D. Armando Esteves Domingues presidiu à missa de acção de graças na abertura do novo ano letivo do Seminário Episcopal de Angra, que arranca com nova equipa formadora que pela primeira vez integra leigos
Diante de um mudo cada vez mais exigente e complexo a formação teológica, emocional e pastoral dos futuros presbíteros dever ser uma aposta séria e baseada numa forte espiritualidade que tenha por detrás a fidelidade a Jesus, afirmou esta quinta-feira D. Armando Esteves Domingues nas palavras que dirigiu à comunidade do Seminário de Angra.
Na abertura de mais um ano letivo, que arranca numa nova experiência com seis alunos residentes, dois novos seminaristas integrados nas suas paróquias de residência mas a frequentar o ano zero e uma equipa formadora composta por sacerdotes e leigos (uma psicóloga e uma família jovem), D. Armando Esteves Domingues abordou a exigência da formação que deve ser ministrada nos seminários, que será uma “preocupação da diocese todo este ano”
“Precisamos de Seminários para o nosso tempo e de presbíteros igualmente”, afirmou.
“Os seminários hoje devem ser abertos à comunidade e adaptáveis, inclusivos, culturalmente sensíveis e centrados na formação integral dos futuros sacerdotes” disse o prelado destacando que um seminário de estilo tridentino “já não serve.”
“São cada vez maiores e mais complexos os desafios do mundo contemporâneo, como o secularismo, as mudanças nas estruturas familiares e as questões éticas em evolução. Nós somos mais complicados… Isso significa que os seminários devem oferecer uma formação integral que prepare os futuros sacerdotes não apenas teológica, mas também emocional e pastoralmente, tudo baseado numa forte espiritualidade” esclareceu.
“A capacidade de relacionamento com pessoas de diferentes origens e uma compreensão profunda dos desafios enfrentados pela sociedade atual são demasiado exigentes para não se investir seriamente”, disse ainda desafiando os seminaristas a não olharem apenas para a ordenação presbiteral como “uma meta” mas para uma formação “continua que dura toda a vida”.
Por outro lado, agradeceu a disponibilidade, sobretudo dos leigos, a integrar a nova equipa.
“Há uma nova equipa, nem melhor nem pior, apenas diferente e com boa vontade. Composta não apenas por padres, mas também com técnicos e uma família que são um pouco de todo o povo de Deus de onde vindes e para quem vos preparais para bem servir. A todos, Obrigado!!!”
A partir da liturgia, o prelado diocesano centrou-se no encontro de Jesus com Zaqueu para lembrar que “Jesus vê para além das aparências”, valorizando “o potencial interior de cada pessoa”.
“Jesus continua a chamar-nos a segui-Lo, independentemente das nossas falhas passadas, ocupações ou circunstâncias. Valemos pelo que somos… Ele olha para o nosso coração e vê o potencial que muitas vezes desconhecemos” afirmou.
D. Armando sublinhou a importância da disponibilidade para seguir Jesus, mas também da fidelidade com que um sacerdote deve responder a esta entrega que “vale mais do que tesouro”.
“O que nos faz estar aqui, no Seminário? Peço a Nossa Senhora que vos meta no coração um único amor: Jesus Cristo! Quando nos apercebermos que o amor por Jesus Cristo e pela vida do Evangelho nos motiva a leva a deixar qualquer coisa que seja por amor e para amar, é sinal de que Ele nos está a chamar e a trabalhar por dentro” concluiu.
O ano letivo começou no Seminário com duas turmas do terceiro e do quinto ano. Há três seminaristas que terminaram o sexénio e que irão desenvolver trabalho pastoral em três paróquias em estreita articulação com o Seminário e os dois novos alunos, que frequentarão o ano propedêutico não residirão no seminário, devendo, no entanto, frequentá-lo em períodos pré-definidos.
Esta instituição de ensino e formação foi inaugurada no dia 9 de novembro de 1862, no Convento de São Francisco de Angra, depois de 328 anos da fundação da Diocese de Angra, e dava cumprimento à “norma tridentina e ao desejo do clero quanto à fundação de um seminário”.
Um século antes o então bispo de Angra, D. Frei José da Avemaria, já exigia que “sem a competente certidão de frequência, aproveitamento e capacidade dos pretendentes, não podiam ser admitidos às Ordens, neste bispado”.
Ao longo de mais de 160 anos de existência, o Seminário Episcopal de Angra formou diversas gerações de alunos, praticamente todos os sacerdotes açorianos, sete bispos, e foi a principal e única escola de formação superior de centenas de homens, que influenciaram a cultura e a sociedade açorianas, era a única instituição de ensino superior do arquipélago antes da criação da Universidade dos Açores.