D. João Lavrador presidiu à Missa Crismal e deixou, na sua homilia, dois desafios: comunhão no presbitério e empenho no estímulo a vocações sacerdotais
O novo bispo de Angra convocou os sacerdotes açorianos a encetar um “programa de vida e de ação” assente no estilo de Cristo: “pobre, casto e obediente”, para que possam cumprir a missão de serem “despensadores” do Evangelho.
Na sua primeira missa Crismal como bispo residencial da diocese de Angra, celebrada esta noite na Sé, em Angra do Heroísmo, rodeado de grande parte do clero das diferentes ilhas, D. João Lavrador lembrou que “num mundo que questiona o ser e a missão do sacerdote” é urgente que os padres se assumam “seriamente como sinal profético do ser e do agir de Cristo no meio do mundo”.
“É desta autêntica liberdade, porque Cristo nos libertou, que nós somos dispensadores” disse o prelado numa homília profundamente centrada no ministério sacerdotal.
“O sacerdote é chamado a estar no seio da Igreja e no mundo como Pastor à imagem de Cristo, o Bom Pastor” pois “a vida e o ministério do sacerdote são a continuação da vida e da acção do próprio Cristo”, referiu.
“Esta é a nossa identidade, a nossa verdadeira dignidade, a fonte da nossa alegria, a certeza da nossa vida” disse o Bispo de Angra, citando a mensagem dos padres sinodais ao Povo de Deus, em 1990.
As exigências do presente requerem sacerdotes “radical e integralmente imersos no mistério de Cristo, e capazes de realizar um novo estilo de vida pastoral, marcado por uma profunda comunhão com o Papa, os Bispos e entre si próprios, e por uma fecunda colaboração com os leigos, no respeito e na promoção dos diversos papéis, carismas e ministérios no interior da comunidade eclesial”, prosseguiu ainda o novo responsável pela Igreja diocesana insular.
“Caros sacerdotes estamos a tocar o mais fundamental do nosso ministério. Muito gostaria que meditássemos neste programa de vida e de acção para o bem de cada um, do nosso presbitério e para uma eficácia na nossa missão pastoral” afirmou.
O bispo de Angra deixou, ainda, outro apelo ao clero a partir da configuração geográfica desta diocese espalhada em nove ilhas, que é o da “comunhão eclesial”, para a qual pediu um “esforço redobrado”.
“A primeira instância de vida em comunhão realiza-se no presbitério” disse D. João Lavrador precisando que essa comunhão “deve ser visível e sensível”, concretizando-se “no despojamento dos interesses pessoais para se abrir mais à convivência para com os seus irmãos de modo a que as preocupações de uns sejam a preocupação de todos”.
“A nossa diocese tem de ser vista como uma comunhão de comunidades, na unidade e na sintonia na missão. Apelo a um redobrado esforço para caminharmos neste sentido na comunhão presbiteral”, sublinhou.
Durante a homília, elaborada a partir das palavras do profeta Isaías – “O Espirito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me ungiu e enviou-Me a anunciar a Boa Nova aos pobres”- e em jeito de “caderno de encargos” para o clero, deixou um segundo desafio. Além da comunhão é preciso “corresponsabilidade”.
“Cada um de nós integra um presbitério que deve sentir-se em todos os seus membros responsável pela missão da mesma diocese, seja a nível paroquial, serviços diocesanos ou organismos de apostolado”, disse ainda.
“Não fiquemos presos às nossas ideias, aos nossos interesses particulares, à sintonia com os aplausos do mundo, mas deixemo-nos libertar por Cristo no amor, na comunhão e na partilha fraterna” destacou D. João Lavrador, lembrando que “o ser e o agir” de um sacerdote se exprime como “caridade pastoral”.
“A caridade pastoral no pensamento da Igreja é aquela virtude pela qual nós imitamos Cristo na entrega de Si mesmo e no Seu serviço. Não é apenas aquilo que fazemos, mas o dom de nós mesmos que manifesta o amor de Cristo pelo seu rebanho. A caridade pastoral determina o nosso modo de pensar e de agir, o modo de nos relacionarmos com as pessoas. E não deixa de ser particularmente exigente para nós”, frisou.
“O sacerdote é o homem da oração que tem uma familiaridade com Jesus Cristo que se torna notória na sua vida” acrescentou, acentuando que os cristãos “esperam” encontrar no sacerdote não só o homem que os acolhe, que os escuta com todo o gosto e lhes testemunha uma sincera simpatia, mas “também e sobretudo um homem que os ajuda a ver Deus, a subir em direcção a Ele”. Por isso, adianta, “é necessário que o sacerdote seja formado para uma profunda intimidade com Deus” conseguida na “oração, no sacramento da Eucaristia, no sacramento da reconciliação e na meditação da Palavra de Deus”.
Finalmente deixou um último apelo às famílias e ao próprio clero no sentido de um “verdadeiro empenho” na pastoral vocacional.
“As vocações sacerdotais brotam do seio de famílias que educam os seus filhos para responderem a Jesus Cristo, saem das paróquias que formam os jovens e as crianças para escutarem o apelo de Cristo, mas têm o seu maior impulso num presbitério que vive na alegria e na comunhão a sua missão”, disse.
A Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor são momentos centrais da Semana Santa.
Habitualmente a Missa Crismal, que reúne em torno do bispo o clero da Diocese, durante a qual são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos, e consagrado o santo óleo do crisma, é celebrada na quinta feira de manhã. Na diocese de Angra chegou a ser antecipada para a quarta e agora para a terça feira para permitir aos sacerdotes estarem unidos ao seu bispo e dar-lhes tempo para voltarem às suas comunidades para celebrarem a Semana Maior da vida cristã.
Na tarde de quinta feira, com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor: é comemorada a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o mandamento do Amor (o gesto do lava-pés).
No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.
Na Sexta-feira Santa não se celebra a Missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor, com a adoração da cruz; o silêncio, o jejum e a oração marcam este dia.
O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor e a única celebração primitiva é o jejum.
A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja, evocando a Ressurreição de Cristo. Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.