Missa e procissão de domingo marcam ponto alto das festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que reúnem milhares de açorianos do arquipélago e da diáspora
O cardeal-patriarca de Lisboa convidou hoje os peregrinos das festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se realiza em Ponta Delgada, a reconhecer a figura de Jesus nas pessoas que sofrem.
“Vejamo-lo da mesma maneira nos nossos irmãos que sofrem, com os quais ele mais se assemelha e mais se identifica. Aí mesmo ele está à nossa espera”, declarou, D. Manuel Clemente, na homilia da Missa a que presidiu no campo de São Francisco, concelebrada pelo bispo de Angra, D. João Lavrador e pela maior parte do clero da ilha de São Miguel.
O cardeal-patriarca recordou, a este respeito, os cristãos perseguidos, sem “liberdade” para celebrar a sua fé, a quem todos os católicos estão unidos em oração e preces.
“O amor paga-se sempre com mais amor e, da parte do Senhor Santo Cristo, esse amor é absoluto”, acrescentou.
A intervenção sublinhou o “milagre” da presença de Jesus na história, capaz de levar a vida “onde só havia morte e destruição”.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, que preside a estas festas, as maiores que se realizam nos Açores a par das Festas em honra do Divino Espírito Santo, observou que o Senhor Santo Cristo tem sido um “milagre constante e presente” na vida de muitas pessoas, ao longo dos séculos.
“Esta imagem que aqui veneramos, do Senhor Santo Cristo dos Milagres, tem uma tal expressão que nos cativa profundamente a alma”, disse.
A imagem do ‘Ecce Homo’, acrescentou D. Manuel Clemente, representa uma “expressão total”, um “momento desfigurado e transfigurado” da Paixão e da Ressurreição de Jesus.
“O amor de Cristo, o amor de Deus significa dar a vida”, observou.
O presidente das celebrações saudou todos os que chegaram às ruas de São Miguel com os seus pedidos e promessas, sublinhando a devoção ao Espírito Santo, capaz de “transfigurar” a existência humana, que se vive de forma particular no arquipélago dos Açores.
A celebração eucarística é um dos pontos altos da festa do Senhor Santo Cristo, cuja imagem vai percorrer esta tarde as ruas da cidade de Ponta Delgada, ao longo de cerca de quatro horas, uma tradição secular na região que se realiza desde 1700.
Integrando milhares de devotos, a procissão inicia-se às 15:30 locais (mais uma hora em Lisboa), e a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres passa pelos antigos conventos da cidade e algumas igrejas paroquiais, cumprindo um dos pontos altos destas festas religiosas.
Neste trajeto, uma multidão de homens, mulheres e muitos jovens, trajando de escuro, seguem em silêncio o andor com a imagem do Santo Cristo ao som do “Hino do Senhor”, tocado por várias bandas de música.
Para a passagem do cortejo religioso, as ruas da maior cidade açoriana são cobertas de tapetes de flores feitos pelos moradores da cidade, por comerciantes e entidades.
Este ano, a imagem do Senhor Santo Cristo sai à rua com uma capa oferecida por um emigrante nos Estados Unidos da América, sendo esta a quarta vez que este manto cobre a imagem.
A capa, em veludo e com mais de 700 diamantes, foi oferecida pelo emigrante José António Tavares Estrela, da Ribeira Grande.
Já na manhã deste domingo, como é tradição, a imagem saiu da Igreja de São José onde pernoitou para o adro da Igreja do Santo Cristo, para a missa campal que foi cantada por um coro de cem vozes jovens e adolescentes, provenientes de diversas escolas e catequese da ilha de São Miguel acompanhados de uma orquestra composta maioritariamente por alunos do Conservatório Regional de Ponta Delgada.
Na celebração o reitor do santuário do Santo Cristo dos Milagres, cónego Adriano Borges, convidou os peregrinos a “depositarem o seu coração no Senhor Santo Cristo”.
“A serenidade com que nos olha expressa o seu amor por nós. Que esta serenidade nos motive nas nossas vidas” disse ainda, agradecendo ao cardeal-patriarca a presença nestas festas bem como ao bispo de Angra que participa pelo terceiro ano nas maiores festividades açorianas.
(Com Tatiana Ourique)