Representante da Santa Sé nas Nações Unidas afirmou que as «consciências estão paralisadas». Guia português na terra Santa cumpre visita mesmo no pico do conflito armado entre israelitas e palestinianos.
O representante da Santa Sé nas Nações Unidas, D. Silvano Tomasi, afirmou esta quinta feira que a comunidade internacional tem de envolver-se “a sério” na resolução do conflito entre Israel e a Palestina e impedir que a solução seja a “aniquilação do outro”.
“As consciências estão paralisadas por um clima de violência prolongada, que procura impor uma solução através da aniquilação do outro”, afirmou o arcebispo Silvano Tomasi na 21 ª Sessão Especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
No debate sobre os direitos humanos no Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental, o representante da Santa Sé assinalou que “torna-se uma responsabilidade da comunidade internacional” envolver-se “a sério na busca da paz para ajudar as partes neste conflito horrível chegar a um entendimento”.
“Como o número de pessoas mortas, feridas, arrancados de suas casas, continua a aumentar no conflito entre Israel e alguns grupos palestinos, especialmente na Faixa de Gaza, a voz da razão parece submerso pela explosão de armas”, disse o arcebispo Silvano Tomasi.
O representante permanente da Santa Sé nas Nações Unidas lembrou que “cerca de setenta por cento dos palestinos mortos eram civis inocentes” e que as injustiças e a violação dos direitos humanos, “especialmente o direito à vida e a viver em paz e segurança” renovam o “ódio e o ressentimento”.
Em Genebra, o representante católico assinalou que o caminho para o futuro deve ser feito pelo “reconhecimento” de uma “humanidade comum” e recordou as palavras do Papa Francisco na sua peregrinação à Terra Santa, em Maio de 2014: “Chegou o momento para que todos possam encontrar a coragem para serem generosos e criativos ao serviço do bem comum, a coragem de forjar uma paz que repousa sobre o reconhecimento ao direito de dois Estados existirem e viverem em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”.
“A violência só vai levar a mais sofrimento, devastação e morte, e vai impedir que a paz se torne uma realidade”, alertou D. Silvano Tomasi.
Na sede das Nações Unidas na Europa, o representante da Santa Sé disse que os meios de comunicação social no conflito entre Israel e a Palestina devem “informar de forma justa e imparcial” com o objetivo de “facilitar o desenvolvimento de um diálogo imparcial que reconhece os direitos” e “respeita as preocupações da comunidade internacional”.
As tréguas existentes nesta zona do globo tê, sido curtas e apenas para garantir a distribuição de alguma ajuda humanitária.
O açoriano Pe Jacinto Bento, guia português na Terra Santa, esteve recentemente em Jerusalém, quando se agudizou o conflito.
A viagem decorreu entre 13 e 21 de julho e, durante esse período foi deixando relatos de alguma apreensão, sobretudo pelo encerramento de alguns dos espaços que costumam ser visitados como por exemplo a Esplanada do Templo e as mesquitas, facto que obrigou a uma “mudança de planos” como conta na última das suas crónicas de viagens publicadas em www.nos-passos-de-cristo.blogspot.pt.
“Pelas 07h30, tentei visitar a Esplanada do Templo e as mesquitas, em vão, mais uma vez fechadas. Como tenho sempre planos alternativos, para não perder tempo, dirigi-me ao Santo Sepulcro onde rezei o “Ofício Divino”, no Calvário por haver, novamente muitos peregrinos em longa fila para visitarem a Edícula”, sublinha o sacerdote.
“Não obstante o conflito em Gaza, os fiéis peregrinos vêm sempre. No meu fraco entender, por duas razões: para subir a Jerusalém para rezar, para se encontrar com Deus, para se converter, para mudar de vida e porque Jerusalém é a Sagrada Escritura aberta onde não é preciso ler, vê-se, sente-se, toca-se, experiencia-se e vive-se a revelação divina. A Palavra faz-se vida”, refere o Pe Jacinto Bento.
De acordo com os relatos deste guia terceirense “Jerusalém manteve-se muitíssimo calma”, fazendo esquecer um conflito às portas da cidade santa, para onde convergem cristãos, ortodoxos, muçulmanos e judeus.
O programa da visita foi sempre cumprido com muito rigor e apenas viveu um incidente quando passeava por Nablus (a 63km de Jerusalém) e comia na rua. Porque nesta altura do ano, os muçulmanos cumprem o seu Ramadão o Jejum é obrigatório para todos e ninguém pode andar nos espaços públicos a comer.
“De resto, a Cisjordânia estava absolutamente calma não se via nenhuma movimentação militar, nem nada que se parecesse. O conflito é só em Gaza”, frisa o sacerdote.
Ainda assim, o Pe Jacinto Bento lembra que é preciso rezar, “a fé é um desafio” e os homens “têm de se entender”.