Por Renato Moura
O Plano e Orçamento, para 2024, propostos pelo Governo, foram rejeitados no Parlamento açoriano; como se esperava. Assim a novidade foi por piores motivos: não me lembro de alguma vez, em mais de 45 anos, ter ouvido tantas pessoas, de tantos partidos, a criticar de forma tão intensa, mesmo impetuosa e até feroz, o comportamento da esmagadora maioria dos deputados e de alguns membros do esdrúxulo Governo.
Entre os que governaram ou governam, não são reconhecidas virtudes alheias, nem se admitem erros próprios. Não sendo capazes de se demonstrar como melhores, desunham-se por serem os menos maus!
Muito passado; pouco futuro.
A linguagem e os comportamentos foram de tal forma incontrolados (ou escolhidos!), violentos e impróprios, até degradantes, que horrorizariam os intervenientes que tivessem o cuidado de rever as gravações. Mesmo aqueles que – como eu – são defensores inabaláveis da autonomia, do governo próprio e do parlamentarismo, pela falta de eficácia temem-se pelo futuro dos Açores.
Lembrei-me de ter proferido uma palestra, com o título de “100 Anos de Autonomia”, na abertura da X Festa do Emigrante, em Julho de 1995, a convite do Cristiano Gomes, então Presidente da Câmara das Lajes das Flores e de então ter citado afirmações de ancestrais pioneiros da defesa da autonomia açoriana. 27 anos depois fui revê-las.
Disse então: «Mariano Augusto de Faria e Maia já há mais de cem anos se orgulhava na Câmara dos Deputados de ‘tratar com toda a dedicação dos interesses dos Açores, porque, fazendo-o, penso zelar igualmente a prosperidade da nação’».
Citei Carlos Cordeiro, que considerou: “É dentro destes parâmetros – liberdade individual, descentralização – que Aristides Moreira da Mota se movimenta ao reclamar para os Açores a autonomia administrativa, garante da liberdade, da dignidade e da prosperidade dos cidadãos”. E do mesmo Aristides Mota referi: “o Estado não só gasta pouco com os Açores, mas gasta mal” e “… não pedimos ao Governo que faça. Mas que nos deixe fazer”.
Hoje não só há autonomia administrativa; com a lei da autonomia política, agora deixam-nos fazer. Reafirmo o que nessa ocasião declarei: “A autonomia não é um fim; é um meio para se prosseguir objectivos que de outra forma não seria possível atingir” e ainda: “A melhor defesa da autonomia, a melhor forma de a consolidar, é, pois, uma governação eficaz”. Mas é como disse Luís da Silva Ribeiro “Os homens é que são tudo”, pois “As leis não fazem milagres”.
Estar, na Assembleia ou no Governo, é uma coisa; ser é decisivo.