Chegou como coadjutor, agora é bispo residencial. D. João Lavrador é o primeiro convidado do novo programa de rádio Igreja Açores, que estreia este domingo no RCA
O grande desafio da sociedade moderna, e dos cristãos em particular, é ser capaz de trazer Deus para a vida sem medo, afirma o bispo de Angra na primeira entrevista de rádio que dá como bispo residencial ao programa Igreja Açores, que estreia este domingo no Rádio Clube de Angra, ao meio dia.
D.João Lavrador, que assumiu a titularidade da diocese no dia 15 de março, após a aceitação do pedido de resignação de D. António Sousa Braga pelo Papa Francisco, lembra que está nos Açores para servir “a partir da realidade concreta” do arquipélago.
Entre as prioridades elege as questões sociais, pois a pobreza e as dificuldades “devem estar na primeira linha” do combate da igreja.
“A situação das pessoas exige uma articulação de vários esforços” diz o prelado sublinhando que a igreja tem um “programa”- a Doutrina Social da Igreja- “que pode definir formas de atuação muito concretas, arranjando horizontes para muitos destes problemas que a sociedade enfrenta”. Entre eles está o desemprego que afeta “a dignidade do ser humano”.
“Nós não conseguimos resolver este problema porque não temos empregos para dar mas denunciamos e podemos orientar” destaca o bispo de Angra frisando a atitude “profética” que a igreja “pode e deve ter”.
“Podemos dizer, por exemplo, que o rumo que estamos a seguir não está correto, porque estamos a destruir todas as fontes de riqueza e os meios necessários para a criação do emprego” refere.
“O trabalho dignifica a pessoa, e não os subsídios e o trabalho tem que ser acessível a toda a gente caso contrário criamos uma sociedade subsídio dependente e não me parece que queiramos isso. O que é preciso é criar rentabilidade” esclarece o prelado.
Sobre o papel dos poderes públicos na resolução deste e de outros problemas sociais, D. João lavrador garante que Igreja e políticos coincidem no diagnóstico e na ação mas os timings são diferentes.
Dos contactos já tidos assegura que há “um desejo comum de resolver os problemas”, mas as respostas às vezes “são táticas” porque estão sujeitas a “outros timings” que escapam à Igreja, mas o que é preciso é que esta esteja sintonizada na defesa do “ser humano, do bem comum e do principio da subsidariedade”.
Na entrevista ao programa de rádio Igreja Açores o prelado fala da necessidade de desenvolver “ainda mais” a pastoral social “integrando outras valências” e agilizando a relação com a Cáritas, Conferências Vicentinas, voluntários e “todos os cristãos disponíveis para darem um pouco de si aos outros”, nos hospitais e nas prisões.
“Os presos têm a sua dignidade” e o tempo de reclusão “dever servir para a sua valorização académica e profissional”, diz.
Quanto ao rumo da diocese, o bispo de Angra quer “continuar “ o trabalho desenvolvido pelos seus predecessores, com a sua experiência ao “serviço da realidade açoriana”.
“Venho integrar-me numa igreja que tem cinco séculos e que vai continuar para além de mim” afirma lembrando que espera que a experiência que transporta “não seja um obstáculo” para ler e auscultar a realidade, sem a tentação de “impor algo de fora” pois “não quero ser um estrangeirado”.
Nesta entrevista conduzida por Carmo Rodeia, o bispo de Angra fala do seu percurso, de Coimbra ao Porto; do fervor da juventude na luta pela liberdade e democracia; da necessidade de reorganizar a diocese promovendo a comunhão entre os sacerdotes e entres e as suas comunidades e da liberdade religiosa.
Uma entrevista que pode ouvir na íntegra em www.rcangra.com, no programa da diocese de Angra com apresentação de Tatiana Ourique.