COLÉGIO DE SANTA CLARA – 50 ANOS A EDUCAR

Numa altura em que o Colégio de Santa Clara, em Angra do Heroísmo, assinala 50 anos de existência, o Portal da Diocese associa-se à direção do Colégio e inicia hoje a publicação de uma série de textos de opinião de ex alunos sobre a escola.

O Colégio de Santa Clara é uma escola católica Franciscana Hospitaleira, conforme o Carisma da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, legado pelos seus Fundadores Padre Raimundo dos Anjos Beirão e Madre Maria Clara do Menino Jesus que possui vários níveis de ensino desde a creche, jardim de infância, 1º e 2º ciclos.

 

 

Joana Lima Lopes

“(…) educar é realizar a mais bela e complexa arte de inteligência (…)” – A esta breve citação de Augusto Cury, acrescento que o efeito da educação dada a uma criança irá, posteriormente, reflectir-se, ou melhor, definir uma sociedade, um povo, essencialmente sob a forma dos valores praticados: respeito, justiça, solidariedade, ordem. Dito de outro modo, educar uma criança é moldar uma sociedade – relação de causa-efeito. Posto isto, não nos surpreende, então, que os adjectivos “bela” e “complexa” tenham sido postos ao serviço da definição do grandioso acto de educar.

 

Naturalmente, a educação de um indivíduo começa logo no início da vida, junto dos seus progenitores. É aí que é criado o ambiente psicologicamente estável e seguro propício à aprendizagem e ao desenvolvimento social da criança. Todavia, é de salientar que o cérebro destas últimas é extremamente plástico, existindo mesmo autores que o comparam a uma esponja capaz de absorver tudo o que a rodeia – bom e mau. Ora, é aqui que entram as creches, infantários e escolas. Cabe a estas instituições complementar e permitir a consolidação dos valores, da aprendizagem que já foi iniciada junto da família. Cabe-lhes dar continuidade ao tal ambiente psicologicamente estável e seguro que existe nos lares (e, claro, introduzir novos estímulos), a fim de que a “esponja” possa absorver valores homogéneos, não antagónicos. Isto é crucial para a formação de carácter. Verificamos que o papel destas instituições não se restringe, de modo nenhum, ao conhecimento académico, mas sim que abarca todo o processo de formação de indivíduos enquanto seres sociais. O Colégio de Santa Clara é uma destas entidades, estando a decorrer as celebrações, até 7 de Outubro de 2014, dos seus cinquenta anos de serviço à formação de pessoas!

 

Como ex-aluna do Colégio de Santa Clara, é com grande prazer que partilho a minha experiência neste fantástico colégio. Do ponto de vista académico, o Colégio sempre teve imenso para oferecer: os docentes estabeleciam uma relação próxima e personalizada com os seus alunos, o que lhes permitia direccionar o ensinamento, optimizando o aproveitamento de cada um de uma forma muito eficaz. Porque nos conheciam tão bem, eram capazes de “puxar” por nós nas várias matérias e de detectar os pontos de dificuldade. Com isto, elevava-se as aptidões e a exigência.

 

Para além da vertente académica, o Colégio de Santa Clara deu-me sólidas bases morais, complementando e dando ênfase àquilo que me era transmitido em casa, tal como foi referido. Isso, a meu ver, foi essencial. Uma das minhas mais antigas memórias de infância salienta-o: eu tinha três anos quando chegou um porquinho-da-índia à minha sala do infantário. Adorávamo-lo. A educadora criou, então, um mapa com os meses e dias da semana, colocando o nome de um de nós por baixo de cada dia. A pessoa correspondente a determinado dia seria a responsável por trazer a comida (cascas de maçã) para o animal. Se nos esquecêssemos, ele não comia (ou assim pensávamos). Sabia que o meu dia era a Terça-feira e, como tal, lembro-me de passar o dia anterior a comer maçãs e levei os meus pais a fazer o mesmo ao jantar, só para poder juntar as cascas – sentido de responsabilidade. Um outro exemplo: é tradição no Colégio haver uma viagem de finalistas no sexto ano. No entanto, nada é gratuito. Aquilo que nós desejamos só pode ser alcançado com esforço e dedicação. Sendo assim, se queríamos fazer a viagem, era necessário arranjar os fundos e, para isso, organizava-se a clássica passagem de modelos, o bazar, as rifas, os caramelos – sentido de organização, de responsabilidade. Seguíamos os professores que nos orientavam e que estavam, evidentemente, por detrás de todos os eventos – sentido de hierarquia, respeito. Era um trabalho de equipa e alunos dos vários anos (1º,2º,3º, etc.) ajudavam – solidariedade, sacrifício, integridade. E, simultaneamente, divertíamo-nos imenso – amizade, amor.

 

Para além deste papel que o Colégio de Santa Clara teve na minha formação, ele também me deu, naturalmente, preciosas memórias dos nossos espectáculos de Natal e festas de Carnaval, motivou-me a criar e a desenvolver espírito crítico, tudo isto num ambiente de incentivo e segurança incondicionais.

 

Resta-me, por fim, agradecer a todos os educadores do Colégio de Santa Clara pelos ensinamentos que me transmitiram durante o período que lá permaneci e, nesta comemoração dos seus cinquenta anos, desejar que continuem a investir e a inovar nesta complexa área que é a educação e a formar indivíduos com sólidas bases morais – facto tão valioso para a vida em sociedade.

 

Joana Lima Lopes

Ex aluna do Colégio de Santa Clara

 

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Teresa Valadão

Falar da permanência no Colégio de Stª Clara é análogo ao folhear de um álbum de recordações que se vão perpetuando no tempo, através das memórias e do ato de relembrar 5 anos (um da pré-primária, e quatro da primária – designações da altura) que corresponderam à infância.

 

Ainda encontro diariamente os colegas com quem partilhei espaços, atividades curriculares e não curriculares (designações da terminologia contemporânea), e construímos os alicerces das amizades que desafiam o passar rápido e contínuo das vivências particulares diárias.

 

Não tínhamos computadores ou tecnologias de informação de topo de gama, calculadoras, ou equipamentos sofisticados, mas conseguíamos potencializar e exercitar a criatividade.

 

As tarefas sucediam-se com ritmo veloz, e tínhamos que desenvolvê-las com diversos parâmetros que aprendi bem cedo – decorei-os e consigo dizer que são cruciais para o bom desempenho profissional e individual. Se me perguntarem: quais são? Respondo de imediato: honestidade, rigor, e acima de tudo eficiência e eficácia. Estes eram padrões chave do colégio, pois testemunhavam a integração efetiva nos itens de qualidade exigidos. Assim é que se constrói a imagem, e se determina e consolida o impacto na comunidade.

 

Estes princípios passaram a fazer parte do nosso dia a dia onde desejávamos ardentemente a categoria de sermos detentores da braçadeira de chefe de turma, ou então na 2ª classe podermos ostentar na bata imaculadamente branca e aprumada, um célebre broche com uma águia dourada – reveladora do padrão de excelência obtida devido ao desempenho académico.

 

Neste Colégio aprendi a ler, escrever (a célebre caligrafia em cadernos de linhas estreitas), a contar – as temidas tabuadas com as designadas “sabatinas” onde o raciocínio devia ser mais veloz do que o vento. Foram ministrados os ensinamentos cristãos que perduram em mim até ao momento atual – souberam tornar-me numa jovem e adulta capaz de saber discernir os caminhos do positivo e do negativo, lutando contra as agruras de uma sociedade cada vez mais light.

 

As regras eram bastante rígidas e sabíamos perfeitamente o que podíamos ou não fazer. Havia um profundo respeito mútuo, e acato da autoridade das professoras – todas elas irmãs da Congregação.

 

Neste universo havia tempo para aprender (e muito, pois quando entrei no ciclo preparatório tinha uma preparação académica que fez que nem necessitasse de explicações), rir (sem fazer pouco dos outros em tons de troça galhofeira e brejeira), brincar nos intervalos (as célebres saquinhas, ou o jogo do mata), passeios a pé (era célebre o que efetuávamos a Nossa Srª da Penha de França – dia de novidade e algazarra infantil), a lanche na quinta (com direito a um bolo confecionado por nós como se fossemos pequenos grandes cozinheiros vencedores do Master Chef), ou a deslocação à Ermida de Stª Catarina para a homenagearmos no seu dia festivo). Hoje quem ler isto pode pensar, pequenas coisas sem importância, direito a transporte ou viagens a cenários longínquos e desconhecidos. Para nós representavam muito, e tinham um cariz que foi tão marcante e notório tal como se tivéssemos ido a contextos civilizacionais diferentes. Diga-se: dávamos valor a tudo o que era proporcionado, e éramos felizes quando surgiam essas oportunidades.

 

Tínhamos ginástica, canto coral, música, e eram famosas as festas ou saraus culturais (o Colégio habituou sempre a comunidade a ter excelência e inovação no que apresenta – cada projeto da sua vez, mas perfeito). Outro momento alto era a festa promovida em honra do aniversário da Madre Superiora – senti-me honrada e lisonjeada em efetuar a primeira leitura perante as autoridades mais relevantes do panorama civil e religioso da altura. Eram momentos solenes e grandiosos que perduram bem gravados na memória.

 

Concluo com a ideia de que espaços (Colégios) como este são fundamentais pois preparam-nos com extrema qualidade para a vida – tanto na vertente profissional onde temos como lema a ideia de que “o infinito é a minha meta”, ou então pessoal/individual – o eu que luta constantemente para ultrapassar e afastar as tempestades de nuvens densas que teimam em abater-se sobre a vida dos cidadãos. Os fundamentos e os ensinamentos fora dados, agora compete a cada pessoa fazer a escolha certa.

 

Teresa Valadão

Ex aluna do Colégio de Santa Clara

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