Sacerdotes debatem tentações dos agentes pastorais e importância da homilia.
Os responsáveis do clero diocesano consideram de “vital” importância um maior acompanhamento e formação dos sacerdotes que, em virtude da dispersão geográfica, do isolamento e da multiplicidade de tarefas que hoje absorve a maioria dos padres, ficam “entregues a si próprios”, sobretudo os mais novos.
“Estes merecem uma atenção especial” lembrou o Bispo de Angra pois saem do Seminário “onde foram muito protegidos” e são enviados para uma paróquia com responsabilidades “para as quais nem sempre estão preparados”, acrescentou o Vigário Geral, Pe Hélder Fonseca Mendes, lembrando que o “amadurecimento mais tardio dos jovens” também atravessa “os que são ordenados com 24 ou 25 anos”.
Uma preocupação manifestada, igualmente, pelo próprio reitor do Seminário que acentuou a necessidade de “se acompanhar mais de perto” os novos sacerdotes.
O Ouvidor das Capelas, Pe Horácio Alves, lembrou que a solução para este problema poderá estar “no adiamento” da ordenação permitindo que os diáconos tenham um “período de estágio”, a tempo inteiro, nas paróquias para ganharem experiência.
Esta reflexão surge no âmbito da agenda da 39ª reunião do Conselho Presbiteral, que está reunido em Angra do Heroísmo desde segunda feira, com o objetivo de, entre outras coisas, discutir a questão proposta pelo Bispo de Angra, na linha da exortação apostólica A Alegria do Evangelho, sobre as “tentações” dos agentes pastorais e a importância da homilia.
Esta quarta feira de manhã esteve em cima da mesa a discussão das tentações que afetam os sacerdotes no seu ministério e que são diversas – do foro pessoal, pastoral e comunitário – e contra as quais é preciso lutar “permanentemente”.
O encontro regular dos sacerdotes ao nível da ouvidoria, “sem grandes formalismos”, as visitas periódicas do Prelado Diocesano ou do Vigário Geral, com contatos mais próximos com cada um dos sacerdotes, procurando ir ao “encontro da pessoa em vez do oficio”, foram alguns dos caminhos apontados pelos presentes para ultrapassar “estas dificuldades” que se traduzem depois “em tentações” que podem comprometer “o verdadeiro trabalho do pastor”.
Essas tentações, identificadas transversalmente como – a falta de energia pastoral, a preguiça, o excessivo ativismo e a vontade de mostrar serviço, um “excessivo funcionalismo” ou mesmo um “mundanismo” que “impede que o sacerdote tenha tempo para dedicar às pessoas” – “devem ser combatidos todos os dias” e exigem “respostas concretas”, da própria diocese, não ao nível da criação de mais cargos (como por exemplo um vigário episcopal para o clero) mas com um acompanhamento “mais próximo”, concluíram os sacerdotes.
“Não se trata de fazer a apologia da criação de uma irmandade sacerdotal mas é preciso que todos compreendamos que a única pessoa que ouve, ajuda e corrige os erros de um padre é outro padre, por mais amigos que tenhamos”, acrescentou o Pe Júlio Rocha, prefeito de estudos do Seminário Episcopal de Angra.
Esta análise, quase em jeito de “exame de consciência”, como lhe chamou o Ouvidor de Ponta Delgada, Pe José Constância deve ter eco na comunidade, que também deve aprender a respeitar e a compreender o trabalho do sacerdote.
Desta primeira discussão, sobre as tentações dos agentes pastorais, ficou ainda a nota de que os sacerdotes precisam de mais tempo para dedicar àquilo que é o seu ministério – o acompanhamento espiritual- e aliviarem-se de algumas responsabilidades mais burocráticas. Mas, para isso, também é preciso “formar os leigos”, sublinhou o Ouvidor da Lagoa, Pe Pedro Coutinho.
Os trabalhos prosseguem da parte da tarde com a discussão da importância da homilia como sendo “o momento crucial” na relação entre o sacerdote e a sua comunidade.