D. João Lavrador presidiu à renovação das promessas sacerdotais do clero das ilhas de São Miguel e de Santa Maria, numa altura em que a pandemia volta a não dar tréguas na maior ilha do arquipélago. E pediu-lhes para serem os primeiros promotores da amizade social.
A renovação das promessas sacerdotais do clero da Vigararia Nascente (São Miguel e Santa Maria) já deveria ter acontecido segunda-feira da Semana Santa, mas a pandemia impediu que tal acontecesse e por isso esta sexta-feira a celebração decorreu em Ponta Delgada, na Igreja Matriz da São Sebastião e, apesar das dificuldades, D. João Lavrador desafiou os presbíteros a não serem conformistas.
“Estamos todos cansados e fustigados por esta pandemia que afectou fortemente as nossas vidas e as nossas comunidades. Pede-se-nos uma atenção privilegiada para os que vão ser as suas grandes vítimas” afirmou.
O bispo de Angra pediu, por isso, aos sacerdotes que estejam atentos e despertos às necessidades das comunidades cristãs.
“Ser-nos-á exigido muito trabalho e iniciativa pastoral para reanimar as nossas comunidades e as suas diversas actividades, mas sobretudo, teremos de estar atentos e capacitados para ajudarmos a renascer destas cinzas uma nova humanidade fermentada pelos valores do Evangelho”, afirmou.
“A única missão da Igreja é evangelizar, servindo a pessoa e a sociedade, despojada de si mesma e dando prioridade aos excluídos e aos pobres deste mundo, em permanente diálogo com mundo de cada época da história” concluiu D. João Lavrador.
“Este novo rosto da Igreja começa por nós que temos a obrigação de presidir às comunidades cristãs, dar-lhes testemunho evangélico na pobreza, castidade e obediência e no contexto do presbitério favorecermos um clima de comunhão e de unidade de tal modo que a sinodalidade seja palpável no nosso ser e no nosso agir”.
“Há em nós muitas resistências, ainda há muitos indícios do passado, estamos constantemente a ser tentados para vivermos e actuarmos à maneira do mundo, por isso, maior vigilância, humildade, caridade e mútuo apoio necessitamos de estabelecer entre nós” disse o bispo de Angra.
O prelado, que habitualmente preside a três momentos de renovação das promessas sacerdotais, durante a Semana Santa- em Ponta Delgada, na Horta e depois na Missa Crismal na Sé, na quarta-feira da Semana Santa- aproveitou esta oportunidade para recordar algumas questões que deveriam ter estado em debate esta semana no Conselho Presbiteral, que foi adiado devido também a difícil situação pandémica que a maior ilha açoriana ainda vive por estes dias. A partir do tema da caminhada sinodal, que se encontra no seu segundo ano e dirigindo-se aos sacerdotes, lembrou que também o clero foi interpelado “a uma revisão de vida pessoal, em presbitério” e a uma revisão “pastoral sobre o que a Igreja nos pede, tratando o perfil evangelizador do presbítero”.
“Estamos integrados na Igreja, somos presbíteros ao serviço da Igreja e como tal importa conformar a nossa vida e ministério às exigências da Igreja” lembrou destacando que essa revisão de vida assenta em três áreas da vida e do ministério de presbítero: o presbítero como o homem de Deus que vive uma profunda comunhão com Deus e, como tal, faz pensar em Deus; a sua identidade de homem de comunhão que a vive no presbitério e a edifica na comunidade cristã à qual preside e a terceira sublinha no ser e na missão do presbítero a sua pobreza pessoal e a sua identificação com os pobres.
“Não tenhamos a menor dúvida, a credibilidade mas também a alegria do nosso sacerdócio passarão por estes objectivos que constantemente devem merecer a nossa atenção e conversão”, destacou D. João Lavrador.
“A formação permanente que integre a reflexão pastoral, que valorize a dimensão intelectual, afectiva, corporal, humana e espiritual é fundamental e para a qual todos nos devemos sentir ávidos”, mas “é igualmente necessária a permanente adesão á oração, à oração da Igreja na liturgia das Horas, à vida sacramental, na frutuosa celebração da Eucaristia e no assíduo recorrer ao sacramento da reconciliação, ao estilo de vida simples, austero, no afinar os nossos critérios pelas Bem – aventuranças e em diálogo sincero e inter-ajuda no presbitério”.
Recuperando o discurso que o Papa Francisco dirigiu aos neo-sacerdotes, que ordenou em Roma, e passagens da encíclica Fratelli Tutti, D. João Lavrador desafiou os padres a serem os grandes impulsionadores de uma “sociedade de amizade”.
“Há algo de novo que está a surgir, não o vedes? Com esta expressão profética (Is. 43,19), somos chamados a desinstalarmo-nos, a despojar-nos das nossas autorreferências e, na liberdade de quem se entrega a Deus e aos irmãos, limparmos o nosso olhar para contemplar a novidade que Deus permanentemente nos oferece e com a qual nos interpela”, concluiu.
Apesar das dificuldades sanitárias que ainda persistem na ilha de São Miguel, que levaram, de resto, ao segundo adiamento do Conselho Presbiteral, em Ponta Delgada, a diocese está em festa com a ordenação sacerdotal de três diáconos, alunos do 6º ano do Seminário Episcopal, que decorrerá no domingo na Igreja de São José e será presidida pelo bispo de Angra.