D. Armando Esteves Domingues presidiu a uma eucaristia no mais pequeno e recôndito santuário diocesano dos Açores
Depois de uma caminhada a pé de cerca de duas horas, por um dos trilhos que permite a descida até à Fajã do Santo Cristo, na ilha de São Jorge, na companhia do ouvidor, padre Manuel António Santos, o Bispo de Angra presidiu pela primeira vez a uma eucaristia no Santuário do Santo Cristo da Caldeira, o mais pequeno dos cinco santuários diocesanos.
Numa homilia improvisada, D. Armando Esteves Domingues partiu da palavra proclamada este domingo para falar do acolhimento e da valorização do outro como dom de Deus.
O prelado lembrou a importância do “caminho conjunto” e o sentido da peregrinação, para sublinhar a centralidade de Deus na vida de cada um .
“Celebrar na Caldeira, numa capelinha ou no cimo de um monte é sempre celebrar o Senhor, o mesmo Senhor, este Cristo que se imola por amor a convidar a fazer o mesmo pelo irmão”, referiu D. Armando Esteves Domingues.
“Somos peregrinos para nos encontrarmos com o Senhor e o nosso modelo de peregrinação deve ser construído a partir de Emaús” referiu, recordando que tal como os discípulos caminhavam desanimados por ter perdido o seu Senhor, esta “é também a grande desgraça da nossa vida: quando nós não conseguimos ver o ressuscitado”.
Em Emaús “Jesus reencontra-se com os discípulos, recondu-los a casa e depois são eles que lhe pedem para que fique com eles… Oxalá nós, hoje, ao virmos aqui possamos encontrá-Lo e levá-Lo connosco”.
“Que este Cristo que buscamos na peregrinação nos faça sentir o dom que é cada um que nos acolhe, cada pessoa que nos saúda, nos fala, nos acompanha, nos ajuda, que é bom estarmos juntos”, disse ainda.
O bispo de Angra encontra-se em São Jorge desde a passada sexta-feira, com uma agenda centrada nos jovens, nomeadamente na preparação do Crisma e na deslocação a Lisboa no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, que decorre na capital portuguesa de 1 a 6 de junho e que contará com a presença de 700 jovens açorianos, 20 dos quais de São Jorge.
O Santuário do Santo Cristo da Caldeira vive habitualmente a sua festa grande no primeiro domingo de setembro e, nessa ocasião reúne sobretudo jovens.
A lenda que deu origem ao culto conta que um pastor deixou o seu gado a pastar, descendo a uma lagoa onde apanhou lapas e ameijoas. Ao parar para descansar contemplou um objeto na água a flutuar e viu que era uma imagem em madeira do Senhor Santo Cristo. Surpreendido com o achado, pegou na imagem, molhada e inchada de estar na água, e levou-a para terra seca. Ao fim do dia, quando voltou para casa fora da Fajã, levou a imagem e colocou-a em local de destaque numa das melhores salas da sua casa. No outro dia de manhã a imagem tinha desaparecido. Depois de procurarem por toda a casa e de já terem dado as buscas por terminadas, ele foi de novo encontrado, dias depois, na mesma Fajã e local onde tinha sido encontrado da primeira vez. Foi levado várias vezes para o povoado fora da rocha, e durante a noite a imagem voltava sempre a desaparecer, até que alguém disse: “O Santo Cristo quer estar lá em baixo na Fajã à beira da caldeira, pois que assim seja”.
A Lenda da Caldeira de Santo Cristo é uma tradição da ilha de São Jorge e relaciona-se com as crenças populares numa terra onde a luta do homem com a natureza foi constante e onde, por séculos, as necessidades básicas do dia-a-dia foram prementes.