A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) alertou hoje em Fátima para as “grandes dificuldades” provocadas pela crise, nas famílias e instituições, apontando a um aumento de pedidos de ajuda.
“A Assembleia expressou forte preocupação pelas grandes dificuldades por que passam as pessoas e famílias, instituições civis e eclesiais, provocadas pela crise atual. A guerra na Ucrânia continua a matar milhares de pessoas e a destroçar famílias e populações, provocando milhões de refugiados”, refere o comunicado final dos trabalhos da 204.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorreu em Fátima, desde a segunda-feira.
Em declarações aos jornalistas, o presidente da CEP admitiu que esta é uma questão que “preocupa muito” os bispos católicos.
D. José Ornelas destacou a presença “capilar” da Igreja Católica, na sociedade portuguesa, observando que “os pedidos de ajuda, de alimentos, aumentaram significativamente”.
“Muitas vezes são pessoas que têm o seu trabalho”, mas “não conseguem fazer face às suas responsabilidades e às necessidades das suas famílias”, acrescentou, falando numa situação “particularmente grave”.
A CEP apela a uma “convergência de regime para soluções mais duradouras e mais estáveis” para a população.
As políticas definidas na Europa e em Portugal são medidas paliativas importantes para responder ao apoio de emergência, mas torna-se imprescindível realizar convergências para concretizar políticas estruturais que permitam mitigar os efeitos da inflação e incentivar o crescimento, tendo como preocupação o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e o bem-estar dos cidadãos, com uma mais justa repartição da riqueza” – Comunicado final da 204.ª Assembleia Plenária da CEP.
Os bispos alertaram, na sua nota conclusiva, para a situação de crise em várias instituições de solidariedade social, muitas das quais ligadas à Igreja Católica, “colocando em risco a sua sustentabilidade”.
“Na sua atitude de proximidade, as instituições da Igreja continuam a atender situações de extrema necessidade, mas o justo apoio do Estado, que sustenta apenas uma parte limitada do esforço financeiro destas instituições, é imprescindível para que a sua falência não venha agravar a situação de centenas de milhares de pessoas e famílias que delas dependem”, indica a CEP.
D. José Ornelas insistiu na necessidade de responder aos “problemas sérios” levantados pela crise, sublinhando que muitas instituições já viviam “com a corda na garganta”.
“Se não houver um acompanhamento da inflação, estas instituições não sobrevivem”, colocando pessoas “sem assistência e sem trabalho”, advertiu.
O presidente da Conferência Episcopal dirigiu também um novo pedido de perdão às vítimas de abusos sexuais, por membros do clero ou em instituições eclesiais, assinalando que este tem sido um “tempo de purificação” para a Igreja Católica.
“A Assembleia reafirma a profunda gratidão e o pedido de perdão às vítimas que, na dureza da sua dor, têm dado o seu testemunho ou depoimento, e manifesta o propósito de garantir a tolerância zero quanto aos abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis na Igreja, grave realidade que contradiz a sua identidade a missão”, refere o comunicado final dos trabalhos da 204.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorreu em Fátima, desde a segunda-feira.
D. José Ornelas, presidente da CEP, disse aos jornalistas que os bispos têm a intenção de fazer “publicamente um pedido solene, marcante, de perdão”, no futuro.
Assumindo a importância deste pedido “formal e claro”, o bispo de Leiria-Fátima considerou que “o melhor pedido de perdão é tomar seriamente as pessoas, estar próximos, entender a sua dor e, muitas vezes, também a sua revolta”.
O responsável católico destacou ainda a importância de marcar, visivelmente, a rejeição de comportamentos “inaceitáveis”.
Questionado sobre as decisões relativas aos sacerdotes que são acusados de abusos sexuais, o bispo de Leiria-Fátima observou que é preciso levar em consideração a “plausibilidade” dos casos.
“Ninguém é abusador simplesmente porque surge uma acusação”, precisou.
Após recordar a “prevenção suspensiva” que tem sido aplicada a vários casos, por iniciativa dos próprios visados ou dos respetivos bispos, D. José Ornelas afirmou que, “quando há perceção de que possa haver perigo para alguém, as pessoas são afastadas”.
A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal (CI) esteve na assembleia dos bispos, acompanhada do Grupo de Investigação Histórica, para fazer o ponto da situação do processo de estudo, cujo relatório será divulgado a 31 de janeiro de 2023.
O documento vai ser entregue à Conferência Episcopal Portuguesa e ao Ministério Público.
“Estamos a preparar-nos para constituir grupos e pessoas que possam acompanhar este processo” e tirar “as devidas conclusões”, adiantou D. José Ornelas.
“O importante agora é que chegue o relatório, se entendam as coisas”, acrescentou.
O presidente da CEP admitiu que este tem sido um processo de aprendizagem, na relação com a Comunicação Social, tendo a assembleia plenária promovido um debate interno para “afinar critérios” neste campo, assumindo a intenção de “melhorar a capacidade de resposta”.
A prioridade, prosseguiu, é promover “a justiça e a verdade”.
“Levamos muito a sério cada caso”, disse o bispo de Leiria-Fátima, pedindo atenção à pessoa que é “injustamente agredida, de uma forma muito grave, na sua vida”.
No comunicado final da Assembleia Plenária, os bispos falam num “tempo penoso para todos” e também “um tempo de purificação”, “identificando situações dolorosas sem generalizar indevidamente nem acusar indiscriminadamente”.
Os bispos deixam uma palavra especial de solidariedade aos sacerdotes de todo o país.
“Os casos de abusos detetados são claramente lamentáveis e objeto de grande preocupação, justificando os esforços em curso para erradicá-los da vida da Igreja, mas tal não invalida o precioso serviço que os sacerdotes, consagrados e leigos prestam à vida da Igreja e da sociedade, em Portugal e em todo o mundo, que merecem toda a nossa gratidão e apoio”, indica o comunicado final.
A Assembleia exprime o seu profundo apreço para com os sacerdotes nestes tempos em que generalizações injustas e não verdadeiras colocam na sombra vidas inteiras dedicadas ao serviço das comunidades cristãs e da sociedade, particularmente das pessoas mais fragilizadas”.
O presidente da CEP admitiu o “impacto” destas generalizações, que considerou “sem fundamento nem verdade”.
“Não há uma razão plausível para dizer coisas como que a Igreja é lugar favorito para pedófilos”, exemplificou, aludindo a reflexões apresentadas em “comentários e editorais” na comunicação social.
Para D. José Ornelas, estas observações surgem, sobretudo, quando as pessoas “não conhecem a vida do padre”, registando que dos mais próximos tem chegado um “adicional de simpatia”.
(Com Ecclesia)