«Que casos destes nunca mais se repitam», frisou Francisco num discurso na sede governamental chilena
O Papa abordou hoje os casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições da Igreja Católica no Chile, durante um encontro em Santiago com as autoridades políticas, civis e membros do corpo diplomático do país, no início do segundo dia da sua vista àquele país da América do Sul.
“Não posso deixar de dar conta da vergonha que sinto pelo dano irreparável causado às crianças por ministros da Igreja”, frisou Francisco, no discurso que fez no Palácio de La Moneda, a sede do Governo chileno, perante a presidente Michelle Bachelet.
No seu discurso, feito em espanhol, o Papa argentino salientou ainda a importância da Igreja Católica no país “empenhar-se para que casos destes nunca mais se repitam”.
“Desejo unir-me aos meus irmãos no episcopado, porque é justo buscar o perdão e apoiar com todas as forças as vítimas”, salientou ainda.
Referindo-se depois à sua presença em território chileno, Francisco declarou a sua felicidade poder ir ao encontro de uma nação “rica na sua diversidade cultural e geográfica”, que hoje vive um período de “crescimento na democracia”, depois de anos de “dor” motivados pela ditadura.
Recordando que “as conquistas fazem-se dia-a-dia”, o Papa argentino exortou os atuais responsáveis políticos, quer a presidente cessante, Michelle Bachelet, quer o novo presidente já eleito, Sebastián Piñera, a continuarem a empenhar-se pela consolidação do “sonho da democracia”, para que esta “não se limite a aspetos formais” mas que seja de facto “para todos”.
“Um lugar, uma família chamada Chile”, desafiou o Papa, que destacou sobretudo a importância do “diálogo” como forma de relação “entre as autoridades e o povo”, para que todos trabalhem em conjunto pelo desenvolvimento.
Neste contexto, Francisco recordou alguns desafios que persistem no país, como o desemprego, a situação dos povos indígenas, “cuja cultura deve ser protegida para que não se perca uma parte da riqueza desta nação.
Também “os migrantes que batem à porta do país”, os “jovens que devem poder sentir-se protagonistas” desta sociedade, e ser protegidos do “flagelo da droga”, os idosos e as crianças.
“Devemos ouvir os mais pequenos que esperam soluções reais de futuro”, frisou Francisco, que alertou ainda para o desafio ecológico que o mundo, e também o Chile, têm pela frente.
É urgente “fomentar uma cultura pela casa comum, contra os problemas que hoje persistem, ousar um olhar diferente, um estilo de vida e uma espiritualidade que se oponha ao paradigma do tecnocrático”, disse o Papa, que destacou neste caso “a sabedoria dos povos indígenas, que pode dar um grande contributo”.
Francisco concluiu a sua intervenção fazendo votos de que esta “abençoada nação” possa ver “crescer os seus sonhos”.
O protocolo do encontro no Palácio de La Moneda prosseguiu depois com um encontro privado entre o Papa e a presidente Michelle Bachelet, que na sua intervenção realçou o esforço que o Papa tem feito contra as “desigualdades” no mundo e declarou a sua esperança de que o Chile possa continuar no seu percurso de desenvolvimento, em termos democráticos e sociais.
O programa deste segundo dia da visita apostólica do Papa ao Chile prevê ainda a partir das 13:30 (hora portuguesa) uma deslocação ao Parque O’Higgins, na capital chilena, onde Francisco irá celebrar uma Missa ao ar livre pela paz e a justiça.
Depois, ao fim da tarde, pelas 19h00, o Papa argentino estará no Estabelecimento Prisional Feminino de Santiago, para estar com cerca de 400 reclusas.
Para a noite estão reservados encontros com representantes da Igreja Católica do Chile.
À partir das 20h15, o Papa estará com cerca de dois mil sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas, na Catedral de Santiago, e depois com os bispos, na sacristia da Catedral.
Francisco terminará o seu dia com uma visita privada ao Santuário de São Alberto Hurtado, um sacerdote jesuíta chileno que se destacou ao serviço dos mais pobres e na divulgação da Doutrina Social da Igreja, canonizado pelo Papa Bento XVI em 2005.
O Papa argentino estará ainda no final desta terça-feira num encontro também mais reservado, com os sacerdotes da Companhia de Jesus.
A 22ª viagem internacional do pontificado do Papa Francisco, neste caso à América do Sul, primeiro ao Chile e depois ao Peru, decorre até domingo, com passagens por seis cidades chilenas e peruanas, num percurso total de mais de 30 mil quilómetros.
O Chile recebe um Papa mais de 30 anos depois da visita de São João Paulo II, em 1987.
(Com Ecclesia)