Igreja quer dignificação da ação política
O conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou hoje a sua preocupação com os elevados valores da abstenção registados nas eleições legislativas do passado domingo.
“O conselho manifesta alguma preocupação pela abstenção. Pode significar muita coisa e os agentes políticos devem também analisar, mas pode significar uma exigência de maior dignificação da ação política”, adiantou o porta-voz da CEP, padre Manuel Barbosa.
Segundo o porta-voz da CEP, esta abstenção de 45,50% representa que “quase metade da população que vota” não foi às urnas.
“A nota que dissemos é no sentido da dignificação da ação política. Como o Papa Francisco tem recordado tantas vezes, a ação política é uma missão. É um cuidado para aqueles que exercem governo ou outro cargo para que seja uma missão, uma função digna e, se calhar, o eleitorado não seja tão desviado no momento de voto”, acrescentou.
Destacando que é necessário o “respeito pela vontade popular num regime democrático” como o de Portugal, Manuel Barbosa afirmou que a CEP fez um “apelo aos responsáveis políticos eleitos para a Assembleia da República e para o Governo para cuidarem da sua ação política”, nomeadamente, “cuidarem da estabilidade, da paz social, da justiça, do incremento da solidariedade social na atenção aos mais pobres e às instituições de solidariedade social”.
O porta-voz da CEP salientou ainda o “respeito pela dignidade humana integral, pelos valores da vida, da família e de todos os outros valores que constam do crescimento de uma sociedade na harmonia e na paz” que é necessário garantir.
Uma das preocupações que foi abordada na reunião do conselho permanente foram os “possíveis efeitos negativos” da conjuntura atual, “em particular europeia e mundial, que podem pôr em causa o crescimento económico e o bem comum”.
Exemplificando, Manuel Barbosa apontou a questão do ‘Brexit’ no Reino Unido, que ainda é uma incerteza “para todos”.
Sobre as novas forças políticas representadas agora no parlamento, o padre garantiu que “a preocupação é a de sempre”.
“Numa democracia há que respeitar a pluralidade de opiniões. Quando são contrárias aos grandes princípios da vida e das pessoas temos que cuidar para que não aconteça”, reforçou.
A CEP deixou ainda uma “nota de pesar e de oração” pelos falecimentos do fundador do CDS Diogo Freitas do Amaral, “que teve um papel relevante na consolidação da democracia em Portugal e tantos outros importantes contributos à sociedade na política, na cultura, no saber académico, quer a nível nacional e internacional” e da economista Manuela Silva, que morreu na noite passada.
“Uma mulher de causas sociais pelo testemunho e empenhamento que colocava em todas essas causas.”
A reunião da CEP serviu para a preparação da próxima Assembleia Plenária deste organismo, que decorre de 11 a 14 de novembro, cujos temas centrais serão a tradução portuguesa do missal romano e a preparação da Jornada Mundial da Juventude 2022, que se realiza em Lisboa.
(Com Lusa)