Chegou o mês de Dezembro

Por António Pedro Costa

Entramos em dezembro, em pleno mês de Advento, o tempo propício para nos prepararmos para viver intensamente o milagre da encarnação, cuja chegada do Menino Jesus ao Mundo, anunciado pelos profetas antigos, veio consumar a profecia e predispormo-nos a aprontar os nossos sentidos para sermos agentes de alegria e muita solidariedade.

No entanto, neste tempo, entra-nos todos os dias pela casa dentro as notícias mais horripilantes sobre as guerras no Mundo, mormente o que está a acontecer no Médio Oriente e na Ucrânia. Assistimos a tudo isto com a sensação de que nada podemos fazer para acabar com estes conflitos fratricidas. Não podemos ir ajudar na frente da batalha, mas podemos ser sinal de gestos de paz junto dos nossos familiares, amigos e conhecidos, porque a paz universal depende de pequenas atitudes de simpatia e compreensão para com os que nos rodeiam. Só assim, poderemos viver a grande festa do Natal.

Por isso, o mais importante nestes dias é procurarmos ir ao encontro da verdadeira luz que ilumina o Mundo. Por estes dias, saímos às ruas das nossas freguesias, vilas e cidades e encontramos as luzes cintilantes por todo o sítio, também nas nossas casas, nas lojas com as suas montras bem decoradas, incentivando ao consumo apressado para que as prendas para os nossos não se esgotem das prateleiras comerciais.

Temos que estar atentos, visto que tais iluminações e decorações podem levar-nos a perder o foco da estrela cintilante que nos aponta o caminho para Belém, local que os livros sagrados desde há séculos apontaram como o local do nascimento do Messias.

Mas a cidade de Belém que se encontra em clima de guerra poderá localizar-se bem perto de nós, e isto porque podemos encontrar o local do Menino Jesus quando partilhamos um sorriso ou fazemos uma doação simples a alguém perto de nós que se encontra em situação precária; quando vamos ao encontro de um amigo ou um idoso doente ou em solidão; quando assumimos o propósito de ajudar  uma pessoa que atravessa um momento difícil; quando celebramos em família ou em comunidade o acontecimento mais importante e sagrado da vinda à Terra do Menino-Deus; quando rezamos pelo nosso mundo que parece estar de pernas para o ar; ou seja quando nos fazemos próximos do nosso semelhante.

Por outro lado, a tradição de armar o presépio nas nossas casas poderá ajudar-nos a embarcarmos numa verdadeira viagem até Belém, dado que o presépio estimula-nos os afetos, recuamos no tempo e damos azo a que os nossos filhos e netos vivenciem e entranhem a mais bela história de doação jamais repetida em todo o seu esplendor.

O Papa Francisco disse que o Presépio é um convite a “sentir”, a “tocar” a pobreza que escolheu para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à cruz, e um apelo ainda a encontrá-lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos mais necessitados.

Que bom seria se o nosso Mundo fosse, neste mês de dezembro e sempre, uma grande família, sem guerras, sem miséria, sem drogas e sem fome e pudéssemos ganhar coragem para sermos úteis aos que nos rodeiam e mesmo àqueles que não conhecemos, lutando, cada um mesmo com o seu pequeno contributo, em ordem a alcançarmos um Planeta onde haja uma noite como a de Natal, celebrando com alegria o nascimento do Menino e que ela se estendesse por todos os dias e noites do ano.

Contemplar o presépio é olhar para um instantâneo singular que nos comove, não apenas nas figurinhas do dia a dia que caraterizam o Natal açoriano, como dirige o nosso olhar para a gruta onde nasceu o Menino em palhinhas “douradas” e encontrar um casal judeu que se detém com o filho nos braços para melhor o contemplar na sua simplicidade. Que milagre insondável em que Deus encarnou num Menino que chora como linguagem humana idêntica a qualquer outra criança recém-nascida, mas que foi prenúncio do que seria o grande objeto da sua vinda num portal nos arredores de Belém.

É Natal e alegram-se as crianças e os adultos e o mundo, por uns instantes, saboreia a palavra solidariedade, mas em tantas partidas deste Mundo, as sombras do mal fazem “chorar” o Menino-Deus, com tantas guerras sangrentas e desentendimentos entre os homens que não param, nem na noite mais santa do ano e a matança dos inocentes continua.

Acorramos a Belém, com a ânsia dos que pedem com valentia as bênçãos do Menino Jesus.

 

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