Por Renato Moura
A Conferência Episcopal Portuguesa criou uma Comissão para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja. Só depois de enorme pressão da sociedade. Mas existe, com garantia de ser absolutamente independente, coordenada por um médico pedopsiquiatra que já escolheu reconhecidos especialistas em várias áreas.
O abuso de menores causa sempre enorme indignação, ocorre em imensos contextos, mas é especialmente intolerável e repugnante em instituições da Igreja, onde, por dever cristão e social, a defesa dos valores morais e humanos deveria ser pregada e praticada.
Perante o conhecimento de escândalos no seio da Igreja, na França, no Chile e em outros locais, o Papa Francisco não exitou em assumir a dor e vergonha e clarificou a intenção de pôr fim ao silêncio cúmplice que tem abalado a confiança nas instituições católicas e comprometido o futuro da Igreja.
Como se noticia, o fenómeno do abuso de menores em Portugal constitui uma chaga perpetrada por médicos, professores, amigos e até familiares próximos, com tanta preponderância a ponto de a PJ ter registo de mais de 1300 casos sob investigação, só no primeiro semestre de 2021.
Não se sabe a dimensão e circunstâncias da depravação no seio das instituições católicas em Portugal, mas, para além dos relativamente raros casos confirmados, persistem rumores e suspeitas que estão corroendo a credibilidade.
Há, a partir de agora, razões para acreditar na averiguação independente e descoberta de eventuais crimes no passado desvalorizados ou abafados. Os abusos são sempre causadores de danos emocionais e psicológicos cuja reparação é indispensável promover, na medida do ainda possível. Quem cometeu abusos deve ser condenado pelos meios legítimos ainda disponíveis. O apuramento da verdade e de todas as verdades, e o julgamento dos prevaricadores, permitirão também evitar a generalização da má imagem e salvar a reputação dos justos.
O estudo aprofundado das circunstâncias e tramas que possam ter permitido a concretização dos crimes, mesmo se judicialmente tiverem prescrito, não podem ser ilibados no seio da Igreja – em Portugal ou seja onde for – e terão de servir para evitar a facilitação de novos abusos.
O conhecimento e estudo são apenas um primeiro passo. Só quando se conhecer a verdade, se expurgarem as máculas, se poderá restaurar a confiança e readquirir credibilidade.
A Igreja tem uma importância relevantíssima e geral: conformou ao longo dos séculos a sociedade; acomoda os crentes; porém está sob permanente escrutínio na mira dos difamadores.