Homenagem contou com uma conferência do Pe. António Rego sobre a vida consagrada na qual o sacerdote lembrou que os consagrados não são infalíveis
A comunidade paroquial das Capelas homenageou esta terça feira à noite a Congregação das Irmãs Servas da Sagrada Família, presentes na comunidade há mais de meio século e o Monsenhor António da Luz que completa quase seis décadas de sacerdócio.
Na ocasião, o Pe. António Rego, natural das Capelas, proferiu uma conferência sobre “A Vida Consagrada” na igreja onde, há mais de meio século, celebrou a sua Missa Nova.
O sacerdote partiu da sua experiência pessoal, partilhando “a alegria” da vida que seguiu “como resposta a um chamamento e para dizer que vale a pena entregar a existência e arriscar a existência por esta vocação que, ainda que feita de solidão, não se vive só. Porque há sempre uma comunidade que nos apoia na celebração da fé e da vida”.
“A vida consagrada constitui um desafio de ajuda ao outro, de entrega ao outro e se alguém ouvir essa voz- dirijo-me aos jovens- se alguém ouvir essa voz não feche o coração” desafiou o Pe. António Rego.
Em jeito de testemunho deixou uma reflexão sobre o que é ser consagrado e os desafios que “esta entrega radical ao serviço do reino de Deus” colocam.
“Todos somos vida consagrada desde o baptismo” disse o sacerdote lembrando que a vocação não é algo abstrato mas um serviço concreto ao outro, que no caso das comunidades de vida consagrada ou no sacerdócio é uma “entrega radical”.
“Trata-se de uma consagração, de renúncia e de entrega pessoal, mas só Deus sabe as medidas da gratificação. Não pedimos que tenham pena de nós: sabemos quem nos chamou e da nossa resposta firme mas sempre imperfeita” disse o Pe. António Rego.
“Todas as vocações, mesmo as laicais, dizem respeito a pessoas humanas limitadas” acrescentou o sacerdote lembrando que as “falhas de alguém consagrado não podem tornar-se num escândalo quase sem perdão”.
“A Igreja não é composta de anjos mas de pessoas reais, na sua grandeza e nas suas fragilidades. Nós temos o privilégio de seguir esses 12 homens que há 2000 anos se entregaram de forma radical, com as suas qualidades e as suas fragilidades”, concluiu.
Na conferência que foi mais ao jeito do “sermão” como o das bem-aventuranças, o sacerdote prestou publica homenagem à fundadora da Casa de Trabalho das Capelas, Luísa Pires, percursora da actividade desenvolvida depois pela religiosas Servas da Sagrada Família e ao Pe. António da Luz, “homem bafejado pelo espirito do Concilio Vaticano II”.
“Figura indelével do clero açoriano, com um percurso académico notável, um poliglota nato, a ele se deve a formação de muitos jovens, padres e não só” referiu, por seu lado, o atual pároco, Pe. Hélio Soares recordando e agradecendo toda a “dedicação, espírito de serviço e ensinamentos” que tem deixado a toda a comunidade, sem abdicar de uma convicção firme de que “a igreja precisa de uma verdadeira conversão a partir de dentro para ser melhor testemunha de cristo entre os homens”.
“Nós capelenses devemos estar gratos por ter este companheiro, assistente, professor entre nós” disse o sacerdote que não poupou elogios e agradecimentos ao trabalho desenvolvido quer pelo sacerdote quer pelas Irmãs Servas que agora partem, encerrando a casa.
“As senhoras partem mas a dívida é reciproca. As pessoas fazem os lugares e os lugares fazem as pessoas. Alegramo-nos e sentimos convosco. Estamos gratos e reconhecemos o vosso trabalho desempenhado nesta comunidade e que transbordou a vila das Capelas… muito obrigado”, referiu o sacerdote depois de sublinhar o trabalho desenvolvido pela comunidade que chegou a ter 22 religiosas ao serviço, que agora se veem a braços com a falta de vocações.
A homenagem, a que se associou a Junta de Freguesia, começou com o descerramento de uma placa na Casa de Trabalho, mesmo no coração da freguesia, onde as religiosas durante mais de 50 anos ensinaram ofícios sobretudo às jovens da freguesia que não tinham recursos para frequentar a escola, deram apoio social a famílias carenciadas e educaram espiritual e civicamente centenas de capelenses.
A cerimónia de homenagem terminou com um momento musical interpretado pelos três coros da freguesia.
Nesta celebração estiveram presentes, entre outros representantes das autoridades civis- Governo regional, Câmara de Ponta Delgada e Junta de Freguesia das Capelas-; o antigo presidente do Governo Regional dos Açores Mota Amaral; o reitor do Seminário Episcopal de Angra, Pe. Hélder Miranda Alexandre e o ouvidor das Capelas, Pe. Horácio Dutra.
(Com Nuno Pacheco de Sousa)
[FAG id=20680]