Bispos apresentaram compensações financeiras como ajuda às vítimas para “encontrar caminho da justiça e da dignidade”

Foto: Agência Ecclesia

Presidente da CEP pede que toda a sociedade portuguesa se movimente para prevenir e combater novos casos

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje em Roma que as compensações financeiras a vítimas de abusos sexuais na Igreja visam ajudar estas pessoas a “encontrar caminho da justiça e da dignidade”.

“Estamos noutra fase e, portanto, a metodologia a seguir é outra. Não me preocupa quantos vão ser, o interesse é que, de facto, as pessoas possam encontrar o caminho da justiça e da dignidade que lhes foi tirado”, referiu D. José Ornelas, em declarações aos jornalistas, após as visitas dos bispos aos dicastérios para os Bispos e para a Doutrina da Fé.

O bispo de Leiria-Fátima sublinhou que estão em causa “pessoas concretas” e que o trabalho nesta área se encontra “no bom caminho”.

O Grupo VITA, criado pela CEP, informou esta segunda-feira que recebeu 98 vítimas de violência sexual, em 12 meses.

32 pessoas fizeram pedidos de “compensação financeira”, que podem ser formalizados até ao final do ano.

A 11 de abril, após a Assembleia Plenária de primavera, a CEP anunciou a criação de um fundo para “compensações financeiras”, destino a vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica.

Uma comissão de avaliação, com especialistas nos âmbitos jurídico, psicológico ou psiquiátrico, vai determinar o valor a atribuir a cada vítima.

Segundo D. José Ornelas, esta opção visa respeitar “a privacidade das pessoas” e tem a ver com “a diferenciação, a diversidade em casos destes”, procurando “ir ao encontro de cada pessoa, da realidade dramática que viveu e também das perspetivas que têm de como isto pode contribuir para a sua reparação mais profunda”.

Em causa, acrescenta, está a necessidade de “reconhecer que um mal lhes foi feito, ou não devia ter acontecido”.

O presidente da CEP precisou que a comissão de avaliação vai começar a trabalhar após o final da recolha dos pedidos, no final deste ano, cabendo essa missão às Comissões Diocesanas de Proteção de Menores, também com a sua coordenação nacional, e ao Grupo Vita.

“As pessoas podem dirigir-se a eles e apresentar o seu desejo de terem uma compensação económica que os ajude a superar esta realidade”, indicou.

Questionado sobre a audiência que o presidente da República concede hoje ao Grupo Vita, D. José Ornelas considerou necessário que “toda a sociedade portuguesa se movimente” no sentido de prevenir e combater novos casos de abusos.

Recordando os 6 mil casos registados em Portugal, no ano de 2023, o bispo de Leiria-Fátima pede que “todos os que têm a responsabilidade a usem, e os meios que têm à disposição, para que isto possa mudar”.

“É uma cultura que se tem de mudar nos vizinhos, é uma cultura que se tem de mudar nas instituições, na escola, estar alerta para os sinais que podem denunciar”, indica.

A respeito da passagem pelos Dicastérios para os Bispos e para a Doutrina da Fé. O presidente da CEP indica que os responsáveis da Santa Sé quiseram “reconhecer a coragem da Conferência Episcopal Portuguesa em tomar a sério este tema e procurar soluções”.

“Estamos a fazer um grande trabalho de prevenção e de formação dos agentes pastorais, para que estejam atentos a esta realidade, saibam detetá-las, saibam evitá-las e saibam também ajudar a criar uma cultura, na sociedade portuguesa”, prosseguiu.

Os bispos de Portugal realizam desde segunda-feira a visita ‘Ad Limina’, para diálogos com vários organismos na Cúria Romana e, na sexta-feira, dia final da iniciativa, com o Papa Francisco.

De acordo com o Gabinete de Comunicação da CEP, participam na visita “Ad Limina” 20 bispos diocesanos, 5 bispos auxiliares, o bispo eleito de Beja e 2 bispos eméritos.

 

(Com Ecclesia)

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