“Devo muito aos açorianos; gostei muito de aqui estar e é com muito orgulho que continuo a assinar António, bispo emérito de Angra” disse ao programa Igreja Açores, numa entrevista conduzida por Tatiana Ourique.
O prelado mariense pautou o seu episcopado pela proximidade, o que no seu entender “facilitou a resolução de alguns problemas mas também levantou alguns embaraços”, disse na entrevista.
“Tenho consciência de que deveria, nalgumas circunstâncias, ter tido uma intervenção mais forte e reconhecer isso é também reconhecer que essa parte não correu bem”, precisou. “Isso fica salvaguardado pelo novo bispo, que tem muito mais experiência que eu e sabe que governar é decidir e não é só deixar fazer. Às vezes é necessário marcar posição: governar não é só dialogar”, sublinhou D. António de Sousa Braga.
E, embora reconheça que a auto avaliação “nem sempre é fácil” a verdade é que por vezes “confiei em quem não merecia essa confiança e isso trouxe-me alguns problemas”, acrescentou referindo-se aos problemas económico-financeiros que o seu episcopado atravessou.
“Não consegui ter controle suficiente e a má gestão teve consequências gravosas. É uma mágoa que carrego comigo”, esclareceu sublinhando que “a minha incapacidade para controlar esta parte, acreditando que as pessoas eram capazes originou a criação de problemas que tiveram implicações diretas na organização pastoral diocesana”, disse.
“Houve alturas em que só podíamos assumir os custos de deslocação do bispo, mas felizmente as coisas já estão a ficar diferentes, embora ainda levem o seu tempo”, disse D. António de Sousa Braga.
Quanto aos aspectos positivos do seu episcopado relembra “o relacionamento fácil, próximo e de amizade com todo o clero”; a ordenação de tantos jovens sacerdotes e a relação com o Seminário, “a minha comunidade refugio quando precisava sair da rotina”.
“A auto avaliação é difícil… o que posso dizer, depois de 20 anos, é que a diocese de Angra foi acompanhando a evolução do tempo” adiantou, ainda, lembrando que a diocese que deixou está “muito diferente da que encontrei, desde logo porque os tempos são outros”.
“Vivemos numa fase de transição e o balanço que faço comparando estas duas realidades é que a igreja, pela orientação do Papa Francisco, está mais presente e atenta ao mundo e é uma instituição apreciada e isso deve-se a Francisco sem dúvida”, frisa.
“Nos açores também estamos a fazer esta caminhada” lembra destacando, uma vez mais, que “a primeira experiência de unidade é realizada pela igreja”.
“Uma só diocese criou uma ideia de unidade que se contrapôs ao isolamento das ilhas e, por isso, foi muito benéfica a unidade diocesana e podemos dizer que a autonomia é política e administrativa, mas esta autonomia tem a sua base na realidade eclesial”.
Portanto, “se há alguma coisa que possa relevar do meu episcopado foi contribuir para esta unidade e este sentido de autonomia”, concluiu.
D. António Sousa Braga é natural da ilha de Santa Maria, freguesia do Santo Espírito, de onde saíu com apenas 13 anos rumo à Madeira onde estudou no Colégio dos Padres do Coração de Jesus, ordem religiosa que integra e da qual já foi provincial em Portugal.