Câmara de Angra concede Medalha de Honra a Coelho de Sousa

Testemunho Poético do Padre de São Sebastião foi debatido ontem na cidade património.

O Município de Angra do Heroísmo concedeu, a título póstumo, a medalha de Honra a Manuel Coelho de Sousa, Padre e Poeta, numa sessão solene que decorreu este sábado no Salão Nobre, nos Paços do Concelho, na cidade património.

 

Dionísio de Sousa, organizador do recém publicado livro “Testamento Poético”, que resulta de uma recolha da poesia de Coelho de Sousa, agradeceu a distinção entregue pelo Presidente da Autarquia, Álamo Meneses e disse que Angra do Heroísmo estava “a pagar uma dívida de gratidão ao P. Coelho de Sousa”.

 

Durante a sessão de homenagem ao sacerdote usaram da palavra Eduardo Ferraz da Rosa, Cláudia Cardoso e o Pe Júlio Rocha que falou da dimensão teológica da obra e da intervenção de Coelho de Sousa, sublinhando que Coelho de Sousa  “é um lugar da palavra dita, com Deus habitando dentro dela.”

 

O professor do Seminário Episcopal de Angra, começou por citar Pessoa – “O poeta é um fingidor”- para chegar ao ponto de partida para uma conversa sobre poesia, neste caso, a poesia de Coelho de Sousa, a partir de uma ideia chave: a de que o poeta não é senão o lugar por onde a poesia passa.

 

“Coelho de Sousa é, também ele, um lugar, um lugar sagrado por onde a palavra passou e se foi tornando nossa. Palavras da ilha e de Angra, palavras da dor e da condição humana, palavras da saudade e do mar, palavras do poema popular cheio de lirismo, tudo palavras com Deus habitando por dentro delas. A palavra é o espaço que Coelho de Sousa dedicou a Deus. O altar do seu Deus chama-se palavra”.

 

Júlio Rocha destacou o “Pároco e Pastor” para dizer que essas duas condições determinam a sua poesia que “é habitada por uma espiritualidade ao mesmo tempo indelével e fugidia, segura e peregrina, ardente e amedrontada”.

 

Mas não deixou de sublinhar, também, que como “poeta” Coelho de Sousa era um homem de fé e isso determinou-o na tradução em poema de várias situações, entre elas, a história cristã dos mártires, João Batista, a Samaritana, o Bom Pastor, o próprio padroeiro, São Sebastião. E sobretudo o Natal e a Virgem Maria, onde Coelho de sousa, segundo o palestrante procurava como todos os poetas procuram “não o meramente superficial, quotidiano, útil” mas “outras perguntas, outras guerras”.

 

Júlio Rocha frisou, ainda, que como toda a poesia, também a de Coelho de Sousa “é marcada por binómios e contradições, inerentes à sua dimensão anti-dogmática e rebelde”.

 

Popular, lírica, intimista, a poesia de Coelho de Sousa vai-se regendo por um sair de si mesmo”, conclui Júlio Rocha, sublinhando três das presenças mais constantes na sua obra: a Mãe (da terra e do Céu), Deus e o Amor.

 

A sessão encerrou com a atuação do Coro da Santa Casa da Misericórdia de São Sebastião, a freguesia onde nasceu e na qual há uma rua com o seu nome e o seu busto.

 

Coelho de Sousa já tinha sido reconhecido cidadão honorário de Angra em 2001.

Scroll to Top