Cáritas aponta novos caminhos na luta contra a pobreza

Responsabilidade social e parcerias com o tecido empresarial são prioridade.

A crise económica e financeira que atravessa a sociedade atual exige de todos uma nova abordagem da economia que tenha por base uma maior responsabilidade social, disse a Presidente da Cáritas Diocesana este sábado no Fórum sobre responsabilidade social promovido pela organização católica numa parceria com a Universidade dos Açores, em Angra do Heroísmo.

 

“A conjuntura atual reclama mais criatividade e uma mudança de paradigma: abandonar o donativo e passar para uma estratégia de parceria e contrato social, através da abertura a terceiros e à responsabilização mútua”, disse Anabela Borba.

 

O número crescente de solicitações no último ano- a Cáritas seguiu 2200 pessoas- a par de um “recuo dos investimentos do estado” nas funções sociais, “torna inviável a mera abordagem assistencialista”, sendo urgente implementar novos compromissos que tenham por base a responsabilidade social, envolvendo diferentes setores da sociedade.

 

“Não se trata de uma lógica economicista da solidariedade mas também não podemos desenvolver a nossa atividade assente em donativos esporádicos sem rasto”, afirma a Presidente da Cáritas Diocesana.

 

A Cáritas tem procurado desenvolver parcerias com várias empresas e fundações- EDP e Gulbenkian- de forma a alargar o domínio da sua ação, pois hoje “os problemas e as exigências também são outros”.

 

“Importa gerar mais confiança e abertura com o sector terciário. Daí o lançamento do Programa de Responsabilidade Social”, em parceria com o Departamento de Economia e Gestão da UAç e Empresas parceiras do programa Vértice, conclui Anabela Borba.

 

De resto, a Universidade dos Açores, paceira desta iniciativa, desenvolveu no âmbito do curso de Economia e Gestão, uma disciplina de Responsabilidade Económica e Social.

 

“É uma falácia afirmar que temos de resolver primeiro os problemas estritamente financeiros e só depois os problemas sociais, porque não só nunca é resolvido o problema económico como ainda a parte social é também um instrumento de desenvolvimento”, disse um dos responsáveis do Departamento de Economia e Gestão da UAC, Nuno Martins.

 

O professor do Pólo da Terra Chã lembrou ainda, que “os problemas sociais (pobreza, sustentabilidade) são a área mais importante do ponto de vista da gestão” pois “a responsabilidade social não é mera opção estética ou operação de charme. É fundamental na gestão”.

 

O Bispo de Angra, presente também no encontro, deixou uma palavra para a necessidade de mudança de modelo de desenvolvimento económico das nossas sociedades. E propôs um regresso aos princípios da Doutrina Social da Igreja.

 

“Esta crise põe em causa o modelo de desenvolvimento da economia. É necessário outro modelo que promova a pessoa humana. A empresa tem que ser sustentável mas a “economia” tem a ver com a casa comum e com as pessoas que a habitam”, disse o prelado diocesano sublinhando que isso exige também, um esforço da responsabilidade social por parte das empresas.

 

Do lado do Governo Regional dos Açores, a Diretora Regional da Solidariedade e da Segurança Social destacou a necessidade de, num momento de crise, a sociedade dar outras respostas aos problemas sociais não ficando “pendurada” apenas nas respostas oficiais.

 

“A promoção social não pode ficar a cargo exclusivamente do Estado e do sector terciário mas deve também envolver a iniciativa privada”, disse Natércia Gaspar.

 

A diretora Regional deixou ainda nota do valor acrescentado da responsabilidade social das empresas, em termos económicos e ambientais..

 

O colóquio contou ainda com a participação de Marta Barcelos, Mestre em bioética, que se deteve no sentido ético da responsabilidade social das empresas e de Isabel Berbereia, Chefe de divisão da agência para a qualificação e trabalho de Angra do Heroísmo, que apresentou os programas regionais de incentivo ao crescimento empresarial, de apoio à criação de emprego e contratação dos privados, de apoio à promoção de emprego nos sectores sociais e públicos.

 

No colóquio participaram, também, Ana Salgado, da Sonae; Gustavo Frazão, do BES Açores e Francisco Simões, responsável pela implementação do Programa Vértice Na Cáritas da Terceira.

 

No encerramento dos trabalhos procedeu-se à entrega  do  prémio ao Serviço de Pediatria do Hospital de Santo Espírito de Angra do Heroísmo no âmbito da campanha Dez Milhões de Estrelas da Caritas da Ilha Terceira, que decorreu no Natal.

 

Este fórum sobre responsabilidade social inseriu-se nas inúmeras iniciativas que a Cáritas Diocesana desenvolveu durante a sua semana.

 

Este domingo na Sé de Angra, é celebrado o Dia da Caritas com a presença da Caritas da Ilha Terceira, e toda a assembleia será convidada a fazer sua a oração “uma só família, alimento para todos”, lema deste dia nacional, que se insere no âmbito da campanha mundial de erradicação da pobreza no planeta até 2025.

Fórum sobre responsabilidade social
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