Casa do Gaiato de São Miguel projeta “novo” lar de transição

Residência para rapazes mais velhos vai ser “redimensionada”

A Casa do Gaiato de São Miguel está a reequacionar o modelo para o “novo” lar de transição, destinado a rapazes já com um elevado grau de autonomia, disse ao Sítio Igreja Açores o responsável pela Fundação Obra do Padre Américo, Pe Fernando Teixeira.

“Vamos fazer uma alteração á atual casa quer em termos físicos quer em termos de gestão pois o projecto anterior foi bom e bonito mas a determinada altura foi um problema que nos causou muita dor”, referiu o sacerdote.

O lar de transição é uma das quatro casas de acolhimento que a Fundação Obra do Padre Américo, Casa do Gaiato de São Miguel, propriedade da Diocese de Angra, possui nos Açores. Destina-se a jovens com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, que já tenham um “certo grau de autonomia” e “tenham capacidade para gerir uma casa de forma acompanhada e tutelada”.

O lar de transição tem neste momento apenas um rapaz acolhido que deverá passar para outra das casas.

“A experiência foi muito positiva, mas infelizmente acabou mal, porque se calhar houve demasiada liberdade sem se ter exijido responsabilidade devida. E, fazendo agora o balanço diria que deveríamos ter feito ao contrário”, diz o Pe Fernando Teixeira, lamentando que os problemas tenham “vindo de fora”, alguns deles “introduzidos por adultos menos escrupulosos que se serviram dos jovens”.

A Fundação chegou a ponderar o encerramento desta valência, mas “feito um balanço mais a frio achámos que era melhor redimensionar o projeto e dar-lhe outra consistência”. De resto uma situação que está a ser estudada com as técnicas da instituição.

O lar de transição situa-se no único imóvel propiedade da Fundação, pois as restantes três casas são arrendadas ou cedidas temporariamente pelo Governo Regional.

A Casa do Gaiato estava instalada nas Capelas, na estrada de Mont´Alegre, mas por pressão do Ministério da Justiça, que equacionou a possibilidade de ali instalar o futuro Centro Educativo dos Açores, para jovens delinquentes, sujeitos a medidas tutelares educativas, viu-se obrigada a abandonar o espaço de sempre .

Hoje a Fundação é apenas uma das entidades que desenvolve projectos naquele espaço gerido pela Cresaçor.

“O trabalho que está a ser desenvolvido é importante e meritório, mas nós precisávamos daquele espaço para estes rapazes e, afinal, o Centro não se instalou ali”, lamenta o responsável pela Casa do Gaiato.

A Instituição acolhe atualmente 25 crianças, distribuídas pelas quatro residências. No lar de transição está apenas um adolescente; na “frateria”- a única casa mista que acolhe irmãos- estão nove e as outras casas têm 15 rapazes, distribuidos e organizados por idades.

São acolhidos por ordem do Tribunal de Família e Menores e acompanhados permanentemente por adultos, técnicos e auxiliares, num total de 20 pessoas.

“A nossa primeira preocupação é que eles estejam bem; se sintam confortáveis e percebam que nós queremos ajudá-los”, diz o Pe Fernando Teixeira que reconhece que hoje os problemas “são de outra natureza”.

“Antes vinham para cá as crianças que eram pobres e abandonadas pelos pais; hoje só vêm por ordem do Tribunal e muitos chegam revoltados porque não se querem separar da familia nem sujeitar-se a regras” afirma o sacerdote.

No entanto, “acabam por se adaptar porque percebem que têm comida boa, a tempo e horas, carinho, compreensão e atenção” sublinha o sacerdote insistindo na ideia de que “a Casa do Gaiato está aqui para tentar ajudar estes jovens a encontrarem um projeto de vida” e, para isso, aposta na formação “humana, intelectual, cultural e social” destas crianças.

“Queremos, sobretudo, que eles consigam ganhar resistências para ultrapassar os perigos da rua” diz em jeito metafórico o sacerdote que garante que enquanto estiver à frente da Casa do Gaiato, nenhuma residência encerrará.

A Obra do Padre Américo quando chegou aos Açores, tal como no continente, era uma obra de rua, “mas em 1951 o Pe Elias quis autonomiza-la para ter mais capacidade de resposta”, lembra o pe Fernando Teixeira ao Sítio Igreja Açores.

Desde então passou a ser uma Fundação Diocesana, mas a Diocese não tem qualquer encargo financeiro com esta casa.

“Os custos da Casa do Gaiato são assegurados na íntegra pelo protocolo que temos com a Segurança Social e também recebemos, em dinheiro e em géneros muitas ajudas de benfeitores” frisa o Pe Fernando Teixeira que garante “que não existem dificuldades financeiras”. Pelo menos agora, porque no passado “passámos por muitas dificuldades”.

O lema da casa é “o pobre ajuda o pobre” e por isso, não há excedentes nem desperdícios. “O que sobra ou o que temos a mais e não precisamos repartimos com as familias dos nossos rapazes” até como forma “deles próprios sentirem que estando aqui estão também a ajudar em casa”.

Questionado sobre o grande desafio que a Casa tem pela frente, o sacerdote, que está desde sempre ligado a esta obra social, diz peremptoriamente: “ajudar a sociedade e as familias a não precisarem de nós. Esse é o grande desafio desta instituição católica como de todas as outras instituições porque seria um sinal de que estava tudo bem e as familias tinham condições materiais e afetivas para cuidar dos seus”.

A Fundação Obra do padre Américo é uma das quatro fundações diocesanas no arquipélago dos Açores.

(Noticia actualizada às 15h00)

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