todas as instâncias políticas, a crise dos partidos políticos, a ausência de debates políticos de valor que visem projetos e estratégias a nível nacional e continental que vão além das políticas de cabotagem!”. E o mesmo se diria no âmbito regional e local!
As eleições, na Europa e não só, respondendo à insatisfação com demagogia, vão conferindo poderes, cada vez mais fortes, a partidos e extremistas, duros e irredutíveis.
Mas Francisco recomendara “é necessário que os leigos católicos não permaneçam indiferentes à vida pública nem fechados nos seus templos, nem sequer que esperem as diretrizes e as recomendações eclesiais para lutar a favor da justiça, de formas de vida mais humanas para todos”.
E instava mesmo à acção, afirmando “faz-nos bem ouvir com muita atenção a experiência, as reflexões e as preocupações que podem partilhar connosco os leigos que vivem a sua fé nos diversos âmbitos da vida social e política”.
Não só, mas também por isso, num instrumento da Igreja cabem todas as partilhas e reflexões que contribuam para a acção política. Como se tem procurado fazer nestes dois pares de anos.