Bispo de Angra pede aos peregrinos da Serreta para ouvirem os “gemidos dos pobres”

Foto: Igreja Açores/D. Armando Esteves Domingues

D. Armando Esteves Domingues aponta a necessidade de trabalhar por “estruturas sociais justas”, adquirir “a pedagogia da escuta” e ser “criativo nas políticas e nas respostas sociais”

A prioridade de qualquer batizado deve ser em prol dos pobres, criando estruturas e respostas sociais que mitiguem as desigualdades, afirmou esta tarde o bispo de Angra na homilia da Missa Solene em honra de Nossa Senhora dos Milagres, a evocação maior do Santuário Diocesano com o mesmo nome, na Serreta, ilha Terceira.

“O cristão vela para não deixar estabelecer distinções entre ricos e pobres e se tiver de oferecer um lugar importante, que seja ao pobre” afirmou D. Armando Esteves Domingues.

“É este o papel de cada batizado, profeta também ele: trabalhar por estruturas sociais justas, adquirir a pedagogia da escuta dos que sofrem, ser criativo a propor políticas e respostas aos gemidos dos pobres, denunciar injustiças e nunca desistir de escutar os gemidos dos pobres”, disse o prelado que presidiu pelo segundo ano consecutivo à Missa da festa que encerra as festas diocesanas de verão mais importantes e que remonta ao século XVII, ligada a vários momentos difíceis da história do arquipélago e de Portugal, com as comunidades a virarem a sua esperança para Maria.

O bispo de Angra desafiou os milhares de peregrinos- eram esperados mais de 15 mil nesta semana marcada pelas pregações do novenário– a saírem da sua zona de conforto e a partirem ao encontro dos mais pobres, lembrando que a fé se traduz em obras. Por isso, pediu aos presentes para não se “resignarem” no seu “pequeno mundo” e não “construam muros” que os separem ou defendam dos problemas. E, sublinhou que ter fé é “ir ao encontro do irmão”.

“Limitamo-nos à nossa zona de conforto, ao nosso pequeno jardim, aos nossos hábitos, onde a fé não é precisa para nada, pois nada altera. E depois temos a coragem de nos queixarmos de que Deus não se faz ouvir. Se fecharmos os olhos e os ouvidos, como é que ele o faz? Será que tem de deitar a porta abaixo?  Os pobres ensinam-nos a fé, porque a fé é uma coisa simples: é uma confiança, não uma lista de dogmas” interpelou o bispo de Angra que, fazendo-se peregrino deste Santuário, para onde milhares de pessoas dirigem as suas preces, especialmente neste fim-de-semana, também deixou algumas intenções durante a homilia.

“Senhor, ajuda-nos a escutar e a procurar sempre respostas para os gemidos dos nossos pobres!” afirmou.

“A oração feita com fé faz ver a obra futura já realizada, porque sabe que Deus realiza o que promete” afirmou o bispo de Angra lembrando que a  “fé nos enche de esperança” e “não nos deixa desistir de sonhar o mundo tal como Deus o pensou para nós”.

“Oxalá cada pessoa, na sua condição de vida, na sua profissão e trabalhos seja motivo de Esperança, seja uma esperança viva!” frisou o prelado diocesano, ao confiar os 490 anos da diocese que se completarão no próximo dia 3 de novembro, já a olhar para um percurso de 10 anos até aos 500 anos da diocese.

“A Maria peço a graça de nos dar a todos um espírito de escuta humilde e atitude dialogante para percebermos os rumos a dar a toda a comunidade açoriana. Peço ainda a graça de sabermos caminhar com todos os homens de boa vontade, até os de fé diferente ou sem fé, para percorrermos juntos os caminhos da paz e da esperança”, disse.

D.Armando Esteves Domingues confiou ainda “cada família, cada empenhado nas paróquias ou diocese, cada instituição, associação e serviço público”, a Maria.

“Confio-lhe os jovens e lembro-lhes que continuamos juntos para fazermos da Igreja de Cristo uma casa acolhedora, onde todos se sintam felizes. Que a alegria de Maria, nascida para nos dar Jesus, vos bata à porta!”, terminou.

Esta festa remonta ao período que Portugal se viu envolvido na guerra entre a França e a Espanha contra Inglaterra. Numa altura em que a Ilha Terceira não tinha qualquer tipo de fortificações e estava quase indefesa, a esperança das autoridades e das pessoas voltou-se para a intercessão de Nossa Senhora dos Milagres, cuja imagem estava colocada na igreja das Doze Ribeiras.

Ficou a promessa de que caso a ilha não sofresse qualquer investida inimiga, a comunidade iria promover uma festa anual em honra de Nossa Senhora, o que veio a acontecer.

A primeira celebração dedicada a Nossa Senhora dos Milagres aconteceu a 11 de setembro de 1764 mas esta devoção afirmou-se definitivamente a partir de 1842. A construção da igreja começou em 1819, liderada pelo general Francisco António de Araújo, e foi concluída em 1842.

 

 

 

Scroll to Top