Além dos cabazes de alimentos, a instituição ainda paga rendas de casa, de eletricidade e de medicamentos
Cinquenta famílias estão a receber apoio regular da Cáritas da Ilha Terceira e da de São Miguel através de cabazes alimentares mensais e do pagamento de despesas, como rendas de casa, eletricidade e gás, 25 das quais ao abrigo do programa nacional Heróis Doar.
Este programa nacional, a que a Cáritas Diocesana também acede, visa acudir a situações de desemprego ou insuficiência de recursos financeiros, decorrentes da pandemia e destina-se a disponibilizar verbas para fazer face às despesas mensais dos agregados familiares. Em entrevista ao Igreja Açores a diretora da Cáritas Diocesana, Anabela Borba, afirmou que há cerca de 25 famílias a serem ajudadas pela Cáritas a que se juntam outras tantas que recebem um apoio mensal por parte da Cáritas de São Miguel, numa parceria com o Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
“Este é um apoio regular da Cáritas de São Miguel a estas famílias”, mas “estamos prontos também, dentro da nossa disponibilidade, a acudir à comunidade de Rabo de Peixe, na sequência da pandemia” referiu ao Igreja Açores o presidente, José António Gomes.
“Nós já estamos a apoiar no terreno esta população fortemente afetada pela Covid, nomeadamente através da prestação de serviços de lavandaria e desinfeção de vestuário”, precisou o dirigente. Mas, na maior ilha do arquipélago, neste tempo de pandemia as atenções da instituição católica têm-se centrado nos sem abrigo.
A instituição dispõe de instalações para acolher diariamente os sem abrigo e pessoas com dependências e, na verdade, com esta situação pandémica houve que proceder “a uma reorganização interna de forma a evitar os contágios”, disse ainda José António Gomes.
“Temos colaborado intimamente com a Direção Regional da Solidariedade Social e também com a da saúde pois trata-se de uma situação que exige medidas reforçadas de controlo da transmissão da doença”, referiu ainda, sublinhando que o apoio tem sido ao nível do alojamento mas também da alimentação.
Os números de novas situações de carência, decorrente da pandemia, embora não sejam tão dramáticos como no território continental já começam a ser expressivos e mais casos poderão surgir, referem os responsáveis.
Ainda hoje a nova presidente da Cáritas Nacional , Rita Valadas, numa entrevista à Rádio Renascença e à Agência Ecclesia alertou para o aumento da pobreza e do desemprego, por causa da pandemia.
“Pessoas que não estavam habituadas a ter de depender de terceiros, para sustentar a família e garantir o seu dia a dia, vêm a nós e vêm com situações bastante aflitivas. Não são pessoas que estejam habituadas a uma subsidiodependência, a ter de pedir”, precisa a responsável.
Rita Valadas tomou posse na última quinta-feira para um mandato de três anos como presidente da Cáritas Portuguesa.
A entrevistada destaca o risco de aproveitamento político da crise sanitária e económica.
“Há aqueles que trabalham a favor dos vulneráveis e com os vulneráveis, para a resolução dos seus problemas, e aqueles que exploram a vulnerabilidade. Há sempre quem serve e quem se serve”, observa.
A responsável destaca o simbolismo de a Conferência Episcopal ter escolhido uma mulher para presidir à Cáritas Portuguesa.
“Encaro isso com muita naturalidade, mas acho que é um sinal que dignifica muito a Igreja. Penso que muita gente se vai sentir alinhada com esse pensamento”, refere.
Rita Valadas sublinha que a Cáritas é a instituição “mais capilar” que existe.
Se a Cáritas não chegar, ninguém lá chega. A aposta é tentar olhar para os escondidos, realmente, para aqueles que não sendo naturais deste processo, precisam de ajuda e estão escondidos por vergonha ou outras questões”.
A presidente da Cáritas Portuguesa admite que em situações de grande crise “há sempre o risco da sobreposição de recursos”.
“Ninguém consegue resolver nenhuma crise sozinho e os recursos de todos têm de ser colocados à fruição dos mais vulneráveis”, aponta.
Questionada sobre a vacinação contra a Covid-19, Rita Valadas admite que possam existir dificuldades, sobretudo com a população idosa institucionalizada, e defende e necessidade de “rentabilizar os recursos”, para que as vacinas cheguem “o mais próximo possível” das populações.
O Governo criou uma comissão de coordenação para elaborar, até 15 de dezembro, a estratégia nacional de combate à pobreza, trabalho em que a Cáritas foi chamada a participar.
A responsável lamenta que em 2020 não tenha sido ainda possível superar a pobreza e a exclusão, desejando uma estratégia que “utilize os recursos já existentes e o conhecimento que existe sobre os diferentes tipos de pobreza”.