Mudança atrasou a realização do culto por “não estarem reunidas todas as condições”. Visitadores católicos retomam trabalho regular esta semana.
A celebração da eucaristia no novo Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo (EPAH) será retomada no próximo fim de semana depois de “não ter sido possível” no sábado passado, por falta de algum equipamento.
“A Eucaristia é um momento muito sério e que requer alguma dignidade e nós achámos que essas condições não estavam reunidas e, apesar da Direcção da cadeia se ter empenhado, preferimos não o fazer”, disse ao Portal da Diocese Fernanda Evangelho, uma das 13 visitadoras que regularmente asseguram a pastoral penitenciária da Igreja católica no EPAH.
Desde o dia 17 de Novembro que todos os reclusos, detidos em Angra se encontram nas novas instalações do EPAH, incluindo aqueles que já foram transferidos de outras cadeias, nomeadamente da Horta, na ilha do Faial, formando uma população prisional de 100 reclusos.
O novo estabelecimento prisional foi inaugurado recentemente mas ainda não está totalmente equipado, pelo que a ação da pastoral penitenciária é, ainda mais importante, sobretudo no auxilio material aos reclusos através do fornecimento de mobiliário, de roupas, de produtos de higiene, para além daquele que é o seu “mais precioso contributo” que é de índole espiritual.
“Os detidos estão sempre à nossa espera. São seres humanos que precisam do nosso consolo. Não me interessa o que fizeram ou deixaram de fazer. Estão a cumprir uma pena imposta por terem cometido um crime mas não deixam de ser pessoas”, diz Fernanda Evangelho que há 43 anos presta apoio aos reclusos da cadeia de Angra.
Neste momento 12 voluntários e o capelão, Pe Marco Gomes, prestam assistência espiritual aos reclusos que professam a religião católica.
Mas “serão necessários mais no futuro”, diz Fernanda Evangelho para quem esta nova realidade, com mais reclusos e sobretudo com reclusos com um outro perfil, exige “mais gente e, pessoas que estejam à altura dos desafios”.
Além da Eucaristia, os visitadores católicos dão “catequese” para adultos e organizam diversos trabalhos e ações por forma a manter os reclusos sempre interessados, como é o caso da celebração dos aniversários uma vez por mês ou da realização da Festa do Divino Espirito Santo ou outras datas emblemáticas e de profundo significado cristão. A avaliação é feita de forma trimestral com a entrega de”relatórios” aos responsáveis pela cadeia.
“As duas horas que passamos com eles são fundamentais porque constituem também momentos de socialização”, acrescenta Fernanda Evangelho.
A este trabalho somam-se, também, outros de apoio às famílias ou o apoio nas saídas precárias, garantindo o alojamento a quem não tem laços na ilha, na inserção social ou até num futuro emprego.
Neste momento está a decorrer uma formação semanal de duas horas e meia, para os visitadores intitulada Relação de Ajuda- ação social e marginalidade.
O objetivo é habilitar quem assume o acompanhamento dos reclusos na realização de processos de integração, das “faculdades essenciais” para “superar o mero assistencialismo”, disse ao Portal da Diocese o capelão e responsável pela formação, Pe Marco Gomes.
“O método é a aprendizagem e a exercitação de aptidões específicas da relação de ajuda e interiorização de atitudes constitutivas do carácter intimo do ajudante”, conclui o capelão.
A Pastoral penitenciária está delineada em função do documento pontifical elaborado por João paulo II, no ano do jubileu das Cadeias onde se define que a presença da Igreja nestes lugares mais do que um ato de caridade ou de assistencialismo “é a busca de um encontro com um irmão que está encarcerado não numa lógica de conversão ou de angariação mas de promover um verdadeiro encontro que traga alguma esperança”, disse ao Portal da Diocese o responsável diocesano pela Pastoral Penitenciária.
De acordo com o Pe Teodoro Medeiros “a esperança que se transmite, o reconhecimento que se dá a quem põe em causa a sua orientação de vida porque está preso, é fundamental”.
De acordo com este responsável é importante que a Igreja consiga transmitir a ideia (que de resto enforma o espírito da lei) de que “ a cadeia não é um lugar de punição mas de reabilitação, onde se reaprende para depois se voltar à sociedade” embora reconheça que são os reclusos os primeiros a dizerem que estão a pagar uma dívida.
A Cáritas, que recentemente assumiu a nível nacional a coordenação da ação pastoral nas cadeias, lançou o Guia do visitador onde se estabelecem algumas regras e orientações para quem presta este serviço “que não é fácil”.
A nova cadeia, que dispõe de um espaço interconfessional, que está a ser ultimado logisticamente, está construída nos terrenos da antiga Casa do Gaiato, na freguesia da Terra Chã, e tem uma capacidade prevista para mais de 200 reclusos.
A sua construção estava anunciada há cerca de 14 anos, mas a construção apenas avançou em julho de 2010, orçada em 25,4 milhões de euros.
A lotação final ainda não está definida, mas, em março deste ano, a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, admitiu que a capacidade do equipamento poderá ser de 260 lugares.
Este é o único projeto de raiz do Ministério da Justiça, que, em novembro de 2011, devido a restrições orçamentais, abandonou o projeto do Governo de José Sócrates de construção de 10 novas prisões, orçadas em 310 milhões de euros.