O Portal da Diocese dá voz a ex alunos para memória futura. Hoje Nuno Melo Alves e Paula Costa falam na primeira pessoa.
Numa altura em que o Colégio de Santa Clara, em Angra do Heroísmo, assinala 50 anos de existência, o Portal da Diocese associa-se à direção do Colégio e volta a publicar mais dois textos de opinião de ex alunos sobre a escola.
Desta feita, os textos são da autoria de Nuno Melo Alves, economista e Presidente da Comissão de Pais do Colégio de Santa Clara e Paula Costa, estudante da Medicina.
O Colégio de Santa Clara é uma escola católica Franciscana Hospitaleira, conforme o Carisma da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, legado pelos seus Fundadores Padre Raimundo dos Anjos Beirão e Madre Maria Clara do Menino Jesus que possui vários níveis de ensino desde a creche, jardim de infância, 1º e 2º ciclos.
“Frequentei o Colégio de Santa Clara até 1979, ano em que terminei a quarta classe. As memórias desse período são sobretudo lúdicas, mas aquilo que mais me marcou na frequência do Colégio de Santa Clara é algo que fica muito para além das memórias.
Em bom rigor, não tenho muitas memórias dos anos passados no Colégio de Santa Clara. Não porque não tenha gostado ou não me identifique – até pelo contrário, gostei e identifico-me plenamente. Penso que isso resultará do facto de eu ter saído da Ilha pouco depois de ter iniciado o primeiro ano do ciclo. Essa é, também, a razão de eu ter perdido o rasto, durante vários anos, aos colegas e amigos que ali tinha: só mais tarde, quando entrei para a universidade em Lisboa (e outra vez, volvidos mais uns anos, quando regressei à Terceira) é que acabei por reencontrar as pessoas do Colégio de Santa Clara.
Julgo que, por essa razão, as recordações que tenho do Colégio são dispersas e não têm um fio unificador ou que lhes confira continuidade. São um conjunto de momentos, aparentemente desconexos, de diversão, de atividades desportivas e também de episódios nas aulas. Recordo-me dos exercícios de ginástica, de treinar andebol e de jogar basquete no ginásio. Recordo-me da atração pela quinta e pela inevitável ribeira, apesar das idas à ribeira serem quase sempre sob o risco de castigos.
Recordo-me do orgulho de ser chefe de turma ou das “corridas” entre os alunos, para ver quem resolvia primeiro os problemas de matemática ou respondia mais depressa às perguntas feitas pelas professoras. Apesar destas boas recordações e das boas amizades que fiz, o Colégio de Santa Clara foi marcante por outras razões, razões essas até mais importantes.
Não sei se alguém se recorda do dia em aprendeu a ler ou a fazer contas de multiplicar. Aprender uma tarefa académica como ler ou multiplicar não se resume apenas a um momento, sendo antes o resultado de um processo cumulativo de aprendizagem. É natural que não me recorde de nenhum momento específico do percurso estritamente académico, mas sei que foi importante. Não posso dizer se estava melhor preparado que os alunos doutras escolas quando entrei para o quinto ano, até porque fui viver para os Estados Unidos nessa altura e perdi qualquer referência comparativa com outros alunos de cá. Mas posso afirmar que a preparação académica que recebi no Colégio de Santa Clara foi determinante no resto do meu percurso escolar, feito fora de Portugal. Mesmo com alguma dificuldade linguística e perante metodologias e programas diferentes, acabei por me adaptar razoavelmente depressa.
O percurso escolar que fiz, daí para a frente, foi possível porque as bases estavam lá; foi menos difícil do que poderia ter sido devido à “bagagem” que trazia da minha passagem pelo Colégio de Santa Clara. Não refiro isto por imodéstia, mas para evidenciar a sólida preparação de base obtida no Colégio.
Também a assimilação de valores e de princípios não se faz num único momento: compreender valores é um processo contínuo. Tal como com a assimilação de conhecimentos, não me recordo de nenhum momento individualizado de quando ou como terá acontecido a assimilação de valores, mas, tal como os conhecimentos académicos, os valores foram absorvidos através de processo um processo quase sorrateiro, passando a fazer parte do meu ser.
Os valores incutidos no Colégio de Santa Clara, assentes na matriz Católica e na valorização do próximo, foram muito importantes no meu crescimento e amadurecimento. Os valores que hoje tenho e pelos quais tento conduzir a minha vida – de forma imperfeita, obviamente – foram forjados essencialmente nessa altura.
A amizade e as relações pessoais foram e continuam a ser aspetos cruciais do meu percurso pelo Colégio de Santa Clara, não só pelas recordações, mas pelas amizades que mantenho, e são estas coisas as que mais recordo. Porém, estes aspetos são transversais a outras escolas: as crianças formam amizades que perduram e nisso o Colégio não será especialmente diferente.
Tenho a perfeita noção que a sólida aprendizagem e os valores católicos foram os aspetos fundamentais que da minha passagem pelo Colégio de Santa Clara. Estas duas bases constituíram a diferença que o Colégio de Santa Clara fez, (e continua a fazer).
Para mim, esses pilares são a marca do Colégio de Santa Clara. E é essa marca que o distingue dos demais e que devemos enaltecer, acarinhar e preservar”.
Ex aluno do Colégio de Santa Clara
Nuno Melo Alves
“Foi há quase 20 anos que entrei por aquele portão de ferro azul pela primeira vez. Com apenas 4 anos de pura inocência, Santa Clara passou a ser também a minha casa. Lá ia eu a caminho da escola, com a ansiedade típica daqueles primeiros dias. Uma sensação que nunca mais se esquece.
Era altura de ser Coelhinho! Até aos Elefantes foi um pequeno passo e a pouco e pouco, a pequena Paulinha começou a criar o seu mundo, as suas amizades, começou a aprender a crescer. Foi então que a veia artística começou a dar o ar da sua graça. Desde bem cedinho que o gosto pela música e pela dança se foi evidenciando, e o ballet foi das descobertas mais felizes que fiz enquanto criança. Ao som de músicas da Disney o bichinho nasceu, cresceu e ficou. Ainda hoje persiste o sonho de o reviver.
Do 1º ao 6º ano foi um passo. Todos cheios de histórias para contar, todas elas marcantes. Entre as aulas, os recreios, jogos de futebol entre turmas e as nossas famosas claques, os namorados, as peripécias e as partidas entre colegas, o tempo ia passando. Agora que olho para trás, passou a correr. Mas como é bom crescer!
Lembro-me de tudo: a nossa para sempre querida Mena e a sua guitarra, a Professora Rosa que tanta paciência tinha para nos ensinar, a Irmã Elvira que aparecia sempre no momento certo, a Irmã Helena que nos acompanhou na melhor viagem de finalistas de todos os tempos, quando já pensávamos ser uns homens e umas mulheres crescidas… Até o cheiro do refeitório deixa saudades! Mas das coisas que ainda hoje mais estimo, são as amizades que lá fiz. Amigos desde sempre que serão certamente amigos para sempre.
Mais do que uma instituição que prima pela educação, hospitalidade e profissionalismo, tem na alegria das suas crianças o objetivo final, sempre na esperança de ‘um Homem novo construir’. Naquela altura, marchas, cortejos, festas de Natal ou de Carnaval passaram a ser os meus hobbies preferidos. Como que a adivinhar um futuro tunante, a Tuna do Colégio também contou com a minha presença. Estava a música cada vez mais perto. O Jubileu 2000 foi para mim o auge de todas as celebrações. Com os meus 10 anos e no papel de Maria, descobri que sabia cantar.
Ah, como foi bom regressar aqui, à casa que me educou, onde tanto vivi. Como foi bom ver como tudo evoluiu, mas continua a ser ‘o meu colégio’. Voltasse o tempo para trás!
Parabéns por este meio século! São 50 anos a Educar, a ensinar o verdadeiro valor da fraternidade, o valor da amizade. Há 50 anos a preparar um futuro, há 50 anos a fazer da infância de cada criança que por lá passa uma infância mais feliz. Hoje é dia de retribuir todas as estrelas de Bom Comportamento que recebi. Olho para trás e recordo com muito carinho, saudade e uma lágrima a querer saltar, todos os momentos que passei. Muito do que sou hoje deve-se a todos os que contribuem para que esta casa continue a ser o que é. Um sincero obrigada aos meus pais e a todos os que acompanharam a minha infância. Espero um dia poder voltar a este Colégio, não para contar a minha história, mas quem sabe para que outra história possa ser contada. Será sempre um prazer.
Hoje posso dizer com um orgulho que não me cabe no peito: Santa Clara foi o meu Colégio”.
Ex aluna do Colégio de Santa Clara
Paula Costa