Reitor do Santuário Diocesano do Senhor Santo Cristo da Caldeira preside à festa, que decorre de 26 de agosto a 1 de setembro na Fajã do Santo Cristo, em São Jorge
A festa pode ser como nos outros anos desde que a Igreja do Santo Cristo é Santuário Diocesano, mas a forma como cada peregrino se coloca diante desta experiência de fé, numa verdadeira simbiose entre a natureza e o sagrado, é sempre diferente e, a cada ano, há uma relação que se renova.
“Procuremos uma participação que nos lance para o próximo ano de actividades e coloquemos nas mãos do Senhor Santo Cristo toda a nossa vida. Vem muita gente de diferentes lugares, até de outras ilhas. Aproveitemos o silêncio que esta natureza nos oferece para no Santuário fazermos um encontro pessoal com Deus. Aproximemo-nos Dele através desta imagem do Senhor Santo Cristo da Caldeira”, refere o Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo da Caldeira, na ilha de São Jorge, padre Manuel António das Matas.
“Se há momento propício para estarmos próximos do Senhor é aqui neste silêncio. Coloquemos a nossa vida na sua mão” acrescenta ainda o sacerdote numa entrevista ao Sítio Igreja Açores, por ocasião da Festa deste Santuário diocesano, que acontece sempre no primeiro domingo de setembro, encerrando as principais festas de verão nas ilhas do triângulo.
Este ano o tema da festa é o mesmo em todos os santuários diocesanos- Senhor, ensina-nos a orar- e por isso a oração do Terço e a Eucaristia serão dois momentos cruciais para aprofundar a oração individual e comunitária.
Todos os dias, a partir do dia 26 de agosto até dia 31 será celebrada a Eucaristia, precedida da oração do Terço. Na quinta-feira, dia 29, a noite é dedicada a Maria com uma Procissão de Velas e no dia seguinte, haverá uma Vigília para a Juventude.
“São momentos que tocam muita gente” refere o Reitor, lembrando em jeito de brincadeira que nem a chuva impede as pessoas de viverem intensamente este momento.
“São momentos de evangelização e têm sido uma agradável surpresa” refere ainda sublinhando que esta festas, que decorrem num ambiente renovado junto ao santuário com a criação de infra-estruturas de acolhimento dos peregrinos, possam ser a alavanca necessária para um maior dinamismo neste lugar.
“É um lugar que toca as pessoas pelo silêncio, pelas cores e pelos cheiros, pelo mar; é um lugar de recolhimento e, nesta altura é muito procurado” refere.
No domingo, dia da festa, há um almoço comunitário com confeção de sopas.
“O ano passado servimos 1400. Se tivermos em atenção que aqui neste lugar vivem permanentemente duas pessoas, podem perceber a dimensão de mobilização destas pessoas”, justifica ainda o padre Manuel António das Matas.
“Estamos muito contentes com a possibilidade de termos aberto esta nova valência para acolher os peregrinos. Desde que foi inaugurada(no principio de junho) tem tido muita procura e, de facto, queremos que aqui possa ser desenvolvido um centro de espiritualidade” refere ainda o Reitor.
Na festa deste ano, a estrutura acolherá romeiros e algumas das pessoas diretamente implicadas na organização da festa, que tem também sempre uma vertente sócio-cultural.
Já de olhos postos na proposta feita pelo Conselho Pastoral Diocesano de se realizar neste lugar uma Aldeia da Esperança, destinada sobretudo a jovens e organizada ao estilo de TZ, o padre Manuel António das Matas adianta que gostava que, no próximo ano, todos os meses, um grupo de pastoral pudesse realizar no santuário uma atividade.
“Temos intenção de promover peregrinações por paróquias, zonas pastorais e grupos de pastoral para que o Jubileu seja bastante celebrado nesta ilha a partir deste Santuário”, diz.
No domingo, dia 1 de setembro, além da parte religiosa há ainda as tradicionais arrematações das ofertas feitas em promessa ao Senhor santo Cristo da Caldeira.
A lenda que deu origem ao culto conta que um pastor deixou o seu gado a pastar, descendo a uma lagoa onde apanhou lapas e amêijoas. Ao parar para descansar contemplou um objeto na água a flutuar e viu que era uma imagem em madeira do Senhor Santo Cristo. Surpreendido com o achado, pegou na imagem, molhada e inchada de estar na água, e levou-a para terra seca. Ao fim do dia, quando voltou para casa fora da Fajã, levou a imagem e colocou-a em local de destaque numa das melhores salas da sua casa. No outro dia de manhã a imagem tinha desaparecido. Depois de procurarem por toda a casa e de já terem dado as buscas por terminadas, ele foi de novo encontrado, dias depois, na mesma fajã e local onde tinha sido encontrado da primeira vez. Foi levado várias vezes para o povoado fora da rocha, e durante a noite a imagem voltava sempre a desaparecer, até que alguém disse: “O Santo Cristo quer estar lá em baixo na fajã à beira da caldeira, pois que assim seja”.
A Lenda da Caldeira de Santo Cristo é uma tradição da ilha de São Jorge e relaciona-se com as crenças populares numa terra onde a luta do homem com a natureza foi constante e onde, por séculos, as necessidades básicas do dia-a-dia foram prementes.