Por Renato Moura
Retive uma crónica alusiva ao Congresso nacional do PS, onde se lia, sobre o primeiro dia: “Costa falou. Costa saiu. Ficou um vazio (…) Que saudades das sextas-feiras de congressos à noite” e “Um congresso vazio não é um congresso, é uma tristeza (…) o ambiente era de fim de festa com a festa ainda a meio”.
Recentemente, sobre o Congresso regional do PS, um jornal considerava-o “um evento muito bem organizado, todo certinho, rigoroso na passadeira, cumpridor no desfile de oradores”, com “a preocupação em deixar todo o palco para Vasco Cordeiro”; perguntava: “Nem uma voz crítica à actividade do PS no Governo?” e afirmava “Faltou consciência crítica neste congresso”.
Foram ambientes preocupantes, pois que de partidos à frente de governos.
Mas quem ainda se lembra perfeitamente dos últimos congressos, nacional e regional, do PSD, o maior partido da oposição, sabe que o ambiente é igualmente preocupante; com a agravante de se tornar comum a outros partidos.
Longe vai o tempo em que os congressos partidários eram uma prestação de contas dos dirigentes aos representantes dos militantes, eleitos pelas chamadas bases. Havia polémicas, apupos e aplausos. Discutia-se a eleição dos dirigentes e principalmente do líder; e as eleições directas contribuíram para esvaziar os congressos, a meu ver sem proveito.
Um congresso seria uma reunião de pessoas competentes para trocar ideias e deliberar sobre questões políticas importantes. Um comício define-se como uma reunião pública, com muitos participantes, em que geralmente os oradores fazem propaganda. Pois é em comícios que se transformaram os congressos. São vistos, pelos mais atentos, como uma feira de vaidades à procura de votos nas eleições seguintes.
Cada vez há menos congressistas – e menos militantes em geral – corajosos para criticar, mesmo que construtivamente, a prestação política dos dirigentes partidárias, seja pelo seu papel nos governos, ou nas oposições. E crescentemente se torna mais pesada a senha desmoralizadora sobre quem o pretendesse ousar, correndo o risco de ser acusado de divisão e ataque público à ”família”. E quem for audaz arrisca sequelas de anatematização!
No actual estado das coisas creio que valeria bem a pena fazer uma sondagem fidedigna que permitisse que os portugueses dissessem, com inteira liberdade, o que pensam da política e dos políticos.
Reafirmo sempre a política como actividade nobre, se executada com verdade, liberdade e frontalidade. A todos e a cada um de nós cabe o dever cívico e moral de a promover e exercer.