No terceiro dia da visita à segunda ilha mais pequena da diocese, D. Armando Esteves Domingues crismou cinco jovens do Curato de Santo António da Vitória e desafiou-os a rejeitar tudo o que não “faça comunidade”, ou “promova o pensamento único”
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O bispo de Angra desafiou hoje os graciosenses a não colocarem Deus fora das suas vidas e muito menos fora do mundo, mesmo que os sinais de rejeição ou de indiferença a Deus sejam fortes.
“Basta olhar a humanidade que temos à nossa volta, neste momento cheia de aflições, de medos de guerras, de ditaduras, de prepotentes, de senhores do mundo, de gente que manda em tudo e outros que têm que obedecer a tudo, aceitando a sua própria miséria. Precisamos, de facto, de Cristo e da sua Palavra, uma Palavra que vença, que ilumine”, disse D. Armando Esteves Domingues na homilia da Missa na Igreja de Santo António da Vitória, onde crismou cinco jovens.
“Eu não vim à Graciosa para crismar. Não vim para crismar. Acontece. Tenho pena mas não foi por vossa causa que eu cá vim” disse em jeito de brincadeira para depois se dirigir, sobretudo, a estes jovens, e aos desafios que eles têm na sua missão evangelizadora, especialmente depois de celebrarem o sacramento da confirmação.
“Não é preciso sermos muitos. Agora, quando o cristão perde este sentido de Cristo, do centro na sua vida, caros jovens, a juventude, se calhar, até nem tem o mesmo sabor”.
“Não sei se Jesus Cristo faz parte da vossa vida todos os dias. Acredito que sim. Deixem-no entrar no coração, na mente, nos vossos estudos, nos vossos passatempos, no vosso desporto”, apelou lembrando que hoje há muitas distrações que afastam o essencial.
“O mundo hoje, através das tecnologias maravilhosas, mas terríveis, tenta que os homens pensem todos da mesma maneira. Corremos o risco de perder a liberdade no meio desta selva. Acho que vocês todos entendem isto. Começa-se a ler o que se gosta e depois os algoritmos levam-nos a beber sempre do mesmo. E a luta do mundo é essa. Por ver quem é que domina mais esses algoritmos que depois determinam o que cada um vai ler” disse D. Armando Esteves Domingues.
“Tenhamos medo do pensamento único. Cristo criou-nos todos, Deus criou-nos todos diferentes. Cristo escolheu discípulos todos diferentes. E queremos todos diferentes. A beleza está nesta complementaridade das diferenças. E o Espírito Santo vos dará, caríssimos jovens, esses dons necessários para livremente seguirem um caminho, que eu vos aconselho com Ele”, disse ainda.
“Este povo de Deus de que tanto falou o Concilio Vaticano II já há 60 anos, este povo de Deus, povo dos batizados, é também um povo que pouco a pouco é chamado a ser corresponsável de todas as tarefas do mundo” afirmou sublinhando que os cristãos “não vivem para si mesmos, para se fecharem na Igreja, mas para estarem no mundo, evangelizarem o mundo, iluminarem o mundo com a luz de Cristo e tornar este mundo, que é de Deus, cada vez mais de Deus”.
“E hoje temos que encontrar estas formas de voltar a colocar Deus no seu devido lugar, porque corremos o risco de o pôr muito fora da vida, das coisas. E por isso, se calhar, somos menos pessoas, menos homens”, disse ainda.
A partir da liturgia proclamada neste sexto domingo do tempo Comum, o bispo de Angra lembrou que a Palavra de Deus fala de opções, de escolhas acertadas para construir uma vida com sentido: de um lado o caminho proposto por Deus; do outro um caminho assente numa lógica humana.
“Todo o homem é colocado nesta capacidade, é preparado para ser capaz de escolher entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio, entre a violência e a paz. E sabemos que isto é uma luta de todos os dias. Bem-aventurados aqueles que sabem ser pobres, simples, que o que têm serve também para o serviço dos outros” adiantou o prelado, que não deixou de frisar que os que escolhem ver o mundo pelos olhos dos homens, seduzidos pelo “bem -estar e barriga cheia”, mas que continuam vazios de sentido “porque longe de Deus”.
Por outro lado, D. Armando Esteves Domingues desafiou os jovens crismandos a ser uma presença junto dos mais velhos.
“Vós hoje sois carismados porquê? Porque um dia fostes batizados. Porque aprendestes a viver em família, que é a família dos batizados” o que “traz” uma responsabilidade.
“Não desconfigureis o sentido de comunidade. Quando faltam as crianças, os jovens, os casais, as famílias, não há um testemunho de vida comunitária. Portanto, fica também hoje aqui esse apelo”.
“Se queremos uma sociedade justa, fraterna, onde não haja fome, onde Cristo seja instrumento dessa fraternidade que atinge a todos, aceitemos que é Cristo o centro. Façamos dele o nosso centro” disse recordando o exemplo do jovem Beato Carlo Acutis, um jovem do seu tempo que tinha tempo para tudo, mas sobretudo nutria um especial enlevo pela eucaristia.
Esta tarde o bispo de Angra terá um encontro em Santa Cruz com as criança da Catequese, do primeiro ao nono ano.