D. António de Sousa Braga pronuncia-se pela primeira vez sobre o espectáculo de dança do ventre promovido pelo museu de Angra
O Bispo de Angra diz que só por “mal entendido ou mau gosto e falta de bom senso” se pode utilizar uma igreja aberta ao culto para a realização de determinadas manifestações culturais, como a que aconteceu no final do mês de agosto na Igreja de Nossa Senhora da Guia, em Angra do Heroísmo, com a realização de um espectáculo de dança oriental.
Na homilia deste domingo, durante a Eucaristia na Sé de Angra, D. António de Sousa Braga pronunciou-se, pela primeira vez, sobre a mais recente polémica que envolve a Igreja e os responsáveis pela programação do Museu de Angra do Heroísmo.
“O problema é que não é a primeira vez que uma iniciativa infeliz, como essa, acontece. Há algum mal-entendido, na utilização da igreja, ou então mau-gosto e falta de bom senso, pois espero que não seja uma provocação” sublinha o prelado diocesano que admite mesmo intervir para impedir atos de culto naquele espaço.
D. António de Sousa Braga pediu já à Comissão Diocesana para os Bens Culturais, para entrar em contato com a tutela, a fim de “estabelecer procedimentos, que garantam o devido respeito a um lugar de culto religioso”.
“Caso contrário, o Bispo seria forçado a não permitir que se continuem a celebrar atos de culto no local, o que contraria o percurso histórico feito até agora, bem como os Protocolos assinados e as próprias orientações da Concordata do Estado Português com a Santa Sé”, sublinha o responsável máximo pela igreja nos Açores.
O prelado diocesano lembrou que a igreja é propriedade do governo mas o seu uso está entregue à Ordem Franciscana Secular, que aí celebra atos litúrgicos, além de outras celebrações religiosas, que acontecem esporadicamente.
“Por isso, tem de haver respeito pelas normas em vigor para a utilização das igrejas, abertas ao culto, mesmo que sejam propriedade do Estado”, acrescenta o Bispo de Angra.
O responsável pela diocese de Angra recorda que a igreja é um lugar “sagrado” onde se celebram a Eucaristia e outros sacramentos e a comunidade cristã se reúne para rezar e por isso “não é compatível com qualquer tipo de manifestações culturais”.
O Bispo de Angra, que esteve fora da região nas duas últimas semanas, junto das comunidade açorianas do Canadá, aproveitou o primeiro momento em que se dirigiu aos fieis para abordar um tema que tem gerado polémica na imprensa terceirense, depois do ex responsável pela Ordem Franciscana Secular nos Açores, o professor de filosofia Mário Cabral, ter denunciado , num artigo de opinião no Diário Insular, este uso “indevido” da igreja de Nossa Senhora da Guia.
“Desculpem a digressão mas impunha-se um esclarecimento, no seu devido lugar, que é a comunidade cristã” disse no final da homilia o prelado diocesano.
Já esta semana a Ouvidoria da ilha Terceira manifestou o seu “repúdio” pela realização deste espetáculo num lugar de culto, apresentando um voto de protesto que foi enviado ao presidente do Governo Regional dos Açores.
Durante a homilia deste domingo, D. António de Sousa Braga, comentando as leituras exortou, ainda, os cristãos a centrarem a sua vida de acordo com o primado da graça que deve “ser o farol que ilumina o caminho”.
“Deus é amor e a expressão máxima do amor é a misericórdia” disse o Bispo de Angra, recordando as palavras de Paulo VI, na famosa homilia de Manila.
“Jesus Cristo é o centro da história e do mundo. Ele é o Mestre da humanidade, a chave do nosso destino, o nosso guia e modelo, o nosso irmão, o “companheiro” da viagem da vida. Foi para nós que Ele falou, realizou milagres e inaugurou um novo Reino. Só com Ele é que haverá futuro para humanidade”, conclui o Bispo de Angra sublinhando, uma vez mais, a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja.