Iniciativa decorreu em Munique afirmando que Europa não pode ser «uma fortaleza» com novas fronteiras
O congresso Juntos Pela Europa, que terminou este sábado em Munique (Baviera, Alemanha), apelou aos responsáveis das diferentes igrejas cristãs que “ultrapassem as divisões”.
“Enquanto cristãos, queremos viver juntos, na reconciliação e em plena comunhão”, pedem no documento final os cerca de dois mil participantes reconhecendo o contra-testemunho que é dado pela divisão das igrejas.
Em Outubro do próximo ano, completam-se 500 anos do início da Reforma de Lutero, que levou ao Cisma do Ocidente.
“Quinhentos anos de separação já são demais”, lembraram vários intervenientes no encontro.
Ao mesmo tempo, o documento final insiste numa ideia repetida por diferentes intervenientes e de muitos modos durante os três dias de trabalho: a Europa, com uma profunda crise a manifestar-se em vários aspectos não deve tornar-se “uma fortaleza e erigir novas fronteiras”.
“Não há alternativa ao viver juntos”, consideram.
As “experiências terríveis de duas guerras mundiais” já deveria ser suficiente para se perceber como pode acabar a lógica dos egoísmos nacionais ou culturais, avisam os participantes.
A questão dos refugiados acabou por estar presente, implícita e explicitamente, em muitas intervenções do congresso, apontando-se boas práticas como as que estão a decorrer em Itália por iniciativa da Comunidade de Santo Egídio e as igrejas evangélicas.
O presidente da Comunidade de Santo Egídio, Marco Impagliazzo, disse em Munique que pediram ao governo italiano a suspensão de um artigo do Acordo de Schengen por motivos humanitários, de modo a que o país possa conceder um milhar de vistos a refugiados em situação de extrema vulnerabilidade: doentes, deficientes, mães com crianças.
Estabelecendo corredores humanitários seguros, com a viagem aérea paga por aquelas organizações e a integração em comunidades locais, os refugiados escapam à morte no mediterrâneo ou às redes mafiosas que ganham dinheiro com a tragédia.
Impagliazzo diz que a ideia pode ser reproduzida em outros países e disse que na Polónia, a Conferência Episcopal vai pedir ao Governo a mesma decisão e em França está previsto, para a próxima semana, um encontro de responsáveis da Comunidade com o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Espero que Portugal também” decida o mesmo, acrescenta.
Para Portugal, o Juntos Pela Europa representa um “desafio enorme”, disse à ECCLESIA a presidente da Conferência Nacional do Apostolado dos Leigos, Alexandra Viana Lopes.
“Somos chamados a agir pela aprendizagem da diversidade dentro da Igreja Católica, entre cristãos de diferentes confissões, na política ou em outras realidades sociais”, afirma.
Dando o exemplo da política, a responsável da CNAL diz que os cristãos envolvidos na política deveriam reflectir em conjunto sobre como encontrar caminhos de solução para a economia e outros domínios de acção.
“Podemos receber mais refugiados, mesmo se a Igreja e a sociedade civil já têm trabalho nesta matéria. O bloqueio é a política europeia”, acrescenta, sobre a questão dos que buscam protecção na Europa.
Acerca do diálogo ecuménico, Alexandra Viana Lopes diz que já há trabalho comum com algumas igrejas evangélicas, mas que é preciso alargar o campo de reflexão e de acção conjunta.
(Com Ecclesia)