Bispo de Angra pede comunidades que sejam “o paraíso da disponibilidade”

Espírito de entreajuda e disponibilidade para o serviço são marcas que as comunidades cristãs jorgenses devem possuir

Foto: Igreja Açores/CR
Bispo de Angra na Igreja da Ribeira Seca, São Jorge

O Bispo de Angra desafiou os jorgenses, a partir da Ribeira Seca, em São Jorge, a fazer das comunidades mais pequenas o “paraíso da disponibilidade”.

“Falta gente na Igreja e em tantas associações para desempenhar tantas tarefas. Por isso, se queremos construir uma sociedade com a marca cristã temos de construir uma maior fraternidade e esta só se alcança se houver disponibilidade para o serviço, qualquer que ele seja. Nós temos de fazer das pequenas comunidades um paraíso da disponibilidade” disse D. Armando Esteves Domingues na homilia da Missa a que presidiu na Igreja de São Tiago Maior, na Ribeira Seca e que foi concelebrada pelos cinco sacerdotes da ilha.

“Quando for necessário servir arregacemos as mangas; as maravilhas de que nos fala o evangelho é tudo aquilo que fazemos juntos em prol do bem comum” salientou ainda referindo-se em especial, ao cuidado dos mais velhos e dos mais frágeis.

Neste terceiro dia da visita pastoral a São Jorge, o Bispo de Angra passou a tarde a visitar doentes de várias zonas da paróquia da Ribeira Seca, pessoas idosas que praticamente já não saem de casa e que estão acometidas de alguma enfermidade.

“Qual é a nossa atitude para com os mais velhos, os mais sábios e os doentes?” interpelou D. Armando Esteves Domingues na igreja.

“Infelizmente muitos deles estão em lares ou sozinhos, entregues por nós aos cuidados de pessoas especializadas e eles chorando a vergonha de terem familiares próximos que não os visitam. Não se esqueçam da importância e eficácia da cura do coração, aquela que é oposta à indiferença”, disse ainda numa celebração eucarística onde no final os novos membros do Conselho Económico da paróquia da Ribeira Seca tomaram posse, à semelhança do que aconteceu no domingo na paróquia da Urzelina onde tomou posse o novo Conselho Pastoral Paroquial.

Esta manhã o bispo de Angra percorreu vários lugares de culto desta paróquia. Começou no Loural, onde habitam 14 pessoas e onde a Igreja é mantida aberta por Pascoalina Azevedo, que cuida e guarda esta ermida que tem como padroeira Nossa Senhora do livramento.

Mais ao lado, na Fajã dos Vimes, onde em 1956 viviam 583 pessoas hoje vivem cerca de 50, apenas duas são crianças.

“A Fajã está muito fraquinha” dizia uma das senhoras que liderava a oração diante do Santíssimo Sacramento à chegada do bispo de Angra, ao final da manhã. Só há missa nesta igreja quinzenalmente, embora o templo esteja meticulosamente arranjado. O orago principal é São Sebastião mas é na Capela onde se encontra a imagem de Nossa Senhora do Carmo para onde se desviam as atenções principais. É a festa maior deste lugar da freguesia da Ribeira Seca, uma das maiores paróquias em território e lugares de culto da ilha de São Jorge.

A Fajã ganha mais vida durante o verão, mas mesmo assim não dispensa a vivência das suas tradições. É uma das Fajãs em São Jorge onde se cultiva café e, dizem os apreciadores, que é “especial”.  Tal como todos os lugares desta ilha, o problema da falta de pessoas e do envelhecimento populacional , constituem a maior preocupação dos que lá vivem. Toda a freguesia tem perdido habitantes e os que permanecem têm alguma dificuldade em se comprometer para além da organização das festas dos padroeiros e das Festas do Divino Espírito Santo.

Na visita à Filarmónica, ao fim da tarde, o lamento foi idêntico. A Filarmónica União popular da Ribeira Seca tem uma escola de música que forma agora 10 jovens, orgulhando-se de ter sido a responsável pela formação de todos os seus elementos. Existe há 170 anos, uma idade que faz dela a mais velha filarmónica açoriana dado que desde que foi criada até hoje nunca suspendeu a sua atividade.

As filarmónicas são “peças estruturantes” na vida açoriana permitindo a transmissão através da música da harmonia da criação.

“Em Deus tudo é harmonia e esta harmonia transmite-se a partir do belo e a música também é a expressão viva disso” afirmou D. Armando Esteves Domingues que foi recebido na sede da instituição pela sua direção. Na ilha existe 11 filarmónicas e quase todas centenárias. São Jorge deu ao mundo vários artistas, entre eles o compositor e maestro Francisco Lacerda, que viveu muitos anos em Paris e trocou a medicina pelo Conservatório Nacional e depois pelos grandes salões da capital Francesa.

 

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