Catedral diocesana entra em 2018 com três celebrações: 450 anos do alvará para a sua edificação; 400 anos da sua construção e as bodas de prata do seu órgão de tubos
A Sé de Angra acolheu esta quarta feira o primeiro de diversos eventos que irão celebrar as efemérides jubilares que a catedral açoriana está a viver este ano, nomeadamente, com a inauguração da exposição de fotografia “A Sé”, organizada pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e a conferência “São Salvador de Angra – uma catedral sebástica”, por Mateus da Rocha Laranjeira, mestre em história da arte. A primeira celebração ficou, ainda, marcada por um recital de órgão, por Olga Lysa.
A Sé de Angra assinala este ano os 450 anos do seu alvará régio, que permitiu o inicio dos trabalhos de construção do primeiro edifício; os 400 anos do final da sua construção e os 25 anos da inauguração do seu órgão de tubos.
“As efemérides fazem parte do nosso património e do nosso passado e sobretudo fazem parte de uma história de uma comunidade cristã” referiu ao Igreja Açores o bispo de Angra destacando o valor do edifício e do que ele representa.
“Esta é a igreja mãe da diocese” disse D. João Lavrador, e por isso são 450 anos de um edifício mas também de um lugar onde toda a igreja diocesana se revê e sente como sinal do seu todo”.
“Olhar para o passado é olharmos para as raízes que nos são comuns e, de olhos postos nelas, equacionarmos os desafios presentes e futuros. E esta casa representa esse passado mas também o presente e o futuro, procurando abarcar crentes e não crentes, abraçando todos”, acrescentou ainda.
Também o pároco da Sé, cónego Hélder Fonseca Mendes, destaca a “notoriedade” que esta igreja dá à cidade e a “centralidade” em relação a toda a região, “sendo o único marco, talvez o mais antigo, que é o marco de unidade regional e de centralidade que a Sé tem no contexto regional”.
“Do ponto de vista cristão e da fé, a Sé de Angra significa a unidade da fé e a eclesialidade. É aqui que está o bispo e onde está o bispo está a igreja e a unidade da fé e dos cristãos”, sublinha o sacerdote que é também o vigário geral da diocese de Angra.
Também o presidente da Câmara Municipal de Angra destaca a importância do edifício, da sua história e, sobretudo, do seu simbolismo no contexto da cidade e da história dos Açores.
“A cidade de Angra é cidade porque foi desígnio real criar uma cidade para instalar a diocese de Angra. Nascemos com meses de diferença e com um propósito único de criar a centralidade que depois permitiu o desenvolvimento da diocese que foi a primeira instituição de dimensão regional; portanto a primeira estrutura que abarcou todas as ilhas” referiu Álamo Meneses ao Igreja Açores.
“Há uma ligação que se prolonga até hoje e quando celebramos uma efeméride da Catedral estamos a celebrar a própria cidade. É obrigatório que o município se associe a esta efeméride”, conclui o autarca da cidade património.
As comemorações deste ano jubilar na Catedral açoriana começaram com a inauguração de uma exposição de fotografias que permite perceber o que foi a Sé e o que é hoje, seguindo-se uma conferência sobre a história da construção do edifício desenhado e planeado em várias fases e por vários arquitectos.
Durante a conferência “São Salvador de Angra – uma catedral sebástica”, proferida por Mateus da Rocha Laranjeira, que falou do terreno, da planta, do projecto, dos arquitectos, dos mestres de obras e dos processos de construção, percorreram-se as várias fases de construção deste edifício bem como os estilos que abraça.
A opção foi no sentido de se construir um novo templo no mesmo sítio da primitiva igreja do Santíssimo Salvador (pequena demais), mas alargando muitíssimo o espaço, que acabou por ocupar todo um quarteirão no centro da cidade, delimitado pelas rua da Sé, Carreira dos Cavalos, da Rosa e do Salinas. Para esse fim foram destinados 3 mil cruzados anuais dos direitos régios sobre o pastel na ilha de São Miguel, enquanto durassem as obras.
O arquiteto Luís Gonçalves, que elaborou o projeto inicial concebeu um templo maneirista ou de arquitetura chã portuguesa, que seria depois sucessivamente adaptado por outros profissionais, nomeadamente João de Carvalho.
A pedra fundamental foi lançada em 18 de novembro de 1570, em cerimónia solene, tendo os seus trabalhos se estendido por meio século, com, pelo menos um período de interrupção nos finais do século XVI, durante a Crise de sucessão de 1580.
O edifício começou a construir-se pela fachada principal, para que a antiga Igreja de São Salvador pudesse continuar a servir ao culto. Foram construídas quatro capelas, com recursos de particulares e das irmandades, e as sacristias. No início do século XVII foi construído um claustro, conhecido pelo sítio, que serviu no século XIX de cemitério e desapareceu na década de 1950 para dar lugar ao arranjo que atualmente existe na frente para a rua da Rosa. No século XVIII, também nas traseiras, adicionou-se-lhe a Sacristia Grande e a Sala do Tribunal Eclesiástico. A Igreja foi consagrada de novo em 1808.
O terramoto de 1980 causou extensos danos ao edifício. Com os trabalhos de restauração a decorrer, a 5 de julho de 1983, registou-se a derrocada de uma das torres e em 25 de setembro daquele ano, um grande incêndio que destruiu por completo as talhas douradas dos altares, os órgãos de tubos e o teto em caixotões.
Nessas catástrofes perdeu-se um enorme espólio artístico, principalmente de decoração barroca, mas foi possível reedificar o templo que manteve a sua imponência e continua a ser o centro religioso dos Açores e um importante centro cívico da cidade, onde decorrem os mais proeminentes acontecimentos. Em torno da construção existiu sempre um amplo adro. Esse adro, com escadaria para a rua da Sé, foi melhorado em 1845 na frente para a rua do Salinas. Esse adro alberga em nossos dias uma estátua do Papa João II que assinala a visita do único papa moderno nos Açores, a 11 de maio de 1991.
A igreja da Sé integra a Rota das Catedrais e está classificada como Monumento Regional.
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