COMECE alerta para “polarização” e “dinâmica perigosa” entre “grandes potências” que faz recordar “momentos mais negros da humanidade”
As Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) pedem aos líderes dos países da UE que recuperem a origem da Europa, “a unidade e a paz”, manifestando-se preocupados com a “polarização da comunidade internacional” e “competição das grandes potências”.
“A polarização da comunidade internacional, alimentada por uma lógica renovada de competição entre as grandes potências, juntamente com a erosão da confiança nos quadros de cooperação multilateral, deixa em aberto o cenário de uma escalada incontrolável com consequências catastróficas para toda a humanidade”, alertam os responsáveis numa tomada de posição conjunta, decorrente da Assembleia Plenária de outono de 2023.
“Apelamos aos líderes da UE, bem como a todos os cidadãos europeus, para que redescubram e abracem os dois grandes sonhos dos pais fundadores da Europa: a unidade e a paz. As raízes, os valores e os Tratados da União Europeia pedem-nos a todos que nos empenhemos de novo nesse caminho. Sonhamos com uma Europa que utilize plenamente o seu potencial para resolver conflitos e acender lâmpadas de esperança, atuando como uma força unida, confiante e integradora, que preza os princípios democráticos e o Estado de direito, dentro e fora das suas fronteiras”, acrescenta ainda o comunicado, enviado à agência ECCLESIA, assinado por 21 responsáveis das conferências episcopais da União Europeia.
Os bispos alertam para uma “dinâmica perigosa” a marcar a atualidade e os conflitos que fazem recordar “alguns dos momentos mais negros da humanidade”, manifestando a sua preocupação com “a guerra de agressão em curso da Rússia contra a Ucrânia e com a dor do povo arménio na região do Cáucaso”.
“Sofremos com todas as vítimas dos bárbaros ataques terroristas perpetrados em Israel em 7 de outubro e da subsequente violência devastadora que se desenrola na Palestina. Com profunda dor, rezamos por todas as vítimas destes e de outros conflitos no mundo, em particular as crianças. Queremos igualmente exprimir a nossa proximidade às suas famílias, bem como a todos os que sofrem as consequências da guerra e da violência”, pode ler-se.
Os responsáveis alertam ainda para “fenómenos perigosos” que alastram nas sociedades europeias, “suscitando receios, enfraquecendo o diálogo e ameaçando a coesão social”:
“Fenómenos perigosos têm vindo a ganhar terreno em vários países europeus, como o antissemitismo, a radicalização e a xenofobia, muitas vezes alimentados por uma disseminação sistemática de desinformação e resultando em extremismo violento e terrorismo, que condenamos veementemente em todas as suas formas e expressões”.
Os bispos da COMECE assinalam que a construção da paz “exige esforços coerentes com o objetivo de promover a dignidade humana, a justiça, o desenvolvimento humano integral e o cuidado da Criação”.
A União Europeia, pedem os responsáveis, deve desencadear “novos processos de diálogo e desenvolver uma diplomacia de paz coerente”.
“Com o objetivo de se tornar uma verdadeira ponte e pacificadora na sua vizinhança e no mundo, a UE deve também dar provas de liderança na reconstrução de uma arquitetura global da paz, assente num multilateralismo eficaz e no respeito pelo direito internacional, incluindo a soberania, a integridade territorial e a independência política dos outros Estados”, sublinham.
Os responsáveis pedem ainda a aplicação “prioritária” dos “acordos mundiais de controlo dos armamentos, de não-proliferação e de desarmamento”, de forma a que se promova “a confiança mútua enquanto pilar da estabilidade internacional”.
“A construção de uma paz duradoura requer arquitetos e artesãos, pelo que todos somos chamados a contribuir para esta tarefa comum, promovendo uma cultura do encontro, da solidariedade e da paz”, finaliza o comunicado.