«Como padre estive à cabeceira dos doentes, visitei prisões, mas também levei tudo isso ao grande público com unidade no ministério».
O cónego António Rego assinala este domingo, na ilha onde nasceu, em São Miguel, nos Açores, 50 anos de sacerdócio numa celebração que comemora igualmente as cinco décadas de vida religiosa da sua irmã Alda Rego.
“O meio de comunicação social faz com pouca coisa muito ruído, e há tantos sacerdotes escondidos nas aldeias e missões que muito fazem e ninguém vê, ninguém agradece, ninguém celebra. Eu gostava de dedicar este tempo que se torna mais visível na televisão a todos esses”, afirma o sacerdote em entrevista ao programa Ecclesia.
Sacerdote desde os 23 anos, o ministério de António Rego desenvolveu em especial na comunicação social, onde afirma nunca ter sentido nenhum “conflito” mas “complementaridade”.
“Como padre estive à cabeceira dos doentes, celebrei sacramentos, visitei prisões, mas também levei tudo isso ao grande público através da escrita, rádio e televisão e senti uma unidade no ministério”.
Afirma o sacerdote que “criar um programa de televisão é como fazer uma homilia: também se reza, também se prepara, também se estuda, também se proclama”.
A preparação e transmissão televisiva da missa dominical, que começou por realizar na RTP e agora o ocupa na TVI, permitiu percorrer “quase todas as paróquias e localidades, algumas escondidas, ter colocado o povo a falar de si próprio e a testemunhar a sua missão evangelizadora”, para além da oportunidade de “aprender sempre com movimentos cristãos de leigos que vão à frente para abrir caminhos”.
“A nossa Igreja tem muitas fraquezas mas tem algo de extraordinário que se expressa em tantos movimentos, se expressou no Concílio e através do seu espírito mergulhou nas nossas comunidades, e através dos pastores que nos animam”, traduz da experiência de 50 anos de sacerdócio.
“Nunca fui padre num regime de opressão eclesial, tive sempre a liberdade de trabalhar e fui sempre estimulado em criatividade e procura de outras formas”.
Na Rádio Renascença, onde trabalhou entre 1968 e 1975, o cónego Rego guarda “grandes memórias” com a oportunidade de abrir “temas de programas que não existiam ou estavam silenciados”, em especial dedicados “aos doentes e o Esquema 13, ligado ao Concílio Vaticano II”.
Momentos passados na RDP e RTP, com o programa “Toda a Gente é pessoa”, com a transmissão da eucaristia dominical e o programa 70×7, também no jornal Diário de Notícias são recordados numa entrevista que retrata o comunicador jornalista e sacerdotal.
“Sempre me senti à vontade e nunca desrespeitado” nas redações, indica, onde se é jornalista mas também “padre e amigo”.
“A presença de um padre numa redação é algo bizarro, porque as pessoas têm respeito, mas também muita curiosidade quando há alguma notícia. Não há temas tabus, tudo interessa, ouço muito os outros e enriqueço, e assim convivemos democraticamente”, realça no trabalho que realiza na TVI, onde o “religioso passou a ser natural e um elemento integrante”.
“A Ilha e o Verbo – Dos Vulcões da Atlântida à Galáxia Digital”, livro-entrevista do jornalista Paulo Rocha, recentemente lançado, vai ser hoje apresentado na ilha de São Miguel, Açores.