Carlos Amaral considera que a Doutrina Social da Igreja é a alternativa ao modelo de sociedade moderna

O professor Universitário refletiu sobre a crise atual; afirma que o problema não está nos mercados mas nos valores que enformam a sociedade e apela a um maior respeito pela intervenção da Igreja.

A matriz subsidiária da Doutrina Social da Igreja, presente na Exortação apostólica do Papa Francisco, é a “única resposta” que permite conjugar os direitos e as liberdades de cada um com a igual dignidade de todos, disse este fim de semana Carlos Amaral, professor da Universidade dos Açores, no Departamento de História e Ciências Sociais, durante as Jornadas Culturais “Doar é comunicar, Comunicar é Evangelizar”, organizadas pela Ouvidoria da Ribeira Grande, em São Miguel.

 

Durante cerca de uma hora, o docente universitário procurou enquadrar as razões da “crise profunda” que atravessa a humanidade, ultrapassando as fronteiras dos países, e que “não é apenas económica, financeira mas sobretudo de valores” porque se alicerça “numa conceção de homem e de sociedade” herdeira de um modelo em que o homem “é um ser acabado”, quando “efetivamente não é”.

 

“Nem no paraíso o homem encontrou a felicidade. Precisou de Eva e foi da União de ambos que a humanidade despontou”, acrescentou o conferencista sublinhando que “a dignidade de cada ser humano exige o respeito e a salvaguarda da igual dignidade de todos os seres humanos”.

 

 

Carlos Amaral passou em revista os dois modelos de sociedade propostos pela modernidade – o socialismo e o liberalismo- para concluir que ambos defendem o primado do homem e das suas necessidades individuais e apenas divergem “no modo” como se alcança esse objetivo, valorizando mais o papel do estado ou dos mercados, respetivamente.

 

Para o autor a questão não é de esquerda ou de direita, trata-se apenas de compreender que a satisfação das necessidades do homem não pode perder de vista o interesse geral e comunitário.

 

Sobretudo, diz o conferencista se se tiver em conta que num universo de recursos escassos, como vivemos atualmente, o liberalismo “transforma o homem no inimigo do homem” e o socialismo “reduz a pessoa à condição de instrumento para o serviço dos interesses do todo”.

 

A solução, diz o professor universitário é colocar em prática os fundamentaos do Cristianismo, nos quais se alicerça a Doutrina Social da Igreja, assente nos princípios da autonomia e da subsidiariedade.

 

Os tempos sendo de crise são “desafiadores e exigentes” porque requerem que “cada um tenha presente e seja capaz de se afirmar como sendo mais do que ele ou ela própria”, diz Carlos Amaral.

 

“O que o cristianismo e a doutrina social da Igreja nos fazem, mais não é do que prolongar este raciocínio até ao limite da humanidade, sublinhando o quanto os destinos do género humano se encontram irmanados e consolidados”, concluiu.

 

 

Carlos Amaral, frisou, ainda, a necessidade de valorizar o papel da intervenção da Igreja, que não pode ser relegado para a esfera da vida privada como o liberalismo preconizou ou simplesmente aniquilada, como pretendeu o socialismo.

 

“Relegar a igreja para a esfera da vida privada, não permitindo que a sua intervenção penetre sequer na vida comunitária equivale a negar-lhe toda e qualquer capacidade de ação”, conclui.

 

Carlos Amaral foi um dos oradores nas Jornadas Culturais da Ribeira Grande que se realizaram este fim de semana, promovidas pela Ouvidoria da Ribeira Grande,  no âmbito das ações previstas para o ano pastoral dedicado à comunicação e à evangelização.

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