O cardeal José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé), defendeu hoje a reconstrução do “pacto comunitário”, no pós-pandemia, propondo à sociedade o “horizonte da totalidade”.
“Precisamos de reabilitar o pacto comunitário, o pacto da fraternidade, e de estendê-lo universalmente”, disse o responsável português, na conferência conclusiva do Congresso Missionário 2022, que decorreu em Lisboa desde sexta-feira.
“As nossas sociedades precisam de aprender a conjugar-se mais no ‘nós’, na primeira pessoa do plural, envolvendo os cidadãos numa política da esperança de dimensões coletivas”, acrescentou, numa intervenção em vídeo, apresentada na Universidade Católica Portuguesa (UCP).
A conferência do cardeal madeirense teve como tema ‘A Fraternidade e a Reconstrução da Esperança’.
O colaborador do Papa começou por recordar que o termo pandemia, etimologicamente, remete para algo que diz respeito “a todo o povo”.
“O que está em causa não é apenas o destino individual, o naufrágio ou a salvaguarda de um país, de um continente, mas a globalidade do mundo e o destino da espécie humana”, precisou.
Falando de um mundo fragmentado em “lógicas de bloco”, D. José Tolentino Mendonça convidou a projetar uma ordem internacional “qualificada eticamente, como exercício de responsabilidade”, face à “normalização do egoísmo e da indiferença”.
A conferência aludiu à “grande batalha” entre exclusão e inclusão, convidando a “alargar” a ideia de “nós”, para construir “uma sociedade mais empática, mais humana”.
“Os recursos espirituais podem ajudar a viabilizar uma mudança de ótica”, sustentou o cardeal português.
O prefeito do Dicastério para a Cultura e Comunicação destacou a importância de aprender a viver com a vulnerabilidade e a fragilidade, que a Covid-19 expôs, a nível global.
“A vulnerabilidade é a nossa comum condição que, se escutarmos em profundidade, tem tanto a ensinar-nos”, declarou.
A intervenção abordou ainda a categoria de “amizade social” que o Papa colocou no centro da encíclica ‘Fratelli Tutti (2020), sublinhando que a globalização fez de todos “vizinhos”, embora “desagregados e vulneráveis”.
Para D. José Tolentino Mendonça, há falta de projetos que digam “respeito a todos”, pelo que é preciso procurar “novos paradigmas, novos modelos”.
“Esta hora precisa, com todas as suas dificuldades, os seus constrangimentos, é uma oportunidade para relançar a nossa aliança com a vida”, apontou.
As Congregações Missionárias, as Obras Missionárias Pontifícias – Portugal e a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promoveram, desde sexta-feira, o congresso ‘Fraternidade sem fronteiras’, que decorreu no auditório Cardeal Medeiros, da UCP, em Lisboa.
O padre Adelino Ascenso, Missionário da Boa Nova, terminou o Congresso Missionário 2022 a pedir a “exigência da educação para o diálogo” e o desejo de celebrar, em parceria com a Assembleia da República, o Dia da Liberdade religiosa e do diálogo inter-religioso, a 22 de junho.
“Exige-se uma educação para o diálogo, a História mostra-nos o exemplo que estimula a querer que o irrealizável seja exequível e que os obstáculos são ultrapassáveis, desde que o sonho seja o motor, que arrisquemos sonhar”, convidou o religioso na sessão de encerramento do Congresso Missionário 2022.
O padre Adelino Ascenso apontou a atenção pedida nestes dois dias de congresso para os “três blocos de diálogo – com as religiões, com os indiferentes e com a cultura”.
“Trata-se da predisposição para a escuta genuína, eu escuto-te, tu escutas-me, abertos à ação do espírito regenerador e sempre surpreendente, colocando-nos ao serviço do bem comum e acreditando na importância das religiões na esfera pública, sendo cuidadores e nunca predadores, cuidadores uns dos outros e da casa comum”, apontou.
O religioso destacou que o que “tem mais valor é o que não tem preço” e que a “fraternidade não tem preço”, destacando que este é o tempo “para apostas de confiança”, classificando este congresso como “um itinerário numa peregrinação que se deseja longa e alicerçada na consciência que juntos se fazem os sonhos”.
“Juntos desejamos aceitar o convite do presidente da Assembleia da República de celebrar, em parceria, o Dia da Liberdade religiosa e do diálogo inter-religioso, a 22 de junho”.
Pedro Vaz Patto, membro da Comissão para a Liberdade Religiosa há um ano, deu a conhecer o trabalho da comissão que integra 11 confissões religiosas e pediu que “haja sempre o respeito recíproco pela liberdade do outro”.
“Como comissão não temos poder de decisão, mas de recomendação, sendo uma intervenção importante”, destaca.
Coube a D. Armando Esteves Domingues, presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, as últimas palavras do Congresso Missionário 2022, que designou como “um estaleiro de fraternidade nestes dois dias”.
“Vivemos num mundo onde há corridas diferentes, há quem pense no conjunto, em salvar todos, e há outros que só pensam em salvar-se a si mesmo”, assinalou.
O bispo auxiliar do Porto defendeu ainda o “sincero acolhimento do diferente”, “não havendo o eu sem o nós e o nós sem o eu”.
Os trabalhos do Congresso Missionário 2022 partiram do documento de Abu Dhabi – a declaração centrada na fraternidade humana assinada pelo Papa Francisco e pelo grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019, nos Emirados Árabes Unidos.
Entre os oradores estiveram a reitora da UCP, Isabel Capeloa Gil, Guilherme de Oliveira Martins, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP, Diana de Vallescar Palanca, e o jesuíta Laurent Basanese.
O programa apresentou dois painéis, um dedicado às religiões monoteístas, com um representante do judaísmo, do islamismo e do cristianismo; e outro às “religiões místicas”, o hinduísmo, o budismo e o catolicismo.
(Com Ecclesia)