Centenas de quilos de açucar são transformados em bonecos para ofertas nos Impérios do Espírito Santo
Na ilha Terceira, nos Açores, centenas de quilos de açúcar são transformados, todos os anos, em ofertas ao Espírito Santo, mas já são poucas as artesãs que conhecem a receita do alfenim.
Por esta altura do ano, no sétimo e no oitavo domingos a seguir à Páscoa, assinalam-se os bodos do Espírito Santo e a população ainda muito devota da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade oferece peças de alfenim, nas mais diferentes formas, como promessas.
O alfenim entregue nos Impérios do Espírito Santo é depois arrematado e o dinheiro reverte a favor das festas, nas quais, para além da animação e da religiosidade, são distribuídos pão, carne e vinho.
O alfenim (palavra que vem do árabe “al-fenid” e quer dizer aquilo que é branco, alvo) é feito apenas de açúcar, água e vinagre, mas se passar do ponto transforma-se em rebuçado. Moldá-lo em imagens fiéis à realidade exige uma técnica que não está ao alcance de todos. O preparado leva cerca de 20 a 25 minutos ao lume e quando atinge o ponto é vertido para uma bacia untada com manteiga, que está dentro de outra com água fria, para ir arrefecendo a massa.
Trata-se de uma receita típica das ilhas Terceira e Graciosa que é confecionada especialmente nesta época mas que se vende também durante todo o ano nalgumas pastelarias da ilha Terceira.
Antigamente, os truques eram mantidos em segredo e até se chegaram a inventar mitos, porque a venda de alfenim era uma fonte de rendimento importante para as famílias, mas hoje já restam apenas meia dúzia de artesãs na Terceira.
A imagem mais comum do alfenim é a pomba branca, que simboliza o Espírito Santo, mas as promessas estão muitas vezes associadas a problemas de saúde, por isso, em momento de aflição, são encomendadas peças de partes do corpo, como pés, pernas, mãos, braços, peitos, gargantas e cabeças de alfenim. Os pedidos mais frequentes são as meninas e os meninos de corpo inteiro, que se adequam a diferentes maleitas e a outro tipo de promessas.
Antigamente, o alfenim era feito apenas pelas festas do Espírito Santo ou para ofertas em casamentos e batizados, mas hoje, já integrado na lista de produtos regionais certificados, é também muito procurado por turistas.