O Boletim foi criado pelo 28º bispo de Angra, D. João Maria Pereira do Amaral e Pimentel
A ideia inicial era ter uma voz própria que se fizesse ouvir “com regularidade e prontidão”. E, na verdade, é através deste Boletim Eclesiástico que se retrata o pulsar da igreja nas ilhas do arquipélago dos Açores, constituindo uma das memórias mais completas da vida cristã, seja através do relato circunstanciado das atividades da Igreja seja através das investigações sobre aspectos históricos ainda não estudados e cujo conteúdo chega, por esta via, ao domínio publico.
Em Angra, o Boletim Eclesiástico de Angra (BEA) publica-se ininterruptamente desde 1872, o que torna a publicação uma das mais antigas do país com carácter permanente e regular. Este ano cumprem-se os 150 anos da publicação estando a ser ultimado o Boletim de 2021 e em preparação o de 2022. Ao todo dirigiram este órgão de informação diocesana 19 presbíteros que, pelo seu trabalho de coordenação permitiram dar à estampa este órgão de informação, particularmente enriquecido no século XX, com a introdução de suplementos temáticos, como recorda o atual diretor, cónego Hélder Fonseca Mendes, num artigo de opinião publicado aqui no sítio Igreja Açores.
Desde os Estatutos, Regulamentos, Normas e Diretivas para a Diocese de Angra (2009), Igrejas Paroquiais dos Açores (2010), ao Espírito Santo: das Censuras ao Império – o magistério revisitado (2011), A Diocese de Angra na História dos seus Prelados (1695-1812), com introdução e notas da Professora Susana Goulart Costa (2012), são temas que melhoraram muito a apresentação deste órgão de informação diocesano.
Falta, contudo, “fazer o encontro entre os anos 1812 e a criação do BEA (1872), o que acreditamos que brevemente aconteça” refere o diretor, cónego Hélder Fonseca Mendes.
Deste Boletim destaca-se ainda a publicação do Relatório da Diocese de Angra por ocasião da visita ad sacra limina de D. Francisco José Ribeiro Vieira e Brito, 30º. Bispo de Angra (1892-1901), com estudo prévio dos doutores João Maria Mendes e Susana Goulart Costa (2013). Foi ainda publicado um suplemento intitulado Seminário Episcopal de Angra – 150 anos de formação, com a recolha das conferências promovidas ao longo do ano jubilar (2014); A Diocese de Angra no Arquivo Secreto do Vaticano (1691-1919) (2015); Notas Históricas sobre os Bispos Açorianos (1500-2000) de Valdemar Mota; Estatutos, Regulamentos, Normas e Diretivas para a Diocese de Angra – edição revista e atualizada (2017).
“Ficou suspensa a edição de outros suplementos devido a dificuldades financeiras que a Diocese manifestou” refere o diretor.
O Boletim Eclesiástico foi o primeiro órgão de informação da diocese de Angra e só foi criado, mais de 300 anos depois do Papa Paulo III, através da Bula Aequum Reputamus, de 5 de novembro de 1534 ter criado a diocese de Angra, separando-a da do Funchal.
Duas décadas após a sua primeira edição o Boletim Eclesiástico de Angra passou a estar dividido em três secções: a oficial, a instrutiva e a noticiosa. Dois dos Vigários Capitulares, Cónego José dos Reis Ficher e Monsenhor António Maria Ferreira, juntamente com o último Vigário Capitular José Bernardo de Almada, que nas suas aulas de Direito Canónico no Seminário de Angra citava o BEA por nele se encontrar a legislação diocesana relacionada com cada cânon ou que o aplicava à realidade açoriana, recorda ainda o atual diretor no referido artigo de opinião.
Com o aparecimento da revista de âmbito nacional Lúmen, em 1937, como “revista de cultura para o clero”, que até hoje se publica como órgão oficial da Conferência Episcopal Portuguesa, o Bispo da época, D. Guilherme Augusto da Cunha Guimarães (1928-1957), solidário com os bispos de Portugal, entendeu que já não se justificava um boletim diocesano, pois este havia de espelhar-se na nova revista portuguesa.
No entanto, a publicação do BEA não cessa nesse ano, embora houvesse essa intenção, justificando-se a sua manutenção com o facto de nele serem dadas “notícias dos fatos mais importantes da vida religiosa açoriana, movimento do Seminário e da Ação Católica, de modo que mais tarde seja fácil reconstruir historicamente o passado sem ter de recorrer a fontes tantas vezes difíceis de consultar”, como referia do editorial o diretor da época padre José Vieira Alvernaz, o que constituiu uma maneira de continuar a publicar o BEA, sendo hoje pacífica e diferenciada a publicação de ambos os órgãos, de âmbito nacional e diocesano.
“Este é um exemplo que revela que nestes 150 anos o BEA manteve-se, ora por interesse de alguns dos bispos diocesanos, ora dos seus diretores que não deixaram que desaparecesse. Tal como hoje, o BEA mantém a oportunidade da sua publicação sem prejuízo do novo meio de comunicação digital da diocese, o sítio Igreja Açores”, destaca o atual diretor.
“A caminho dos cinco séculos da criação da Diocese de Angra deixamos garantida a história dos últimos 150 anos, o que ajudará os investigadores a construir a História da Igreja Local nos Açores. O BEA saúda a imprensa regional e demais órgãos de comunicação social, desejando uma longa e próspera vida como a deste órgão diocesano de informação”, conclui o cónego Hélder Fonseca Mendes.